Por esta altura, já estamos habituados aos resultados chocantes da insistência de Francisco em dizer coisas sem sentido aos jornalistas durante os voos de e para os destinos das inúteis viagens papais, que se tornaram uma atividade essencial do papado pós-Vaticano II. No meio de todas essas coisas absurdas, há também, todavia, observações, inadvertidamente reveladoras, que mostram a amplitude da crise-dentro-a-crise que é o pontificado bergogliano.
O exemplo mais recente foi a conferência de imprensa a bordo, no regresso a Roma, da viagem papal à Arménia. Uma observação muito esclarecedora surgiu no contexto da pergunta de um repórter sobre a recente declaração do importante assessor papal, o Cardeal Reinhard Marx, de que a Igreja deveria pedir desculpa aos “gays” pela forma como os tratou. Os “gays” foram adicionadas à lista daqueles a quem a Igreja deve pedir desculpas e “suplicar perdão” – o mea culpa sem fim que João Paulo II iniciou e agora parece ser perpétuo; estamos ainda longe de ouvir um único pedido de desculpas dos poderes deste mundo pelas suas ofensas contra os cristãos, incluindo pelas perseguições de estado e pelo genocídio de dezenas de milhões.
Francisco implicou-se por responder que a Igreja “não só deve pedir desculpas… a essa pessoa que é gay, que ofendeu, mas também deve pedir perdão aos pobres, às mulheres e às crianças exploradas no trabalho”. Pelo menos, e apesar de tudo, esclareceu que quando disse “a Igreja” queria dizer “cristãos. A igreja é santa. Nós somos os pecadores.”
Contudo, logo a seguir, fez outra observação muito reveladora: “Lembro-me, quando criança, da cultura católica fechada em Buenos Aires: não se podia entrar em casa de um casal divorciado. Estou a falar de há 80 anos atrás. A cultura mudou, graças a Deus.”
Em apenas uma frase elucidativa, Francisco revelou a profundidade da ameaça que o seu pontificado representa para a Igreja: “cultura católica fechada”. Francisco agradece a Deus porque “a cultura mudou”, no sentido de que divórcio e “recasamento” não é mais visto como uma forma de adultério que os católicos não toleravam através socialização nas casas de pessoas que coabitam em situação de adultério. Ele agradece a Deus por essa “cultura católica fechada” ter dado lugar a uma cultura onde divórcio e “recasamento” é aceite, na verdade, amplamente praticada pelos católicos.
No entanto, este é o mesmo Papa que organizou o “Sínodo da Família” destinado a refletir sobre “uma crise na família” resultante da mudança cultural pela qual Francisco agradece a Deus. Sendo assim, o Falso Sínodo foi, portanto, a tentativa de intimidar a Igreja a aceitar institucionalmente – ao que Francisco chama “integração” – do que o próprio Nosso Senhor denunciou como adultério.
Temos então um Papa que, levianamente, acumula desprezo por uma cultura na qual existe aversão instintiva pelo pecado público entre os simples fiéis, a qual condiciona a confraternização com as pessoas que ignoram os seus votos de casamento e se envolvem com outros parceiros para viver em pecado. Francisco dá graças a Deus por a cultura, no fundo, não ser mais católica.
Este é o Vigário de Cristo? Nunca em 2000 anos, nunca, mesmo durante os pontificados de Papas pessoalmente corruptos, vimos um homem como este na Cátedra de Pedro. Isto não é sequer uma questão de falsidade ou astúcia. Temos claramente, em Francisco, um Papa que, por incrível que pareça, não dá grande valor ao catolicismo, não se inibe de o dizer e parece alegremente inconsciente do paradoxo bem apocalíptico de um Papa anticatólico. Um Papa que, na sua profunda confusão, chama santa à Igreja, mas agradece a Deus por os católicos aceitarem agora uniões sexuais imorais.
Mais informações sobre esta perturbadora conferência de imprensa bergogliana (uma redundância, eu sei) na próxima coluna.
A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center no dia 30 de junho de 2016. Tradução: odogmadafe.wordpress.com
Nota da edição: o conteúdo do artigo acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original.
Basto 7/2016