A organização católica internacional Voice of the Family (Voz da Família), sediada em Londres e dedicada às causas pro-vida e pro-família, criticou a linguagem utilizada pelo Papa Francisco na sua mensagem do “dia pela vida”.

A mensagem em causa foi publicada no sítio do Vaticano. Na opinião da Voice of the Family, até tem palavras encorajadoras que incentivam a uma forte ação educacional “em favor da vida humana”, lembrando que “cada vida é sagrada”, porém recorre à mesma terminologia linguística utilizada por quem promove o aborto.

O recurso ao eufemismo “interrupção da gravidez”, próprio do lobby abortista, em vez dos termos que descrevem corretamente o assassínio de crianças antes de nascerem, foi veemente condenado pelo Papa João Paulo II.
Vossos olhos contemplaram-me ainda em embrião » (Sal 139 138, 16): o crime abominável do aborto
58. Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e abjurável. O Concílio Vaticano II define-o, juntamente com o infanticídio, «crime abominável». [54]
Mas hoje, a percepção da sua gravidade vai-se obscurecendo progressivamente em muitas consciências. A aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei, é sinal eloquente de uma perigosíssima crise do sentido moral que se torna cada vez mais incapaz de distinguir o bem do mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental à vida. Diante de tão grave situação, impõe-se mais que nunca a coragem de olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a compromissos com o que nos é mais cómodo, nem à tentação de auto-engano. A propósito disto, ressoa categórica a censura do Profeta: « Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que têm as trevas por luz e a luz por trevas » (Is 5, 20). Precisamente no caso do aborto, verifica-se a difusão de uma terminologia ambígua, como «interrupção da gravidez», que tende a esconder a verdadeira natureza dele e a atenuar a sua gravidade na opinião pública. Talvez este fenómeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um mal-estar das consciências. Mas nenhuma palavra basta para alterar a realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e directa, independentemente da forma como venha realizada, de um ser humano na fase inicial da sua existência, que vai da concepção ao nascimento.
(João Paulo II na Carta Encíclica Evangelium Vitae, 25 de Março de 1995)
Estamos aqui, uma vez mais, perante as ambiguidades incompreensíveis que caracterizam o pontificado de Francisco. Ora aparece a enviar mensagens de condenação do aborto, ora aparece a falar a mesma linguagem ou até a elogiar aqueles que o promovem.
No ano passado, por esta altura, rasgou-se em elogios à ex-ministra italiana Emma Bonino, uma das maiores promotoras mundiais da legalização do aborto.

“Entre os grandes da Itália de hoje estão Giorgio Napolitano e Emma Bonino.”
“É preciso olhar para as pessoas, para aquilo que elas fazem.“
(Declarações do Papa Francisco a 08 de fevereiro de 2016 in Jornal do Brasil de 09/02/2016)
Georgio Napolitano é um político, ex-comunista, presidente da República Italiana de 2006 a 2015.
Emma Bonino é uma política italiana de esquerda, defensora do aborto, da eutanásia, da esterilização, da legalização de drogas e de outras obscenidades caraterísticas das ideologias radicais. É mundialmente conhecida como uma das maiores promotoras da liberalização do aborto. Nos anos 70, quando o aborto era ainda considerado crime em Itália, ela ensinava publicamente as mulheres a realizar abortos com recurso a uma simples bomba de encher pneus de bicicleta.

Um “crime abominável“. Nem é necessário saber a doutrina católica para poder reconhecê-lo.
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Basto 2/2017