Há um ano, neste dia, 14 de novembro de 2016, quatro cardeais deram o passo formal de publicar um conjunto de cinco dubia – perguntas sobre proposições teológicas duvidosas – que dirigiram diretamente ao Papa Francisco dois meses antes. Os dubia dizem respeito às diretrizes pastorais para os católicos divorciados “recasados ” que vivem more uxorio (envolvidos em relações sexuais), como delineado no magnum opus papal de 264 páginas e quase 60.000 palavras, a exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia (AL). Hoje, depois de um ano de esforços sem uma única resposta ou audiência concedida – um ano em que dois dos quatro cardeais dos dubia morreram – o cardeal Burke referiu numa nova entrevista que o silêncio do Papa é uma resposta insuficiente à grave confusão e preocupação que a sua exortação causou.
Numa entrevista dada, a 14 de novembro, ao National Catholic Register, o Cardeal Burke fez um “último apelo” ao Papa Francisco, mencionando a “cada vez pior” situação que se seguiu posteriormente à exortação.
Burke diz que a preocupação dos cardeais dos dubia sempre foi a de “determinar com precisão o que o Papa queria ensinar como Sucessor de Pedro” e reiterou a sua análise inicial do documento, dizendo que “pela sua própria natureza, afirmações que não têm essa clareza não podem ser qualificadas como expressões do magistério”. Burke continua:
É evidente que algumas das indicações da Amoris Laetitia sobre aspetos essenciais da fé e da prática da vida cristã receberam várias interpretações divergentes e às vezes incompatíveis entre si. Este facto incontestável confirma que essas indicações são ambivalentes, permitindo uma variedade de leituras, muitas das quais estão em contradição com a doutrina católica. As questões que nós cardeais levantámos dizem respeito ao que o Santo Padre ensinou exatamente e como o seu ensino se harmoniza com o depósito da fé, dado que o magistério “não está acima da palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a guarda religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado. “(Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, nº 10).
Referindo-se aparentemente à análise do professor Josef Seifert de que a consequência lógica da aplicação de certos princípios sugeridos na AL seria uma destruição de todo o edifício do ensinamento moral católico, Burke disse que “para entender o alcance dessas mudanças propostas, basta pensar no que aconteceria se esse raciocínio fosse aplicado a outros casos, como o de um médico que realizava abortos, de um político pertencente a uma rede de corrupção, de uma pessoa que sofre e decide pedir o suicídio assistido…”
Ao dizer que o “sentido da prática sacramental eclesial está cada vez mais em erosão na Igreja”, Burke admitiu que estava a fazer, como o entrevistador Edward Pentin lhe perguntou, um “apelo final” ao Papa, talvez dando a entender que o próximo passo não seria simplesmente outro aviso:
Sim, por estas graves razões, um ano depois de publicar os dubia, volto-me novamente para o Santo Padre e para toda a Igreja, enfatizando o quão urgente é que, no exercício do ministério que recebeu do Senhor, o Papa deva confirmar os seus irmãos na fé com uma expressão clara do ensinamento sobre a moral cristã e o significado da prática sacramental da Igreja.
Desde a sua publicação em abril de 2016, como uma reflexão dos dois sínodos sobre o casamento e a família realizados em 2014 e 2015, respetivamente, a AL provocou mais controvérsia entre teólogos, bispos e pastores do que qualquer outra ação papal existente na nossa memória.
Muitos marcos aconteceram desde que a AL se estreou publicamente no ano passado – são demais para contar. Entre os mais significativos, por ordem cronológica:
- A 29 de junho de 2016, um grupo internacional de 45 teólogos, pastores e académicos católicos emitiu uma carta e uma análise teológica ao colégio de cardeais acerca da Amoris Laetitia. Os signatários descreveram 19 censuras teológicas – 11 das quais foram rotuladas como heréticas – com base numa “leitura natural” da AL. Em 26 de julho de 2016, o seu documento e a carta com suas assinaturas foram publicados depois de serem divulgados à imprensa, presumivelmente por um dos destinatários.
- A 19 de setembro de 2016 – dez dias após a carta do Papa que apoiava a sacrílega interpretação da Amoris Laetitia dos bispos da região de Buenos Aires – quatro cardeais católicos – Walter Brandmüller, Raymond Burke, Carlo Caffarra e Joachim Meisner – enviaram uma carta ao Papa referindo “a grave desorientação e a grande confusão de muitos fiéis em questões extremamente importantes para a vida da Igreja”. A carta incluiu cinco dubia – o procedimento formal pelo qual teólogos e prelados podem pedir a Roma esclarecimentos sobre questões relativas ao ensinamento da Igreja.
- Em 14 de novembro de 2016, depois de não terem recebido resposta papal, os quatro “cardeais dos dubia” publicaram a sua carta, incluindo os cinco dubia referentes às várias proposições da Amoris Laetitia.
- Em 7 de dezembro de 2016, o bispo Athanasius Schneider de Astana, Cazaquistão, – uma das vozes ortodoxas mais abertas na Igreja – afirmou numa entrevista a uma estação de televisão francesa que, se os dubia permanecessem sem resposta, haveria “não só um risco de cisma” mas que “existe já um certo tipo de cisma na Igreja”. “Estamos hoje a testemunhar”, afirmou o bispo Schneider, “uma forma bizarra de cisma. Externamente, numerosos clérigos salvaguardam a unidade formal com o Papa, às vezes pelo bem das suas próprias carreiras ou por uma espécie de papolatria. Simultaneamente, quebraram laços com Cristo, a Verdade, e com Cristo, o verdadeiro Chefe da Igreja”.
- Em 13 de dezembro de 2016, eu delineei as cinco respostas simples de uma palavra que poderiam pôr fim à controvérsia dos dubia de uma vez por todas.
- Em 19 de dezembro de 2016, o cardeal Burke – o cardeal dos dubia com maior destaque no mundo anglófono – disse numa entrevista com Lisa Bourne, do Life Site News, que os dubia “precisam de obter uma resposta porque têm a ver com os próprios fundamentos da vida moral e o ensinamento constante da Igreja em relação ao bem e ao mal”. Questionado sobre o calendário para uma eventual “correção formal” ao Papa na ausência de uma resposta aos dubia, Burke indicou que, se tal ação for necessária, provavelmente ocorreria algum tempo depois da Epifania, em 2017.
- Também em 19 de dezembro de 2016, o cardeal Burke explicou, numa entrevista ao Catholic World Report, que havia uma base bíblica para corrigir um Papa (Gal 2:11) e indicou que existiam mais prelados do que os quatro cardeais que apoiavam os dubia. Quando perguntado se era possível para o Papa “separar-se da comunhão com a Igreja” por “cisma ou heresia”, Burke respondeu: “Se um Papa professasse formalmente heresia, ele deixaria, por esse ato, de ser o Papa. É automático. Então isso poderia acontecer.”
- Em 24 de dezembro de 2016, o importante jornal alemão Der Spiegel publicou um artigo em que se afirmava que, entre um “círculo muito pequeno” de pessoas próximas ao Papa, Francisco explicou que era possível ele “entrar na história como aquele que dividiu a Igreja Católica”.
- Em 11 de janeiro de 2017, John F. Salza, coautor do livro “Verdadeiro ou Falso Papa”, delineou, num artigo para o The Remnant (mais tarde republicado no 1P5), o que poderia acontecer, juridicamente falando, se o Papa Francisco continuasse a recusar responder aos dubia.
- Em 17 de janeiro de 2017, três dos bispos do Cazaqusitão – Tomash Peta, arcebispo metropolitano da arquidiocese de Santa Maria de Astana, Jan Pawel Lenga, arcebispo-bispo emérito de Karaganda e Athanasius Schneider, bispo auxiliar da arquidiocese de Santa Maria de Astana – emitiu uma declaração conjunta solicitando orações aos fiéis para que o Papa Francisco “confirmasse a práxis imutável da Igreja em relação à verdade sobre a indissolubilidade do casamento”. Os bispos deram exemplos específicos de como a Amoris Laetitia contém “diretrizes pastorais” que contradizem “na prática” certas “verdades e doutrinas que a Igreja Católica continuamente ensinou como sendo seguras”.
- Em 25 de março de 2017, o Cardeal Burke deu uma palestra numa paróquia em Springfield, na Virgínia, na qual falou sobre a disseminação de uma “confusão muito prejudicial na Igreja” e a necessidade de resposta aos dubia. Questionado sobre o que aconteceria se o Papa não respondesse, o cardeal Burke respondeu: “simplesmente teremos que corrigir novamente a situação, de forma respeitosa […] traçar a resposta às questões [dubia] a partir dos ensinamentos constantes da Igreja e dá-las a conhecer para o bem das almas”.
- Em 8 de junho de 2017, a Conferência Episcopal da Polónia completou a sua assembleia geral, depois da qual o seu porta-voz, Pawel Rytel-Andrianik, disse que “o ensinamento da Igreja em relação à Sagrada Comunhão para as pessoas que vivem em relações não sacramentais” não mudou “após o documento papal Amoris Laetitia“.
- Em 19 de junho de 2017, o veterano vaticanista Sandro Magister publicou uma carta do cardeal dos dubia Carlo Caffarra, escrita em 25 de abril de 2017, na qual pedia “que fosse concedida uma audiência papal para que pudessem discutir os dubia que ainda não foram respondidos.” À data da publicação da carta já tinham passado dois meses sem, novamente, qualquer resposta do Papa ao pedido de audiência.
- Em 5 de julho de 2017, o cardeal Joachim Meisner, um dos quatro cardeais dos dubia, faleceu durante as férias em Bad Füssing, na Alemanha, aos 83 anos. No momento da sua morte, ainda não havia resposta ao pedido de audiência solicitado. Numa mensagem lida no funeral de Meisner, o Papa Emérito Bento XVI lembrou aos que lamentavam o seu amigo que “O Senhor não abandona a Igreja”.
- Em 31 de agosto de 2017, o eminente filósofo católico austríaco, o professor Josef Seifert, foi forçosamente “aposentado”, pelo seu arcebispo, da sua posição na cadeira de Dietrich von Hildebrand, da Academia Internacional de Filosofia de Granada, Espanha, em resposta à sua segunda crítica à Amoris Laetitia. Académicos católicos e até mesmo um bispo reagiram imediatamente à injustiça desta ação.
- Em 6 de setembro de 2017, quase dois meses depois da morte do cardeal Meisner, o cardeal Carlo Caffarra, outro dos quatro cardeais dos dubia, faleceu aos 79 anos. Nenhuma mensagem do Papa Emérito foi lida no funeral de Caffarra.
- Em 12 de setembro de 2017, Gabriel Ariza, da publicação de língua espanhola Infovaticana, revelou que o falecido Cardeal Caffarra havia confirmado, poucos meses antes de sua morte, que sabia que os cardeais dos dubia estavam a ser “vigiados” e que eles “tinham suas comunicações sob escuta” e que podiam “fazer pouco mais do que procurar alguma forma de comunicação mais segura”.
- Em 27 de setembro de 2017, um grupo de clérigos católicos e académicos leigos tornaram pública uma “Correção Filial” que fora entregue primeiramente ao Papa no dia 11 de agosto, depois do que, também eles, não receberam resposta. A sua carta deu um passo sem precedentes ao usar a palavra “heresia” em referência não apenas a possíveis interpretações da exortação apostólica Amoris Laetitia, mas também a outras “palavras, ações e omissões” recentes do Papa. Desde a sua publicação, a lista de clérigos e académicos signatários cresceu para 250, enquanto duas petições (aqui e aqui) de apoio à Correção Filial obtiveram mais de 20 mil assinaturas adicionais de leigos.
- Em 29 de setembro de 2017, o cardeal Gerhard Müller, antigo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, afirmou, numa entrevista com Edward Pentin, que “as pessoas que trabalham na Cúria vivem com grande medo: se eles proferem uma crítica pequena ou inofensiva, alguns espiões passarão os comentários diretamente ao Santo Padre e as pessoas, falsamente acusadas, não têm possibilidade de defesa.” Quando perguntado por Pentin sobre a expressão “reino de terror”, que havia sido usada por um respeitável elemento da Igreja, Müller respondeu: “Acontece o mesmo em algumas faculdades teológicas – se alguém tiver alguma observação ou pergunta sobre Amoris Laetitia, serão expulsos e outras coisas mais.”
- No dia 1 de novembro, o Pe. Thomas Weinandy – um frade capuchinho que antes exercera como chefe de gabinete do Comité de Doutrina dos Bispos dos EUA, sendo também atualmente membro da Comissão Teológica Internacional no Vaticano, publicou uma carta que enviou ao Papa – que também não recebeu nenhuma resposta – descrevendo as preocupações que teve a respeito da “confusão crónica” que ele acredita que marca “este pontificado”. A primeira das suas cinco críticas foi dirigida à Amoris Laetitia, sobre a qual ele afirma que a orientação do Papa às vezes parece intencionalmente ambígua, convidando a uma interpretação tradicional do ensino católico sobre casamento e divórcio, bem como a uma que possa implicar uma mudança nesse ensinamento.” Ele falou mais tarde de um clima de medo na Igreja, dizendo que “muitos temem que se dizem o que pensam” no que concerne à preocupação sobre o que está a acontecer na Igreja, “eles serão marginalizados ou pior”. Após a publicação da sua carta, ficou provado que o Pe. Weinandy estava correto quando foi convidado a renunciar à sua posição na Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos – um pedido com o qual ele cumpriu.
A ausência de uma correção formal em outubro – marcando o 100º aniversário da última aparição de Fátima – deixou muitos católicos a questionar se a ação será mesmo tomada. A revelação de hoje deixa, no entanto, claro que o esforço dos dubia – bem como a correção formal que necessariamente deverá dar-lhe seguimento – está no caminho e em andamento.
A edição original deste texto foi publicada pelo One Peter Five a 14 de novembro de 2017. Tradução: odogmadafe.wordpress.com
Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original.
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Basto 11/2017
Pareceria que as correções deveriam ter começado há bem mais tempo quando se teriam detectados os primenros ensinamentos que não corresponderiam ao que sempre foi aceito na Igreja, constantes em *”um ano de pontificado, um ano de confusão” e talvez não se teria chegado a esse ponto atual de tantos pronunciamentos que deixariam dúvidas ou apreensões como “Ninguém pode ser condenado para sempre pois essa não é a lógica do Evangelho” dentre mais.
*http://www.padremarcelotenorio.com/2014/03/um-ano-de-pontificado-um-ano-de-confusao/
A lógica do Evangelho é mesmo a de alertar para o risco da condenação eterna.
Convenhamos que proceder à correção formal de um Papa não deve ser uma atitude fácil de se tomar.
Carta do Cardeal Muller de 23/10/2013 sobre esta questão, está bem estruturada e fundamentada, explicando bem qual é a posição da Igreja. É interessante o facto de apesar de ser bastante anterior à Amoris Laetitia parece uma resposta a ela:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/muller/rc_con_cfaith_20131023_divorziati-risposati-sacramenti_po.html
“Um profeta tíbio procura na adequação ao espírito dos tempos a sua própria salvação, mas não a salvação do mundo em Jesus Cristo.”
“Uma ulterior tendência a favor da admissão dos divorciados recasados aos sacramentos é a que invoca o argumento da misericórdia. Dado que o próprio Jesus solidarizou com os sofredores doando-lhes o seu amor misericordioso, a misericórdia seria por conseguinte um sinal especial da autêntica sequela. Isto é verdade, mas é um argumento débil em matéria teológico-sacramentária, também porque toda a ordem sacramental é precisamente obra da misericórdia divina e não pode ser revogada invocando o mesmo princípio que a sustém. Através daquela que objectivamente ressoa como uma falsa invocação da misericórdia incorre-se no risco da banalização da própria imagem de Deus, segundo a qual Deus mais não poderia fazer do que perdoar. Pertencem ao mistério de Deus, além da misericórdia, também a santidade e a justiça; se se escondem estes atributos de Deus e não se leva seriamente a realidade do pecado, não se pode nem sequer mediar às pessoas a sua misericórdia.”
E do sínodo de 2012:
http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20121026_message-synod_po.html
“multiplicam-se situações familiares irregulares construídas depois da falência de precedentes matrimónios: vicissitudes dolorosas nas quais sofre também a educação dos filhos na fé. A todos eles queremos dizer que o amor do Senhor nunca abandona ninguém, que também a Igreja os ama e é casa acolhedora para todos, que eles permanecem membros da Igreja mesmo se não podem receber a absolvição sacramental e a Eucaristia.”
“Mas é importante também para o testemunho da Igreja mostrar como esta vida no tempo tem um cumprimento que vai além da história dos homens e alcança a comunhão eterna com Deus. À mulher samaritana Jesus não se apresenta simplesmente como aquele que dá a vida, mas como aquele que dá a «vida eterna» (Jo 4, 14). O dom de Deus, que a fé torna presente, não é simplesmente a promessa de condições melhores neste mundo, mas o anúncio que o sentido último da nossa vida está além deste mundo, naquela comunhão plena com Deus que esperamos no fim dos tempos.”
Há quatro anos atrás ninguém tinha dúvidas nesta matéria, como ninguém tinha há 50 e há 500 e há 2000 anos atrás. Se hoje hoje há quem tenha dúvidas nesta matéria, convém perceber onde é que essas dúvidas começaram.
Estamos a falar de coisas muito simples e elementares da nossa Fé. Quem tiver dúvidas numa matéria tão básica como esta terá sérias dificuldades em lidar com todos os outros relativismos que neste momento atacam a nossa Fé e com os que estão para aparecer.
Pois é, a questão dos recasados é apenas um sintoma de algo mais profundo.
A meu ver o problema vem do modernismo que altera a relação que se tem com Deus.
Em vez de aderirmos e termos Fé na Verdade que Deus revelou passamos apenas a ter um sentimento.
Em vez de nos relacionarmos com o natural e o sobrenatural tudo se fica pelo natural.
É quase como a diferença de a um orfão lhe apresentarem o pai verdadeiro ou apresentarem uma ideia/sentimento de ter um pai.
A uma criança ensinamos a ler e a escrever porque é fundamental e não porque é uma mais valia que a vai beneficiar. Às crianças mostramos Deus como uma mais valia em vez de ser algo fundamental.
Partindo do princípio errado, relativizando a Verdade e tornando-a dependente do sentimento e expressão de cada um relativiza-se tudo o resto, criando-se mesmo uma ideia subjectiva de Deus.
Como tudo inicia de dentro de cada um o fim a que se destina não vai muito mais longe, pois entretanto acabou-se com o sobrenatural, daqui chega-se à Esperança apenas num mundo melhor e à Caridade como fraternidade entre os Homens.
O Homem como princípio também será o fim, tornando-se muito estranha qualquer ideia ou acto que tenha apenas Deus como princípio e fim, assim a Santa Missa em vez de ser oferecimento a Deus tem de passar a ser comunhão da comunidade, a Eucaristia em vez de ser o Homem que se eleva para estar em comunhão com Deus (mortos para o pecado, tendes a vida em Deus como diz São Paulo) é apenas Deus que nos vem dar o alimento espiritual para nos ajudar neste mundo (ideia condenada em João 6,26).
Depois chegamos aos sintomas e contradições, enquanto se fala muito de misericórdia não se fala de pecado, inferno, purgatório e Céu, o que leva à anulação da misericórdia.
Na Santa Missa como se perde a relação sobrenatural do Céu e da Terra que se unem, Cristo no Altar no oferecimento a Deus, é necessário colocar no santuário faixas com frases e palavras que puxem por nós e nos transmitam algo mais do que estarmos apenas ali em comunhão da comunidade.
Aos jovens como não se ensina que a vida em Cristo é uma nova vida unida a Deus abandonando o pecado a forma que sobra para os cativar é fazer tudo em clima de festa, com muita animação e alegria.
O sentir-se à parte apenas por não poder comungar é esquecer que o pecado é que separa e que o problema é não estar em comunhão com Deus e com a Verdade que nos revelou.
Aqui existem duas boas explicações:
http://adelantelafe.com/la-tradicion-aplasta-al-modernismo-compendio-todas-las-herejias/
http://adelantelafe.com/atrapados-en-el-modernismo/
Estamos em tempos de apostasia Francisco. E o maior problema é que a apostasia (seja ela ativa ou silenciosa) nunca é reconhecida por aqueles que fazem parte dela. Aos seus olhos, os outros são sempre exagerados, anacrónicos, fundamentalistas, rigoristas, etc… É, no fundo, o grande castigo de Deus, permitir aos homens que se enganem porque têm vontade de ser enganados!
É por isso que o farol para esta época está no Imaculado Coração de Maria. Por mais imperfeitos que sejam os nossos modernos pastores, ao nível dos seus ensinamentos doutrinais e pastorais, temos sempre um exemplo seguro que podemos seguir. Seguro porque é a perfeição total, é imaculado.
Todas as novas doutrinas e práticas pastorais que invadiram a Igreja devem ser avaliadas na sua validade na mediada que que se aproximam ou afastam do exemplo de Maria, a Imaculada. O seu sim foi total e incondicional, imune a qualquer forma de relativismo humano ou próprio de uma determinada época.