
Por Sandro Magister
ROMA, 19 de janeiro, 2017 (Settimo Cielo – L’Espresso) – As dos bispos de Malta são as mais recentes das instruções que alguns bispos têm dado nas suas dioceses sobre a forma de interpretar e implementar a Amoris Letitia.
Instruções que muitas vezes se contradizem, de modo que numa diocese a comunhão para os divorciados recasados que vivem more uxorio é permitida, enquanto noutra diocese, talvez até mesmo numa vizinha, não é.
Mas há mais. Acontece mesmo que em algumas dioceses o “sim” e o “não” são oficialmente permitidos, os dois juntos.
É o caso, por exemplo, da Arquidiocese de Florença.
Aqui o arcebispo, o cardeal Giuseppe Betori, iniciou um “perurso de formação diocesano” para instruir sacerdotes e fiéis sobre a interpretação correta da Amoris Laetitia.
Na primeira etapa da formação, no dia 8 de outubro passado, para uma introdução geral ao documento do Papa Francisco, Betori trouxe o cardeal Ennio Antonelli, seu predecessor como arcebispo de Florença e então presidente, de 2008 a 2012, do Pontifício Conselho para a Família, uma autoridade na matéria.
Antonelli estabeleceu instruções em perfeita continuidade com o magistério dos papas anteriores e, portanto, descartou a comunhão para os divorciados e recasados que vivem more uxorio. E manteve esta firme proibição apesar de, alguns dias antes, na diocese de Roma, o cardeal vigário Agostino Vallini ter dado o sinal verde para a comunhão com a aprovação de Francisco:
Depois disto, uma vez por mês, Betori traz outros oradores para explicar, um após o outro, os vários capítulos da Amoris Laetitia.
Mas a quem deverá ser confiada, a 25 de março, a tarefa de estabelecer as diretrizes para a interpretação do oitavo capítulo, o mais controverso?
Ao monsenhor Basílio Petrà, presidente dos teólogos moralistas italianos, que é um dos mais fervorosos defensores da abertura da comunhão aos divorciados recasados.
Num extenso comentário sobre a exortação sinodal publicada em abril passado na revista “Il Regno“, Petrà até declarou “desnecessário” consultar um sacerdote e o foro interno sacramental, ou seja, a confissão, para “discernir” se uma pessoa divorciada que voltou a casar pode receber a comunhão.
Escreveu o seguinte:
“De facto, é possível que uma pessoa não tenha a consciência moral adequada e/ou não tenha a liberdade de agir de forma diferente e que, apesar de fazer algo considerado objetivamente grave, pode não estar cometendo um pecado grave no sentido moral e, portanto, não tem o dever confessar-se para receber a Eucaristia. A Amoris Laetitia, no nº 301, alude claramente a esta doutrina.”
É como dizer: toda a gente é livre de agir por si mesmo, seja ele “iluminado” ou inconsciente.
O dia 25 de março está apenas a dois meses de distância. E até lá, por enquanto, tanto para os clérigos como para os fiéis, o que deve continuar a ser aplicado é o “não” ditado e fundamentado pelo cardeal Antonelli.
Mas depois de 25 de março, o “sim” terá também valor oficial. Na mesma diocese. E depois fica-se surpreendido quando surgem os “dubia” sobre a claridade da Amoris Laetitia?
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Basto 1/2017