
Por Claire Chretien
PARRAMATTA, Austrália, 22 de setembro, 2017 (LifeSiteNews) – Morreram dois dos quatro cardeais dos dubia que buscavam clareza moral junto do Papa Francisco a respeito dos seus controversos ensinamentos sobre o casamento e a família. Isso, contudo, não impedirá os restantes dois cardeais de continuarem o “importante trabalho de resolução dos dubia“, afirmou o cardeal Raymond Burke, um dos signatários dos dubia, em nova entrevista.
Numa ampla entrevista ao Catholic Outlook da diocese católica de Parramatta, Burke disse que “a urgência de uma resposta aos dubia deriva do dano causado às almas pela confusão e pelo erro que se produz enquanto as questões fundamentais levantadas não são respondidas de acordo com o constante ensino e prática da Igreja”.
Essa urgência “pesa muito no meu coração”, afirmou.
A confusão acerca da Amoris Laetitia levou as pessoas a “sentir que a Igreja não é um ponto de referência seguro”, disse Burke.
“Não há clareza sobre esses assuntos”, disse ele. “Essas pessoas estão numa situação muito complicada. É demonstrável, é um facto que temos conferências episcopais que se contradizem a respeito da Amoris Laetitia, os Bispos contradizem-se; temos fiéis leigos que discutem uns com os outros sobre isso; e tantos sacerdotes sofrem particularmente porque os fiéis chegam até eles à espera de certas coisas que não são possíveis, isto porque receberam uma dessas interpretações erróneas da Amoris Laetitia. Como resultado, deixam de entender o ensinamento da Igreja”.
“Sabemos que na Igreja temos apenas um guia, o Magistério, o ensinamento da Igreja, mas agora parecemos estar divididos entre os chamados campos políticos”, explicou Burke. “Além disso, mesmo a linguagem utilizada é muito mundana e isso preocupa-me muito.”
Burke, um dos mais firmes defensores da ortodoxia católica, disse que a Igreja pode dar “rumo” e conduzir à transformação cultural “em termos de respeito pela vida humana, respeito pela integridade da família e respeito pela liberdade religiosa”.
Burke sente a perda dos irmãos cardeais
Ele expressou ainda a sua tristeza pela perda de dois dos quatro signatários dos dubia, nomeadamente os cardeais Joachim Meisner e Carlo Caffarra. Dos quatro, apenas ele e o cardeal Walter Brandmüller continuam vivos.
Contou que Caffarra “sofreu profundamente” porque “a confusão e o erro na Igreja conduziram a graves prejuízos para as almas”.
“Ao longo dos anos fui abençoado pela amizade do cardeal Carlo Caffarra, um excelente sacerdote e um académico em teologia do casamento e da vida familiar altamente conceituado”, afirmou Burke. “Durante os últimos três anos, trabalhei muito de perto com ele na defesa do casamento e da vida familiar face a uma crescente confusão e até mesmo erro, os quais entraram também na Igreja”.
“Em todos os encontros com o cardeal Caffarra fiquei impressionado com sua pureza de coração e com seu caráter totalmente sacerdotal”, continuou Burke. “Ele amava Cristo e o Seu Corpo Místico, a Igreja, com todo o seu coração. Por essa razão, sofreu profundamente pelo facto de que a atual situação de “confusão e erro na Igreja conduziram a graves prejuízos para as almas”.
No entanto, Caffarra “nunca questionou a presença de Nosso Senhor connosco, de acordo com a Sua promessa aos discípulos, e nunca questionou a intercessão maternal da Virgem Mãe de Nosso Senhor”.
“Enquanto estamos tristes por perder a colaboração terrena desses dois grandes pastores e prelados, estamos certos de que eles continuarão a ajudar-nos com as suas orações inspiradas na sua caridade pastoral duradoura”, assegurou Burke.
Os liberais da Igreja “fazem ataques pessoais” enquanto apelam ao “diálogo”
Burke explicou que é muitas vezes mal retratado pelos média que o apresentam fundamentalmente em oposição ao Papa.
“Retratam o Papa Francisco como uma pessoa maravilhosa e aberta e não há nada de errado com isso, mas descrevem-me como o oposto”, disse Burke. “Eu acredito que qualquer pessoa que tenha tido alguma experiência comigo enquanto sacerdote ou bispo diria que sou muito pastoral e, de facto, não vejo nenhuma contradição entre ser pastoral e ser fiel no anúncio dos ensinamentos da Igreja e no cumprimento das leis da Igreja.”
“Eles fazem uma caricatura de alguém que pede clareza sobre certos assuntos, dizem “bem, ele é o inimigo do Papa” e está a tentar construir uma oposição ao Papa, o que, de todo, não é o caso, como é evidente“, disse Burke.
Burke criticou a tendência dos progressistas da Igreja que atacam pessoalmente qualquer pessoa que discorde deles enquanto fingem que são a favor do “diálogo”.
“Aquilo que me apercebo constantemente é que os ditos liberais, as pessoas que incitam à revolução na Igreja e tudo o mais, são liberais e querem diálogo mas só enquanto concordamos com eles”, disse Burke. “A partir do momento em que colocamos uma questão, eles tornam-se muito arrogantes, fazem ataques pessoais, aquilo a que chamamos argumentos de ad hominem, entre outras coisas. Isso realmente não é útil. Estamos a falar de verdades, estamos a falar de factos e devemos evitar esses tipos de ataques”.
“É um modo muito mundano de tratar as coisas, o qual não deve existir na Igreja, mas é aí que estamos neste momento”, disse ele. “As pessoas até fazem comentários depreciativos sobre outras pessoas quando não concordam com elas”.
“Bem, refiro-me a: «O que é que eu dise que não é verdade?» E eu respondo a isso”, continuou o cardeal. “Se me acusarem simplesmente de estar «fora de tom», «fora de contacto», ou seja o que for, «medieval», ou iludido, não há resposta para isso”.
Burke disse que reza pelos cardeais e outros na Igreja que o atacam.
“Eles são cardeais da Igreja” e em “posições de enorme responsabilidade”, afirmou. “Tenho também uma certa fraternidade com eles como membros do mesmo Colégio, o Colégio dos Cardeais, portanto nem é preciso dizer” que rezo por eles.
Esperança em Nosso Senhor
Burke encorajou os católicos a nunca desistirem da esperança, “independentemente de qualquer confusão ou mesmo divisões que entrem na Igreja”.
“Devemo-nos agarrar de forma mais fiel ao que a Igreja sempre ensinou e praticou”, disse o cardeal. “E assim iremos realmente salvar as nossas próprias almas, com a ajuda da graça de Deus, da qual, obviamente, nos devemos sempre aproximar.”
“Nosso Senhor está sempre connosco na Igreja”, continuou ele. “Ele é o nosso principal sacerdote e guia, portanto devemos ter confiança em seguir uma vida cristã. Devemos ter esperança Nele”.
Nota da edição: o conteúdo do artigo acima é da inteira responsabilidade da sua autora, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original.
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Basto 9/2017