Será o Papa mesmo infalível?

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Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» (Mt 16, 18-19)

É claro que o Papa é infalível. É infalível quando fala ex cathedra, a partir da Cadeira de São Pedro, em nome de Deus.

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São Pedro – Vasco Fernandes, 1506

A infalibilidade papal é um dogma da Igreja Católica, portanto incontestável e irrevogável, uma verdade de Fé da qual depende a nossa salvação. A infalibilidade papal foi declarada dogma através da constituição dogmática Pastor Aeternus, promulgada pelo Papa Pio IX, a 18 de julho de 1870, durante o Concílio Vaticano I.

Definição dogmática da Infalibilidade Papal:

O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando no exercício de seu ofício de pastor e mestre de todos os cristãos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina de fé ou costumes que deve ser sustentada por toda a Igreja, possui, pela assistência divina que lhe foi prometida no bem-aventurado Pedro, aquela infalibilidade da qual o divino Redentor quis que gozasse a sua Igreja na definição da doutrina de fé e costumes. Por isto, ditas definições do Romano Pontífice são em si mesmas, e não pelo consentimento da Igreja, irreformáveis.

(in constituição dogmática Pastor Aeternus)

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Concílio Vaticano I – (gravura atribuída a Karl Benzinger, 1873)

O dogma atesta então que o Papa é de facto infalível mediante determinadas condições, a saber: (1) quando fala ex cathedra, ou seja, a partir da Cadeira de Pedro, em ato formal e solene dirigido a todos os cristãos do mundo inteiro, (2) para definir, ou seja, clarificar e deliberar (3) em matéria de Fé ou de moral (costumes).

As condições estipuladas pelo dogma apenas são reunidas em simultâneo em momentos muito raros e extraordinários da história da Igreja como, por exemplo, para a proclamação de um dogma. Reunindo estas condições, o Papa é infalível, não erra porque beneficia da garantia de assistência plena do Espírito Santo. A última vez que um Papa falou ex cathedra foi em 1950, quando Pio XII definiu o dogma da Assunção da Virgem Maria.

Fora destes momentos solenes e singulares da história da Igreja, o Papa não é infalível, portanto pode errar. Neste sentido, o Papa não é infalível quando telefona a alguém ou envia uma carta com opiniões pessoais; quando dá uma entrevista a bordo de um avião; quando escreve uma controversa nota de rodapé num documento oficial da Igreja; quando fala de outras matérias que não dizem respeito à Fé ou à moral; quando age em tantos e variados contextos. E em caso de erro, deve ser fraternalmente corrigido.

Para além do Papa, o conjunto de todos os bispos do mundo reunidos em concílio ecuménico, em união com o Papa (o primeiro dos bispos), também goza de infalibilidade.

Fora dos concílios ecuménicos, os pastores da Igreja, incluindo o próprio Papa, gozam de infalibilidade apenas quando ensinam e promovem uma verdade de fé ou de costumes já professada e sustentada por toda a Igreja Católica, ou seja, quando o seu ensinamento se enquadra no magistério da Igreja, o qual, por si só, é infalível.

O magistério da Igreja é formado pelo conjunto de ensinamentos de Fé e de costumes unanimemente professados por toda a Igreja Católica ao longo do tempo, de forma clara e inequívoca.

Os Papas devem ser amados e respeitados por toda a Igreja, porém, as suas palavras, gestos ou atitudes não podem servir de referência para os cristãos quando constituem erros doutrinais ou pastorais. Os erros devem ser corrigidos, o próprio São Paulo corrigiu os erros do São Pedro, o primeiro Papa (Gl 2, 11-16). “Corrigir os que erram” é uma das 14 Obras de Misericórdia, a terceira do grupo das espirituais.

Hoje, dia 22 de fevereiro, no nosso calendário litúrgico é o dia da Cátedra de São Pedro.

Oremus pro Pontifice nostro.

Dominus conservet eum, et vivificet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius.

Basto 2/2017