João Paulo II defendeu o matrimónio e a família no Sameiro, em 1982

O Papa Francisco definiu o dia 22 de outubro como o dia de São João Paulo II.

João Paulo II foi um grande defensor da Verdade cristã sobre o matrimónio e a família, resistindo firmemente, no seu tempo (que é o nosso tempo), contra as tentativas mundanas de adulteração dessa mesma Verdade.

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Altar de São João Paulo II – Igreja Matriz de Portimão (Igreja de Nª Sª da Conceição)

Em 1982, apenas um ano após o violento atentado sofrido em Roma e cerca de meio ano depois da publicação da exortação apostólica Familiaris Consortio – cuja doutrina é agora contrariada pela Amoris Laetitia -, o Santo Padre João Paulo II presidiu à “Santa Missa para as Famílias” precisamente no santuário Daquela cujo “Imaculado Coração” acabará por triunfar. Foi no dia 15 de Maio, no Santuário da Imaculada Conceição do Monte Sameiro, em Braga, perante muitos milhares de fiéis portugueses e também muitos espanhóis da Galiza.

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Santuário de Nossa Senhora da Imaculada Conceição do Sameiro (Braga)

Vale a pena recordar agora algumas das recomendações de Sua Santidade João Paulo II, pois se as suas palavras eram verdadeiras 1982 também o são em 2016. Até serão mais úteis hoje, precisamente quando há tanta gente confusa e confundida.

Aquilo a que João Paulo II chamava “sinal de contradição”, referindo-se à missão da Igreja no mundo, representa exatamente o oposto da deriva da Igreja Católica por estes dias, nomeadamente nas questões do matrimónio e da família.

Homilia do Papa João Paulo II na Santa Missa para as Famílias no Santuário da Imaculada Conceição do Sameiro em 1982:

[…]

Que as famílias deste País se consolidem no amor e na unidade como imagem do amor de Cristo à sua Igreja (Cfr. Eph. 5, 25) e continuem assim a cumprir a missão que Deus lhes confiou: para isso rezamos nesta Eucaristia, persuadidos de que também o futuro de Portugal passa pela família (cf. João Paulo II, Familiaris Consortio, Concl.).

2. Na família reside e da família, mais do que de qualquer outra sociedade, instituição ou ambiente, depende o futuro do homem.

 […]

O matrimónio é o alicerce da família como a família é o vértice do matrimónio. É impossível separar um da outra. É preciso considerá-los juntos à luz do futuro do homem.

Esta é uma verdade evidente e, não obstante, é também uma verdade ameaçada.

 […]

6. Os bens divinos da Aliança e da Graça estão, desde o princípio, unidos à família. Por isso, também o matrimónio, em certo sentido, desde o princípio, é sacramento, como símbolo da futura encarnação do Verbo de Deus. Sacramento que Cristo confirmou e ao mesmo tempo renovou com a palavra do Evangelho e com o mistério da sua Redenção.

Pela virtude do Espírito Santo, o homem e a mulher estreitam entre si a Aliança Matrimonial, que, por instituição divina, “desde o princípio” é indissolúvel.

Radicada na complementaridade natural que existe entre o homem e a mulher, a indissolubilidade é sancionada pelo recíproco compromisso de doação pessoal e total, e é exigida pelo bem dos filhos. À luz da fé, manifesta-se a sua verdade última, que é a de ser proposta “como fruto, sinal e exigência do amor absolutamente fiel, que Deus Pai tem para com o homem, e que o Senhor Jesus vive para com a Igreja”. Com estas palavras expus o ensino tradicional da Igreja, na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio, 20”, a pedido dos Bispos de todas as partes do mundo, reunidos em Sínodo, em Roma, para estudar os problemas da família cristã no mundo de hoje.

Esta doutrina não se harmoniza, certamente, com a mentalidade de tantos contemporâneos nossos que julgam impossível um compromisso de fidelidade para a vida inteira. Os Padres do Sínodo, conscientes embora das actuais correntes ideológicas contrárias, declararam que é missão específica da Igreja “apregoar o alegre anúncio da irrevocabilidade daquele amor conjugal que tem em Jesus Cristo o fundamento e o vigor” (Familiaris Consortio, 20). E esclareceram que tal missão não se impõe somente à Hierarquia; também a vós, a cada um dos casais cristãos, chamados a ser no mundo um “sinal”, sempre renovado, “da fidelidade imutável com que Deus e Jesus Cristo amam a todos e cada um dos homens” (Ibid. 84).

7. Cada um dos homens: portando também aquele ou aquela que se encontra a braços com um casamento que fracassou. Deus não deixa de amar os que se separam, nem mesmo os que iniciaram uma nova união irregular. Ele continua a acompanhar tais pessoas com a imutável fidelidade do seu amor, chamando continuamente a atenção para a santidade da norma violada e, ao mesmo tempo, convidando a não abandonarem a esperança.

Reflectindo, de algum modo, o amor de Deus, também a Igreja não exclui da sua preocupação pastoral os cônjuges separados e novamente casados; pelo contrário, põe à sua disposição os meios de salvação. Embora mantendo a prática, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir tais pessoas à comunhão eucarística, dado que a sua condição de vida se opõe objectivamente ao que a Eucaristia significa e opera, a Igreja exorta-os a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o sacrifício da Missa, a perseverar na oração e nas obras de caridade, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência, a fim de implorarem dessa forma a graça de Deus e se disporem para a receber.

A Igreja tem consciência de ser no mundo, com este ensino, “sinal de contradição”. As palavras proféticas, que Simeão pronunciou sobre o Menino, aplicam-se a Cristo na sua vida, e também à Igreja na sua história. Muitas vezes Cristo, o seu Evangelho e a Igreja, tornam-se “sinal de contradição” perante aquilo que no homem não é “de Deus”, mas do mundo ou até do “príncipe das trevas”.

Mesmo chamando o mal pelo nome e opondo-se-lhe decididamente Cristo vem sempre ao encontro da fraqueza humana. Procura a ovelha tresmalhada. Cura as feridas das almas. Consola o homem com a sua cruz. No Evangelho não faz exigências a que o homem não possa satisfazer com a graça de Deus e com a própria vontade. Pelo contrário, as suas exigências têm como finalidade o bem do homem: a sua verdadeira dignidade.

 […]

Em continuidade com as normas reafirmadas no Concílio Vaticano II e na Encíclica “Humanae Vitae” e recolhendo o sentimento dos Padres do último Sínodo dos Bispos, recordei na recente Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, entre os direitos prioritários dos pais, o de terem os filhos que desejarem, recebendo ao mesmo tempo o necessário para criá-los e educá-los dignamente. Por isso, a Igreja condena como ofensa grave à dignidade humana e à justiça as manobras para cercear de maneira indiscriminada a liberdade dos cônjuges em relação à transmissão da vida e à educação dos filhos.

Senti-me no dever de denunciar também uma insidiosa “mentalidade contra a vida”, que se infiltra no pensamento actual.

Deus diz a cada homem: acolhe a vida concebida por obra tua! Di-lo pelos seus mandamentos e pela voz da Igreja; e di-lo directamente, pela voz da consciência humana. Voz potente que não se pode deixar de ouvir, não obstante outras a vozes” dissonantes, não obstante o que se fizer para a abafar.

O carácter ao mesmo tempo corporal e espiritual da união conjugal, sempre iluminada pelo amor pessoal, há-de levar a respeitar a sexualidade, a sua dimensão plenamente humana, e a nunca “usá-la” como um “objecto”, a fim de não dissolver a unidade pessoal da alma e do corpo, ferindo a a própria criação de Deus, na relação mais íntima entre natureza e pessoa” (Familiaris Consortio, 32)

A responsabilidade na geração da vida humana – da vida que deve nascer numa família – é grande diante de Deus!

(João Paulo II, Braga, 15 de maio de 1982)

Quando os preceitos previstos em duas diferentes exortações papais cronologicamente tão próximas se contradizem de forma tão incisiva, não podem ser ambos verdadeiros. Cada um que escolha de acordo com a doutrina (ou a pastoral) que lhe inspire mais confiança!

Havia tanta pressa para canonizar João Paulo II, para colocá-lo nos altares, mas depois ignora-se e contraria-se aquilo que o santo ensinou ainda há tão pouco tempo… Que diria São João Paulo II desta nova “misericórdia”?

Basto 10/2016