O bom Lutero, curador da Igreja

lutero no inferno
Lutero no Inferno – Egbert van Heemskerck II, 1700-10

É difícil encontrar um verdadeiro católico que simpatiza com figuras infernais como o traidor Judas Iscariotes ou o herege Martinho Lutero. Simpatizar simultaneamente com ambos deve ser ainda mais raro e preocupante. Mas se esse católico for o nosso papa, isso só nos pode deixar completamente entorpecidos.

Creio que as intenções de Martinho Lutero não estivessem erradas: era um reformador, talvez alguns métodos não fossem certos, mas naquele tempo, se lermos a história do Pastor, por exemplo, – um alemão luterano que depois se converteu quando viu a realidade daquele tempo e se fez católico – vemos que a Igreja não era propriamente um modelo a imitar: havia corrupção na Igreja, havia mundanidade, havia apego ao dinheiro e ao poder. E por isso ele protestou. Depois era inteligente e fez um passo avante justificando o porquê fazia isso. E hoje luteranos e católicos, protestantes e todos, estamos de acordo sobre a doutrina da justificação: sobre este ponto tão importante ele não errou.

Ele proporcionou um remédio para a Igreja, depois este remédio se consolidou num estado de coisas, numa disciplina, num modo de acreditar, num modo de fazer, de modo litúrgico. Mas não era só ele: havia Zwingli, havia Calvino e quem estava atrás deles? Os princípios, “cuius regio eius religio”. Devemos nos inserir na história daquele tempo: é uma história difícil de entender. Não é fácil. Depois as coisas prosseguiram.

Hoje, o diálogo é muito bom e aquele documento sobre a justificação acredito que seja um dos documentos ecuménicos mais ricos, mais ricos e mais profundos, não? É de acordo. Existem divisões, mas dependem também das Igrejas. Em Buenos Aires, havia duas igrejas luteranas: uma pensava de um modo e a outra de outro modo, mesmo na própria Igreja luterana não há unidade. Respeitam-se, amam-se…

A diversidade é aquilo que talvez nos tenha feito tanto mal a todos e hoje buscamos retomar o caminho para nos encontrar depois de 500 anos. Eu acredito que devemos rezar juntos: rezar! Por isso a oração é importante. Segundo: trabalhar pelos pobres, pelos perseguidos, por tantas pessoas que sofrem, pelos refugiados. Trabalhar juntos e rezar juntos. E que os teólogos estudem juntos, buscando… Mas este é um caminho longo, longuíssimo.

Uma vez, disse brincando: “Eu sei quando será o dia da plena unidade” – “Qual?” – “Um dia depois da vinda do Filho do Homem! Porque não se sabe… O Espírito Santo fará esta graça. Mas enquanto isso rezar, nos amar e trabalhar juntos, sobretudo pelos pobres, pelas pessoas que sofrem, pela paz e tantas outras coisas, não? Contra a exploração das pessoas… Tantas coisas pelas quais se está trabalhando conjuntamente. 

(Papa Francisco, in Radio Vaticana, 27/06/2016)

Basto 06/2016

Guardar

Guardar

Guardar