Réplica do Milagre do Sol na Nigéria?

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Benin, Nigéria, a 13 de outubro de 2017

A Conferência Episcopal da Nigéria informou, na sua página do facebook, que o Milagre do Sol repetiu-se na cidade de Benin, no dia 13 de outubro de 2017, precisamente 100 anos depois do acontecimento de Fátima. Este fenómeno terá ocorrido no dia em que os bispos nigerianos reconsagraram a nação ao Imaculado Coração de Maria, numa cerimónia que teve lugar em Benin.

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Benin, Nigéria, a 13 de outubro de 2017

Em Portugal, dois dias depois do centenário do grande milagre de Fátima, foi possível olhar o Sol sem recurso a qualquer tipo de filtro ou proteção ocular, mas desta vez por causa da imensa nuvem de fumo que cobre um país completamente a arder.

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Vista do Sol a olho nu em Portugal, na tarde do dia 15 de outubro de 2017.

O número de mortes provocadas pelos incêndios em Portugal, neste ano de 2017, é já superior a uma centena. Por coincidência, os acontecimentos mais dramáticos têm acorrido na Região Centro, muitos dos quais bem perto de Fátima, onde se celebra em clima de festa o centenário das aparições.

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“Adamastor”, a foto do incêndio florestal em Viera de Leiria, tirada no dia 15 de outubro às 15 horas, que acabou por tornar-se viral na internet. A foto é da autoria do bombeiro local Hélio Madeiras que a publicou na sua página do facebook .

Basto 10/2017

Testemunho de José Maria de Proença de Almeida Garrett

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– 18/12/1917 –

Vou relatar de uma maneira breve e concisa, sem frases que velem a verdade, o que vi em Fátima no dia 13 de outubro de 1917.

As horas a que me referi são as que nessa época marcavam oficialmente o tempo, segundo a determinação do governo que unificara a nossa hora com a dos países beligerantes.

Faço isto para maior verdade, pois me não era fácil designar com precisão o momento em que o sol alcançou o zénite.

Cheguei ao meio-dia. A chuva que desde manhã caía miúda e persistente, tocada de um vento agreste, prosseguira irritante, na ameaça de querer tudo liquefazer.

O céu baixo e pesado tinha uma cor pardacenta prenhe de água prenúncio de chuva abundante e de longa duração.

Quede-me na estrada ao abrigo da capota do automóvel e um pouco sobranceiro ao local que diziam ser o da aparição, não ousando meter-me no lamaçal barrento e pegajoso do campo frescamente lavrado.

Estaria a pouco mais de cem metros dos elevados postes, que uma tosca cruz encimava, com os guarda-chuvas abertos parecia um vasto sobrado de broquéis.

Pouco depois da uma hora, chegaram as crianças a quem a Virgem (garantiam elas) marcara lugar, dia e hora da aparição. Ouviam-se os cânticos entoados pelo povo que as cercava.

Numa determinada altura, esta larga massa, confusa e compacta, fechou os guarda-chuvas e descobriu-se num gesto que devia ser de humildade ou respeito, mas que me deixou admirado, porque a chuva, numa continuidade cega, molhava agora as cabeças, encharcava e ensopava.

Disseram-me depois que esta gente, que acabou por ajoelhar na lama, tinha obedecido à voz de uma criança.

Devia ser uma e meia (treze e meia) quando se ergueu no local preciso onde estavam as crianças, uma coluna de fumo, delgada, ténue e azulada que subiu direita até dois metros, talvez, acima das cabeças para nesta altura se esvair.

Durou este fenómeno, perfeitamente visível a olho nu, alguns segundos. Não tendo marcado o tempo de duração, não posso afirmar se mais ou menos de um minuto. Dissipou-se bruscamente o fumo e, passado algum tempo, voltou a repetir-se o fenómeno uma segunda e uma terceira vez.

Das três vezes, e sobretudo da última, destacaram-se nitidamente os fustes esguios na atmosfera cinzenta.

Dirigi para lá o binóculo. Nada consegui ver para além das colunas de fumo, mas convencido fiquei de que eram produzidas por algum turíbulo, não agitado, em que queimava incenso.

Depois, pessoas dignas de fé afirmaram-me que era de uso produzir-se o acontecimento no dia 13 dos cinco meses anteriores e que nesses dias, como neste, nunca ali se queimara nada nem se fizera fogo.

Continuando a olhar o lugar da aparição, numa expectativa serena e fria e com uma curiosidade que ia amolecendo, porque o tempo decorrera longo e vagaroso sem que nada activasse a minha atenção, ouvi o bruaá de milhares de vozes e vi aquela multidão espraiada pelo largo campo que se estendia a meus pés, ou concentrada em vagas compactas, em redor dos madeiros erguidos, ou sobre os baixos socalcos que retinham as terras, voltar as costas ao ponto que até então convergira os desejos e ânsias, e olhar o céu do lado oposto.

Eram quase duas horas.

O sol momentos antes tinha rompido ovante, a densa camada de nuvens que o tivera escondido, para brilhar clara e intensamente.

Voltei-me para este íman que atraía todos os olhares e pude vê-lo semelhante a um disco de bordo nítido e aresta viva, luminoso e luzente, mas sem magoar.

Não me pareceu bem a comparação, que ainda em Fátima ouvi fazer, de um disco de prata fosca. Era uma cor mais clara, activa e rica, e com cambiantes, tendo como que o oriente de uma pérola.

Em nada se assemelhava à lua em noite transparente e pura porque se via e sentia-se ser um astro vivo. Não era como a lua esférica e não tinha a mesma tonalidade nem os claros-escuros.

Parecia uma rodela brunida cortada no nácar de uma concha. Isto não é uma comparação banal de poesia barata. Os meus olhos viram assim.

Também não se confundia com o sol encarado através de nevoeiro (que aliás não havia àquele tempo), porque não era opaco, difuso e velado.

Em Fátima tinha luz e calor e desenhava-se nítido e com a borda cortada em aresta como uma tábula de jogo.

A abóbada celeste estava enevoada de cirros leves, tendo frestas de azul aqui e acolá, mas o sol algumas vezes se destacou em rasgões de céu limpo.

As nuvens que corriam ligeiras de poente para oriente não empanavam a luz (que não feria) do sol, dando a impressão facilmente compreensível e explicável de passar por detrás, mas por vezes, esses flocos, que vinham brancos, pareciam tomar, deslizando ante o sol, uma tonalidade rosa ou azul diáfano.

Maravilhoso é que, durante longo tempo, se pudesse fixar o astro, labareda de luz e brasa de calor, sem uma dor nos olhos e sem um deslumbramento na retina que cegasse.

Este fenómeno com duas breves interrupções em que o sol bravio arremessou os seus raios mais coruscantes e refulgentes, e que obrigaram a desviar o olhar, devia ter durado cerca de dez minutos.

Este disco nacarado tinha a vertigem do movimento. Não era a cintilação de um astro em plena vida. Girava sobre si mesmo numa velocidade arrebatada.

De repente ouve-se um clamor, como que um grito de angústia de todo aquele povo. O sol conservando a celeridade da sua rotação, destaca-se do firmamento e sanguíneo avança sobre a terra ameaçando esmagar-nos com o peso da sua ígnea e ingente mó. São segundos de impressão terrífica.

Durante o acidente solar, que detalhadamente tenho vindo a descrever, houve na atmosfera coloridos cambiantes. Não posso precisar bem a ocasião, porque já lá vão dois meses passados, e eu não tomei notas. Lembro-me que não foi logo no princípio e antes creio que foi para o fim.

Estando a fixar o sol, notei que tudo escurecia à minha volta. Olhei o que estava perto e alonguei a vista para o largo até ao extremo horizonte, e vi tudo cor de ametista.

Os objectos, o céu e a camada atmosférica tinham a mesma cor. Uma carvalheira arroxeada, que se erguia na minha frente, lançava sobre a terra uma sombra carregada. Receando ter sofrido uma afecção da retina, hipótese pouco provável, porque, dado este caso, não devia ver as coisa em roxo, voltei-me, cerrei as pálpebras e retive-as com as mãos para interceptar toda a luz.

Ainda de costas, abri os olhos e reconheci que, como antes, a paisagem e o ar continuavam da mesma cor roxa.

A impressão que se tinha não era de eclipse. Vi o eclipse do sol que, em Viseu, onde estava, foi total.

À medida que a lua marcha a esconder o sol, a luz vai-se acinzentando até que tudo se torna baço e negro.

A vista alcança um pequeno círculo para lá do qual os objectos se vão tornando cada vez mais confusos até que se perdem no negrume.

Baixa a temperatura consideravelmente, e dir-se-á que a vida na terra morreu. Em Fátima, a atmosfera, embora roxa, permaneceu transparente, até ao confim do horizonte que se destinge e vê claramente, e eu não tive a sensação de uma paragem da energia universal.

Continuando a olhar o sol, reparei que o ambiente tinha aclarado. Logo depois ouvi um campónio, que cerca de mim estava, dizer com voz de pasmo: esta senhora está amarela.

De facto tudo agora mudara, perto e distante, tomando a cor de velhos damascos amarelos. As pessoas pareciam doentias e com icterícia. Sorri-me de as achar francamente feias e desairosas. Ouviram-se risos. A minha mão tinha o mesmo tom amarelo.

Dias depois, fiz a experiência de fixar o sol uns breves instantes. Retirada a vista, vi, após alguns momentos, manchas amarelas irregulares na forma. Não se vê tudo de uma cor uniforme, como se no ar se tivesse volatilizado um topázio, mas nódoas ou malhas que com o  movimento do olhar se deslocam.

Todos estes fenómenos que citei e descrevi, observei-os eu sossegada e serenamente sem uma emoção ou sobressalto.

A outros cumpre explicá-los ou interpretá-los.

Para terminar, devo fazer a afirmação, que nunca, nem antes nem depois do dia 13 de outubro, vi iguais fenómenos solares ou atmosféricos.

José Maria de Proença de Almeida Garrett [*]

(in Novos Documentos de Fátima, 1984, p. 60-63)

*Antigo docente da Universidade de Coimbra.

Basto 10/2017

13 de outubro: foi há 99 anos

No dia 13 de outubro de 1917, exatamente há 99 anos, o Sol “bailou”. Independentemente da explicação que cada um queira atribuir ao fenómeno, a verdade é que ele aconteceu mesmo e no dia para o qual estava anunciado. É um facto histórico amplamente documentado.

Apesar dos difíceis acessos àquele lugar ermo, estiveram ali presentes entre 60 a 70 milhares de pessoas, muitos com fé, outros para zombarem deles, ainda outros por curiosidade e talvez outros sem saber porquê. Todos caíram de joelhos na lama, no meio da tempestade, apavorados com os olhos postos no céu. Todos saíram limpos numa bela tarde de outono. Todos acreditaram.

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Jornal “O Século” – Este jornal anticlerical deu um destaque de primeira página à reportagem do jornalista Avelino de Almeida que esteve presente na Cova da Iria no dia 13 de outubro de 1917

Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meterem à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zénite. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega… Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar: Milagre! Milagre!… Maravilha!… Maravilha! Aos olhos deslumbrados daquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos bíblicos e que, pálido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos, fora de todas as leis cósmicas –”o sol bailou”, segundo a típica expressão dos camponeses.

(Jornalista Avelino de Almeida,in jornal “O Século”, 15/10/1917)

Seria 1h30 da tarde quando surgiu, no sítio exato onde estavam as crianças, uma coluna de fumo, fino, delicado e azulado, que se estendia talvez uns dois metros por cima das suas cabeças e se evaporava a essa altura. Este fenómeno, perfeitamente visível ao olho nu, durou uns segundos. Não tendo notado quanto durou, não posso dizer se foi mais ou menos de um minuto. O fumo dissipou repentinamente, e depois de algum tempo, voltou a aparecer uma segunda vez, e depois uma terceira.

O céu, que tinha estado encoberto todo o dia, de repente se aclarou; a chuva parou e parecia que o sol ia encher de luz a paisagem que a manhã de inverno tinha tornado tão triste. Eu estava olhando para o sítio das aparições na expectativa serena e fria de que acontecesse alguma coisa e já com a curiosidade diminuída porque tinha passado muito tempo sem que nada despertasse a minha atenção. O sol, uns momentos antes, tinha penetrado a camada espessa de nuvens que o escondiam e agora brilhava claro e intensamente.

Subitamente ouvi o alvoroço de milhares de vozes e vi toda a multitude espalhada nesse espaço vasto aos meus pés, virar as costas ao sítio onde, até então, todas as suas expectativas estavam focadas, e olhar para o sol no outro lado. Eu também me virei para o ponto que comandava o seu olhar e pude ver o sol, como um disco muito claro com uma margem muito aguda, que vislumbrava sem ferir a vista. Não se podia confundir com o sol visto através de um nevoeiro (não havia nevoeiro nesse momento), pois nem estava velado nem turvo. Em Fátima, mantinha a sua luz e o seu calor, e sobressaia nitidamente no céu, com uma margem aguda, como uma grande mesa de jogo. A coisa mais espantosa era poder olhar para o disco solar por muito tempo, brilhando com luz e calor, sem ferir os olhos ou prejudicar a retina. [Durante este tempo], o disco do sol não se manteve imóvel, teve um movimento vertiginoso, não como a cintilação de uma estrela em todo o seu brilho, pois girou sobre si mesmo nu rodopio louco.

Durante este fenómeno solar, que acabo de descrever, houve também mudanças de cor na atmosfera. Olhando para o sol, notei que tudo se escurecia. Olhei primeiro para os objetos mais perto e depois estendi a minha vista ao longo do campo até ao horizonte. Vi que tudo tinha assumido cor de ametista [variedade do violeta]. Os objetos à minha volta, o céu e a atmosfera, eram da mesma cor. Tudo perto e longe tinha mudado, tomando a cor de velho damasco amarelo. As pessoas pareciam que sofriam de icterícia e lembro-me de uma sensação de divertimento ao vê-los tão feios e repulsivos. A minha mão estava da mesma cor.

Então, de repente, ouviu-se um clamor, um grito de agonia vindo de toda a gente. O sol, girando loucamente, parecia de repente soltar-se do firmamento e, vermelho como o sangue, avançar ameaçadamente sobre a terra como se fosse para nos esmagar com o seu peso enorme e abrasador. A sensação durante esses momentos foi verdadeiramente terrível.

Todos os fenómenos que descrevi foram observados por mim num estado de mente calmo e sereno sem nenhuma perturbação emocional. Cabe aos outros interpretá-los e explicá-los. Finalmente, tenho que declarar que nunca, antes ou depois de 13 de Outubro [1917], observei semelhante fenómeno solar ou atmosférico.

(Relato escrito do Professor Almeida Garrett, da Universidade de Coimbra, reproduzido no livro “Novos Documentos de Fátima”, Edições Loyola, São Paulo, 1984)

O fenómeno solar foi testemunhado também por outras pessoas que se encontravam fora de Fátima e teve algumas réplicas menores posteriormente a 1917.

Depois, apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça. (Ap 12, 1)

Basto 10/2016