Isto não é uma notícia nova. Francisco, desde o início do seu pontificado, negou várias vezes o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes realizado por Jesus Cristo, o qual entende como uma mera parábola sobre a repartição de bens, ou seja, uma narração alegórica.
De acordo com esta teoria, estaríamos a falar, não do milagre, mas do episódio da repartição das migalhas…
Tudo parece absurdo nestes dias… Ou o cristão se agarra às raízes da Tradição, ou então vai cair durante a tempestade.
A Bíblia Sagrada relata dois milagres semelhantes, realizados por Jesus, conhecidos como a multiplicação dos pães e dos peixes para alimentar as pessoas que o ouviam.
O primeiro, narrado pelos quatro evangelistas, refere-se a uma situação onde havia apenas “cinco pães e dois peixes” para uma população de 5000 homens, além das mulheres e crianças (Mt 14:13-21; Mc 6:31-44; Lc 9:10-17; e Jo 6:5-15).
O segundo, narrado por dois evangelistas, descreve um episódio semelhante da vida messiânica de Jesus, referindo “sete pães e alguns peixes” para alimentar uma população de 4000 homens e ainda mulheres e crianças (Mc 8:1-9; e Mt 15:32-39).
Estes dois episódios bíblicos descrevem, de maneira semelhante, uma multidão com fome e sem nada para comer, perante a qual, Jesus, compadecido, realiza o milagre da multiplicação dos poucos pães e peixes aí existentes. A quantidade de alimento que resultou deste milagre foi tal que, apesar de as pessoas presentes terem ficado totalmente saciadas, ainda sobraram vários cestos cheios de pão.
As pessoas presentes viram este milagre e acreditaram que Jesus era o Filho de Deus. A Sua Igreja também acredita.
O Santo Padre – com todo o respeito que lhe devemos – parece não acreditar no milagre, considerando-o uma mera “parábola”, ou seja, uma história de ficção, inventada pelos evangelistas para transmitir o valor da partilha, para ensinar os benefícios da repartição dos bens em comunidade. Ora vejamos:
Em relação aospães e aos peixes,gostaria deadicionar uma nuance: não se multiplicaram, não, isso não é verdade. Os pães simplesmente não acabaram.Como não acabaram a farinhae o óleoda viúva.Elesnão acabaram. Quando alguém diz multiplicar,pode confundir e fazer acreditar em magia.Não, não, simplesmente é tal a grandeza de Deus e do amor que colocou em nossos corações que, se quisermos, não acaba.
Em seguida, toma aqueles pães e peixes, eleva os olhos ao céu, recita a bênção — é clara a referência à Eucaristia — e depois parte-os e começa a dá-los aos discípulos para que eles os distribuam… E os pães e os peixes já não acabam, não acabam! Eis o milagre: mais do que uma multiplicação, trata-se de uma partilha, animada pela fé e pela oração. Todos comeram e sobejou: é o sinal de Jesus, pão de Deus para a humanidade.
Ao contrário, aqueles poucos pães e peixes, compartilhados e abençoados por Deus, foram suficientes para todos. Mas atenção! Não se trata de uma magia, mas de um «sinal»: um sinal que nos convida a ter fé em Deus, Pai providente, que não nos faz faltar o «pão nosso de cada dia», se nós soubermos compartilhá-lo como irmãos.
Uma atitude em três palavras: toma um pouco de pão e alguns peixes, bendiz a Deus por eles, divide-os e entrega para que os discípulos os partilhem com os outros. E este é o caminho do milagre. Por certo, não é magia nem idolatria. Por meio destas três ações, Jesus consegue transformar a lógica do descarte numa lógica de comunhão, numa lógica de comunidade. Gostaria de destacar brevemente cada uma destas ações. […] Jesus consegue gerar uma corrente entre os seus: todos estavam compartilhando o seu, transformando-o em dom para os outros, e foi assim que comeram até ficarem saciados. […] Uma vida memoriosa precisa dos outros, do intercâmbio, do encontro, duma solidariedade real que seja capaz de entrar na lógica do tomar, bendizer e entregar; na lógica do amor.
Segundo uma misteriosa regra divina, quando o meu pão se torna o nosso pão, então o pouco se torna suficiente. […] Não é necessário multiplicá-lo, basta distribuí-lo, começando por nós. De nada servem multiplicações prodigiosas se não derrotarmos a gula do egoísmo, do desperdício de alimentos e da acumulação de poucos.
Esta interpretação errada dos milagres de Cristo não é nova, antes pelo contrário. É uma abordagem herética utilizada, desde há muito tempo, por algumas hermenêuticas protestantes e, há menos tempo, por aqueles que querem transformar a divina figura histórica de Jesus Cristo num ideólogo comunista, uma espécie de Che Guevara religioso. A única coisa nova nesta abordagem é o facto de ela surgir, agora, pregada pelo próprio Santo Padre. Que Deus nos valha!
A partilha é bonita e importante, mas os milagres de Jesus são ainda mais importantes porque comprovam a Sua natureza divina, bem como a dos seus ensinamentos. Multiplicar significa aumentar o número, a quantidade, o que, neste caso, aconteceu de forma miraculosa, sobrenatural e a uma escala extraordinária. Não estamos a falar de “magia” nem de “idolatria”, mas antes do poder de Deus sobre todas as coisas. Negar a sobrenaturalidade deste milagre é pôr em causa também todos os outros descritos nos Evangelhos. Pior, é pôr em causa a natureza divina de Jesus Cristo, apresentando-o com uma natureza meramente humana.
Os milagres, no sentido literal do termo (e não no sentido figurado), são sinais revelados por Deus à humanidade. Neste caso concreto, sendo milagres descritos nos Evangelhos, assumem a natureza de “Palavra de Salvação”, o que significa – tão simplesmente – que se não acreditarmos neles não seremos salvos.