Essa foi a conclusão objetiva do jornalista João Céu e Silva quando tomou contacto com os documentos de Fátima na elaboração de mais uma monografia histórica para a Porto Editora. Uma conclusão óbvia que, apesar de tão evidente, passa normalmente ao lado de grande parte dos autores que escrevem sobre Fátima, sendo talvez o motivo pelo qual este livro tem obtido um grande destaque na imprensa nacional.

Se no ano 2000 os milhares de crentes frustrados com o teor da terceira parte do Segredo tivessem elaborado sobre o que realmente ouviram o cardeal Sodano afirmar em nome de João Paulo II, atitude questionadora sempre demasiado ausente no Santuário, poderiam ter-se perguntado: quem é realmente o papa visado pela profecia de Lúcia, uma tragédia que a vidente tão longamente guardou, primeiro na sua mente e depois num envelope selado e proibido de ser aberto antes de 1960?
(João Céu e Silva in Diário de Notícias, 26/03/2017)
Mal os papas deixaram de estar fechados no Vaticano, vieram a Portugal prestar vassalagem a Nossa Senhora. Não vêm por acaso. Vêm por causa do terceiro segredo, por terem algum receio de serem eles os visados. A primeira coisa que o Papa João Paulo II faz, logo que acorda na clínica Gemelli após o atentado, é mandar vir o segredo. Ratzinger faz o comentário, e Francisco consagra o seu pontificado a Nossa Senhora de Fátima, uma semana depois de ser eleito. E pede para a imagem de Nossa Senhora ir ao Vaticano.
(João Céu e Silva in Expresso, 16/04/2017)
O próprio Papa Bento XVI admite que as profecias de Fátima continuam em aberto, apesar de a interpretação oficial – ou pretendida – do Vaticano apontar para acontecimentos passados em que João Paulo II surge como protagonista.
Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída.
(Bento XVI em Fátima a 13/05/2010)
De facto, o 3.º Segredo publicado no ano 2000 não descreve uma tentativa de assassinato levada a cabo por um homicida, mas antes a consumação efetiva do assassinato de um Papa que “foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas”. Deste modo, a interpretação oficial do Vaticano, publicada juntamente com o segredo, não corresponde à descrição da Ir. Lúcia.

Se quisermos ser mais precisos, o texto da Ir. Lúcia não refere o termo “Papa” mas sim “Santo Padre”. É apenas mais um pormenor, mas não deixa de ser relevante.
Há outra profecia de Fátima sobre qual poucos gostam de falar: “várias nações serão aniquiladas”. Esta profecia também ainda não se concretizou, pelo menos no campo material.
–
Basto 4/2017