A Portugal foi atribuído um papel fundamental neste tempo do fim; Fátima é a espantosa explanação dessa missão hoje. No entanto, Fátima é “apenas” o culminar de um processo que tem origem rigorosamente na fundação de Portugal; se olharmos para trás a partir do que se passou em Fátima, poderemos entrever melhor o que aconteceu em Ourique, na aparição de Cristo a D. Afonso Henriques. A missão com que Cristo sagrou o nosso País, manifestou-se desde logo pela definição da sua fronteira, por tal modo que é inequivocamente uma das mais antigas do mundo. Esta definição das fronteiras não é um elemento menor, porque é um dos sinais exteriores da forte identidade e, portanto, da homogeneidade da alma portuguesa. As palavras que Cristo dirige a D. Afonso Henriques são, como veremos, o programa da razão de ser da existência de Portugal; programa que vem a ser explicado, aprofundado e completado com a mensagem de Fátima: em Ourique, a aparição de Cristo ao Fundador, àquele que viria a ser o primeiro rei deste povo; em Fátima, a aparição da Virgem a três crianças, os mais puros representantes do povo português.
Visão de D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique (Frei Manuel dos Reis, 1665)
I. Portugal nos Evangelhos
Entre os vários sinais que, segundo os Evangelhos, devem acontecer antes do fim dos tempos, alguns são difíceis de definir (como guerras, fomes, pestes, terramotos – Mt, 24, 6-7) dado que na história sempre encontrámos vários destes elementos; no entanto, há três eventos absolutamente inequívocos; assim, sabemos que o fi m dos tempos não chegará sem que se cumpram estas três condições:
1) o anúncio do cristianismo deve ter chegado a todo o mundo (Mt, 24, 14);
2) deve aparecer o “homem do pecado”, o Anticristo, e, com ele, a apostasia global (2 Tess 2, 2-4): dir-se-ia que, tal como no primeiro se espalha a fé de Cristo, neste se espalha a ‘fé’ do Anticristo);
3) os judeus converter-se-ão, reconhecendo Jesus, na Sua segunda vinda, como o Messias de que sempre estiveram à espera (Rom 11, 11-15 e 25).
Relendo o ponto 1), logo vemos que a Portugal em particular – e à Península Ibérica em geral – coube a espantosa missão de dar o maior contributo para a realização do primeiro destes eventos. No tempo de D. Manuel, o cronista Duarte Galvão estava completamente consciente disto. Esta consciência de estar a desempenhar um papel sagrado, anunciado por Cristo, dá uma dimensão impressionante à acção dos Descobrimentos; diz o cronista que o Redentor ordenou que por mãos dos portugueses se espalhasse “pelo mundo quase outra segunda pregação dos apóstolos para notificação da nossa fé” e essa “universal manifestação” seria para assim se “cumprir o que nosso Senhor disse: «que seu Evangelho havia de ser notificado por o mundo universo antes da fi m, em testemunho a todalas gentes»” (Galvão, p. 6). Mas Duarte Galvão projecta esta consciência mesmo para o tempo do Fundador; é bastante impressionante ver o modo pelo qual ele interpreta a eleição do bispo negro, por parte de D. Afonso Henriques, como um sinal antecipador da missão evangelizadora universal que viria a ser a de Portugal. Explicando que se tratou, pois, de uma eleição desejada por Deus, para que “as gentes tintas das Etiópias e Índias, e outras terras novamente pela sua navegação e conquista achadas, viessem entrar e ser metidas na fé de Cristo” (idem, p. 82). Vemos assim como logo na história do nosso primeiro rei, estava latente, segundo a vibrante hermenêutica de Duarte Galvão, a nossa primeira missão, que foi a de protagonizarmos a expansão da fé, levando-a nas caravelas às “sete partidas do mundo” e cumprindo assim esta primeira imensa missão referida nos Evangelhos. Vemos, pois, Portugal – sagrado por Cristo – a realizar o que Cristo mesmo anunciou nos Evangelhos: Portugal nos Evangelhos.
II. Um Só Milagre: de Ourique a Fátima
Os Céus falaram em Portugal, marcando o início da nossa monarquia e o seu fi m, altura em que os Céus se manifestam novamente em plena catástrofe política, ódio à religião, ateísmo militante, violência contra os crentes, consagrados e sacerdotes. Assim, pela aparição da Virgem, os Céus vieram salvar o povo que ainda devia cumprir uma parte da sua missão.
Vejamos agora algumas curiosas coincidências entre a promessa profética contida no texto de Duarte Galvão e a mensagem de Fátima, isto é, entre a aparição de Cristo a D. Afonso Henriques e a aparição da Virgem em Fátima, para assim ilustrarmos a unidade ou a continuidade dos dois milagres que são, na verdade, um só, por assim dizer.
Diz Duarte Galvão que “nesta aparição [de Cristo] foi o Príncipe dom Afonso Henriques certificado por Deus de sempre Portugal haver de ser conservado em reino” (idem, pp. 58-59). Com estas palavras, pois, promete Cristo que Portugal sempre existirá. Isto é o que diz Cristo em Ourique; e o que diz a Virgem em Fátima?
“Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé”. Não é interessante que os termos (que assinalei), pelos quais Cristo se dirige a D. Afonso Henriques, segundo Duarte Galvão, sejam os mesmos pelos quais a Virgem se dirige às três crianças? E tanto mais que em ambos os casos se trata de profecias sobre o destino de Portugal: na primeira, Cristo assegura que Portugal se conservará sempre como nação, como “reino”; na segunda, a Virgem assinala que em Portugal o dogma da fé se conservará sempre.
Mas as semelhanças não ficam por aqui. Vejamos agora as palavras de D. Afonso Henriques a Cristo no momento mesmo da aparição, sempre segundo as inspiradas palavras de Duarte Galvão:
“Senhor, aos hereges, aos hereges é que é preciso que apareças, porque eu sem nenhuma dúvida creio e espero em ti firmemente.” (idem, p. 58). O que vemos aqui, não é o germe, diria mesmo, o próprio espírito da primeira oração do anjo? Recordemos essa primeira oração que o anjo de Portugal ensinou às três crianças: “Meu Deus eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.” As palavras de D. Afonso Henriques são compostas de duas partes: a primeira, é um pedido e, a segunda, uma afirmação; um pedido de conversão para os hereges e uma afirmação da sua própria fé e esperança. Aí encontramos rigorosamente os mesmos traços que encontramos, como já vimos noutro artigo, na primeira oração que o anjo de Portugal viria a ensinar aos pastorinhos e, através deles, a todos os portugueses e a todos os católicos e a todos os homens. Também nesta última oração (ver Fulgores de Fátima, III, no Diário do Minho de 16 de Dez. de 2015), temos duas partes: uma é justamente um pedido de perdão, de conversão para que os que “não crêem” venham a crer (tal como o rei fundador vem pedir a Cristo que apareça aos hereges, para que creiam!) e a outra é uma afirmação de fé e de esperança, os dois elementos coincidentes em ambas as orações. A de Fátima vem apenas a ser aperfeiçoada ou, melhor, explicitada, como o crescimento de uma mesma planta, que vem dos primórdios da fundação da nacionalidade até aos nossos dias. Podemos dizer também que Fátima vem, surpreendentemente, iluminar e confirmar sobrenaturalmente o milagre de Ourique.
III. História de Portugal: Ciclo Crístico e Ciclo Mariano
Podemos, com base nesta perspectiva, olhar para a história de Portugal e decifrar, então, dois grandes ciclos nítidos. O primeiro, a que podemos chamar o Ciclo de Cristo ou crístico e o segundo, o Ciclo da Virgem ou mariano. O primeiro vai da fundação até à perda da independência (1580) e o segundo começa com a Restauração (1640):
Ciclo crístico: é o de expansão, de exteriorização, e também da guerra, e termina com a “paixão” de Portugal em Alcácer Quibir com D. Sebastião – figura, aliás, bem crística, onde o consciente português projectou justamente a fi gura de Cristo: Cristo tendo morrido às mãos dos judeus, D. Sebastião, tendo morrido às mãos dos mouros. Ocorre-me aqui o belo título do poema de Vasco da Gama Rodrigues, descrevendo Portugal como O Cristo das Nações.
Ciclo mariano: é o da interiorização, da paz, e começa com a Restauração, aliás, começa rigorosamente com a entrega do nosso reino à Virgem por D. João IV.
Terminada aquela primeira missão, de que o último arremedo foi D. Sebastião, a missão de Portugal passou para um domínio da alma: o “Quinto Império” seria o do espírito, o regresso do D. Sebastião, seria o regresso do Messias. Tendo levado o cristianismo às “sete partidas do mundo”, ficou-lhe, no entanto, o amargor da missão por cumprir, a nostalgia, a saudade daquilo que sabe que virá a acontecer no tempo, mas que ainda não aconteceu no espaço. Os portugueses, depois de séculos voltados para a acção, quando lhes foi pedida a contemplação ficaram como que perdidos – e ainda não saíram desse torpor: só o povo, praticamente, cumpre a missão que lhe foi pedida pela Virgem em Fátima – os intelectuais divorciaram-se de Portugal ou, se se mantiveram fieis a Portugal, divorciaram-se, mesmo que parcialmente, do povo, não o acompanhando nesta missão.
Não ouvimos nós hoje os Céus clamarem aos portugueses, como antes o anjo clamou aos pastorinhos quando estes brincavam, já depois de se terem comprometido com a tremenda missão que lhes coube? «Que fazeis? Orai, orai muito. Os corações santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.» De Alcácer Quibir até Fátima acontece a Restauração e a entrega do Reino à Virgem, nossa Rainha verdadeira, com o espantoso voto, de cavalaria espiritual, de defender a Imaculada Conceição nem que seja com o nosso sangue!
Termina, por assim dizer, o ciclo de Cristo ali e inicia-se o ciclo da Virgem, culminando na teofania (angelofania e mariofania) de Fátima. A missão de Portugal subtilizou-se: depois de levar a possibilidade de conversão a todo o mundo, devia agora rezar pela conversão de todo o mundo, tornando-se o “altar do mundo”. Os poetas da Renascença Portuguesa tiveram uma certa intuição, uma notável intuição, mas não era o tempo de terem a intuição certa, pois isso só com o conhecimento integral da mensagem de Fátima poderiam ter visto. Em Ourique, Portugal recebeu, por Cristo, a missão evangelizadora, para ser sobretudo ele o impulsionador no mundo da realização daquele primeiro profético ponto dos Evangelhos que referimos acima; em Fátima, cumprida essa missão, foi ainda digno de receber a missão de anunciar ao mundo o segundo daqueles três eventos, acima referidos: a vinda do Anticristo, referindo-se à apostasia generalizada. Encontramos este anúncio noutras aparições anteriores da Virgem (como em Quito, no Equador, e depois em La Sallette); não posso aqui deter-me agora naquelas aparições. Em todo o caso, Fátima vem reiterar aquelas mensagens de forma conclusiva. Quando a Virgem anuncia que “Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé”, está a dizer-nos que pelo menos em alguns outros locais não se conservará de todo; se juntarmos, como fizemos no último artigo, a mensagem de Fátima ao Catecismo e agora ao Evangelho, veremos facilmente que Fátima, nesta afirmação, vem já avisar-nos para o problema da apostasia generalizada a que se refere S. Paulo, obra do Anticristo nestes tempos a que a Irmã Lúcia intitulava, de forma muito significativa, expressiva e impressionante de “desorientação diabólica”. Devemos procurar estar à altura daquilo que a promessa da Virgem nos exige, isto é, devemos procurar estar, com todas as nossas forças, entre quantos se situam ao lado daqueles que lutam para conservar o dogma da fé e contra quantos procuram alterá-lo.
Não esqueçamos que o “dia do Senhor virá como o ladrão de noite; nesse dia os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão” (II Pedro 3, 10). Sejamos nós, pois, daqueles que segundo S. Pedro, nesta mesma carta: “aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis, em paz.” Em Paz; naquela Paz que Cristo dá, mas não como a dá o mundo: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.” (Jo, 14, 27)
Nota da edição: o artigo acima faz parte da série “Fulgores de Fátima”, uma rubrica assinada pelo filósofo português Pedro Sinde no jornal Diário do Minho. As imagens e as ligações externas foram adicionadas na presente edição, não fazem parte da publicação original.
Os portugueses têm uma imagem de si próprios, espiritualmente, muito menorizada; não é demais, no entanto, insistir que eles têm uma missão; uma missão que os uniu durante séculos e que foram cumprindo quase sem pensar nisso. É verdade que no “interregno”, entre 1580 e 1640, os portugueses pareciam pensar já ter perdido a razão de existir como País, pois, na verdade, a primeira parte da sua missão universal se cumprira já: levar a todo o mundo o cristianismo. Esse período de sessenta anos equivaleu à manifestação exterior de uma mudança de ciclo no interior da alma portuguesa – como o pousio para um campo, assim foi a sua breve reintegração peninsular. A Restauração viria a ser o sinal de que ainda havia sentido para a sua existência.
Em 1646, quando D. João IV entrega Portugal, com a coroa, à Imaculada, semeia uma semente do mundo espiritual nesta nossa terra; semente que permaneceu debaixo da terra, da terra da alma portuguesa, até 1917, altura em que veio a florescer em Fátima. O santuário do Sameiro (1890), dedicado também à Imaculada, foi um primeiro rebento, que veio preparar aquela eclosão de Fátima, situada, curiosamente, em termos geográficos, entre os dois prestigiados santuários à Imaculada que o precederam: Sameiro e Vila Viçosa; e também praticamente coincidindo, de modo bastante significativo, com o centro geográfico de Portugal.
Em 1917, a Virgem veio, pois, dizer aos portugueses que a sua missão se transformara, se subtilizara, mas que iria continuar. Deus quis assim ensinar a três crianças humildes, aquilo que aos doutores quis esconder. E esses mesmos doutores ainda hoje riem pirronicamente das três crianças, ignorando que a sabedoria de Deus é loucura para os homens…
No contexto deste artigo, interessa-nos destacar dois aspectos da mensagem de Fátima, ligados à missão de Portugal:
A Virgem diz, em 13 de julho, que em Portugal se conservará sempre o dogma da fé, e isso apesar dos tempos de generalizada apostasia em que temos vivido. Este ponto é o centro a partir do qual tudo o resto se ordenará: a fidelidade dos portugueses ao depósito da fé (se pudermos identificar “dogma da fé” com “depósito da fé”). A ideia de que haverá uma apostasia generalizada está, de resto, perfeitamente de acordo com o que diz o próprio Catecismo sobre o fim dos tempos (§ 675, onde se fala de uma “impostura religiosa” e de uma prova que “abalará a fé de numerosos crentes”) e, naturalmente, o Evangelho, nas tremendas palavras do Filho de Deus: “Quando, porém, voltar o Filho do Homem encontrará fé sobre a terra?” (Lc XVIII, 8). Se se conservará sempre, então, podemos pensar num papel espiritual análogo ao de um barco, uma barca, uma arca – uma arca de Noé –, enquanto durar o dilúvio espiritual da apostasia; foi em barcos que noutros tempos Portugal levou ao mundo inteiro a boa nova de Cristo, seria agora num barco, mas de outra natureza, que ajudaria a conservação do depósito da fé.
A Virgem veio também dizer que é vontade do seu Filho que o culto ao Coração Imaculado de Maria se difunda em todo o mundo: “para salvar as almas, Deus quer estabelecer no mundo a Devoção ao Meu Imaculado Coração”; estas são as palavras da Virgem logo depois de ter mostrado às três crianças a terrífica visão do Inferno. Ora, é muito evidente que isso não aconteceu ainda e que o culto ao Coração Imaculado não tem dentro da Igreja o lugar digno que corresponda ao desejo de Deus: o de o estabelecer no mundo! O que têm feito os portugueses para este fim? A Igreja portuguesa tem aqui uma função essencial, pedida expressamente pela Santa Virgem. Não seria pequeno o seu contributo se ajudasse a estabelecer no mundo esta devoção, que, na verdade, se vai estabelecendo, muitas vezes apesar da hierarquia. Mesmo em Fátima, esta devoção (penso por exemplo na prática dos Cinco Primeiros Sábados) está muito longe de ter o papel central que devia ter. E aqui se vê que o povo, que acorre a Fátima nos primeiros sábados, fá-lo normalmente por sua própria iniciativa; e esta é a nossa grande esperança, na verdade, a de que no seu sensus fidei, no seu sentido da fé, saiba sempre o povo reconhecer onde está a verdade, mantendo-se fiel; vox populi, vox Dei, voz do povo, voz de Deus.
Temos de nos recordar que a Virgem não pode ter dito em vão aquelas importantes palavras sobre o papel de Portugal na conservação do dogma; seguramente, quis que os portugueses tomassem consciência do que lhes estava reservado, para se prepararem. Lembremo-nos que as seis aparições da Virgem em 1917, foram precedidas pelas três aparições do anjo; este anjo identificou-se dizendo ser o Anjo de Portugal. Isto é absolutamente inusitado nas aparições marianas de todo o mundo e, por isso, devemos ver aí um sinal claro de que estas aparições se ligam intrinsecamente ao ser mais íntimo da identidade portuguesa. O essencial desta missão, ensinaram o Anjo e a Virgem, cumpri-la-á Portugal colaborando com os Céus pela intenção de reparação que deve presidir à sua oração e aos seus sacrifícios, segundo a amorosa doutrina do corpo místico.
Dir-se-ia, no entanto, que Portugal parece tanto à deriva como qualquer outro País para aparecer com uma missão tão grandiosa; também à deriva parecia estar a Arca no dilúvio, no entanto, como antes à Arca, também agora a Divina Providência o conduz, pelas mãos da Virgem: lembremos de novo que desde 1646 é ela quem tem a coroa e, por isso, o poder de reinar. O leme deste barco não está nas mãos dos homens, embora Deus se possa servir circunstancialmente deles. E é aqui que o primeiro ponto se cruza com o segundo, pois onde encontrará refúgio a doutrina, para se conservar, senão no Coração da Mãe? “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc II, 19)… Não é ela, afinal, a Sede da Sabedoria? Não é ela, afinal, a verdadeira Arca da Aliança? E não foi esta senão a prefiguração sua? A consagração de Portugal à Imaculada tem, certamente, relação com a manifestação do Coração Imaculado em Fátima e Balasar (sobre que esperamos escrever noutra ocasião); é no Coração da Mãe que encontraremos, sempre preservadas, as palavras do Filho. Se nos lembrarmos que o depósito da fé se conservará no Coração Imaculado, então será mais fácil de entender porque é que em Portugal, mais do que noutros lugares, se conservará, pois o nosso povo, desde a origem da nacionalidade, praticamente, é de uma fidelidade impressionante à Imaculada. E o povo que permanecer católico, vai perseverar nessa fé. E será dentro da nova Arca de Noé – agora Arca de Maria – que encontrará preservada a Palavra do Senhor: a doutrina, o dogma da fé, o depósito da fé. Porque ali, ainda hoje, a Imaculada medita o profundo mistério do seu Filho na imensidão amorável da Trindade. Assim, será a Imaculada, ela mesma, quem conservará, de novo, a palavra sagrada. Talvez a esta luz já não nos pareça tão inusitada a afirmação da Virgem em torno da conservação do dogma da fé em Portugal, porque aos portugueses caberá manter a fidelidade à Imaculada; e será à Imaculada que caberá a conservação do dogma, coisa que faz, como sua função, vencedora de todas as heresias, desde que meditava, no seu coração, como vimos, os eventos e as palavras do Filho.
Fátima é de uma coerência espantosa, não me canso de o constatar e sempre fico perplexo.
Nota da edição: o artigo acima faz parte da série “Fulgores de Fátima”, uma rubrica assinada pelo filósofo português Pedro Sinde no jornal Diário do Minho. A imagem foi adicionada na presente edição, não faz parte da publicação original.
Faz hoje precisamente 100 anosque Nossa Senhora revelou o Segredo de Fátima a três crianças portuguesas, na Cova da Iria.
No manuscrito da sua IV Memória, concluído em Tuy, a 8 de dezembro de 1941, a Ir. Lúcia acabaria por acrescentar uma informação sobre Portugal a tudo o que já tinha dito e escrito anteriormente a respeito do Segredo ou da aparição de 13 de julho. Trata-se da famosa meia-frase que abre o Segredo de Fátima.
Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc. Isto não o digais a ninguém.
Então, faz também precisamente hoje 100 anos que Nossa Senhora disse que a Fé se conservaria em Portugal. Essa informação – assim como todas as outras contidas no famoso “etc” – destinava-se exclusivamente ao Bispo de Leiria ou ao Patriarca de Lisboa. Falta saber se era apenas uma simples profecia circunscrita a um espaço geográfico ou também uma ordem dirigida ao clero e ao povo português.
Vista parcial do manuscrito da IV Memória da Ir. Lúcia, concluído 8 de dezembro de 1941
Mas terá Nossa Senhora mesmo afirmado que a Fé se conservará sempre em Portugal, ou isso foi entretanto “inventado” pela Ir. Lúcia? Perante esta ridícula questão, subtilmente sugerida ou respondida por alguns dos famosos especialistas em “fatimologia”, temos duas opções: damos crédito ao que a Ir. Lúcia escreveu ou, em alternativa, acreditamos naqueles que gostam de falar por ela – um grupo de eruditos em franco crescimento.
A Ir. Lúcia teve de responder, por escrito, a vários questionários em forma de carta, com o objetivo de aclarar informações e detalhes relativos às aparições – só no ano de 1946 resondeu a três, pelo menos – um deles, bastante exaustivo nas suas 65 perguntas, foi endereçado pelo advogado francês, residente em Marrocos, J. Goulven. As respostas a este questionário foram apresentadas pela Ir. Lúcia num documento que terá sido firmado com a data 30 de junho de 1946.
27ª pergunta e respetiva resposta:
27 – Foi de facto dito que a Rússia se há-de converter, e que Portugal conservará a Fé? Quais as palavras exactas pronunciadas por Nossa Senhora nessa aparição?
27ª pergunta – Sim; é verdade.
(in “Novos Documentos de Fátima”, 1984, p. 348, reportando para os manuscritos da Ir. Lúcia do Arq. Sebastião Martins dos Reis, PC, 69-86)
No livro “Novos Documentos de Fátima”, no final da reprodução da reposta que a Ir. Lúcia deu à 27ª pergunta, o editor acrescentou uma breve nota de rodapé nestes termos: “Como se vê, a Irmã Lúcia não respondeu à 2ª parte da pergunta”. Respondeu contudo à primeira, como podemos constatar, referindo-se claramente à conversão da Rússia e à conservação da Fé em Portugal de forma afirmativa.
Faz hoje também 100 anos que Nossa Senhora prometeu a conversão da Rússia. Sem entrarmos na fastidiosa discussão em torno da validade das consagrações realizadas pelos vários Papas durante o séc. XX, temos de questionar uma vez mais todos aqueles que festejam a conversão da Rússia: a Rússia converteu-se a quê? O verbo “converter” pertence à classe dos verbos transitivos, implica a existência de um complemento, ainda que possa não ser referido de forma explícita. E esta questão continua a fazer muito sentido…
Hoje, precisamente, as celebrações da peregrinação aniversária do 13 de julho, em Fátima, foram presididas pelo arcebispo de Moscovo, D. Paolo Pezzi, em representação de uma parca minoria de católicos atualmente existente na Rússia.
Vive-se, hoje, uma certa euforia na Igreja (curiosamente, talvez até mais fora do que dentro dela!); convém recordar, no entanto, para evitar cair em precipitação, que nada menos do que o próprio Catecismo nos ensina que a “Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes” (Catecismo, § 675). Veremos brevemente como os avisos que nos chegam de Fátima estão em espantosa consonância com a doutrina da Igreja.
Abalo da fé
São palavras tremendas, as que a Igreja diz de si mesma sobre os últimos tempos: a “Igreja não entrará na glória do Reino senão através dessa última Páscoa, em que seguirá o Senhor na sua morte e ressurreição” (idem, § 677). Ora, seja qual for a natureza da prova final, ficámos a saber no Catecismo que ela abalará a fé de numerosos crentes; isto não espantará, naturalmente, nenhum católico que se lembre destas tremendas palavras de Cristo: “Quando porém o Filho do Homem voltar, encontrará porventura fé sobre a terra?” (Lc, 18, 8). Neste ponto, podemos recordar que a mensagem de Fátima avisa justamente para esta questão da perda de fé, ao dizer que “em Portugal se conservará sempre o dogma da fé”. Os melhores intérpretes têm apontado que esta referência parece pressupor a ideia de que noutros lugares o dogma da fé não se conservará. No entanto, temos de atender ao facto de que isto não significa nem que apenas em Portugal se mantenha, nem que fora de Portugal não se mantenha. No entanto, temos a promessa, em palavras da própria Virgem de que em Portugal se manterá. Já alguns têm afirmado que ser em Portugal não quer necessariamente dizer que seja com os portugueses… Portugal pode aparecer nas palavras da Virgem como um lugar, como uma arca de Noé que contivesse os elementos fundamentais da fé intactos para a transição neste processo de morte e ressurreição da Igreja; se não como semente, pelo menos como terreno fértil para a semente. Regressemos agora ao Catecismo no sentido de antever um pouco qual a natureza deste evento tremendo. No mesmo parágrafo citado acima (§ 675), referem-se alguns pontos essenciais, que nos podem ajudar a conhecer a natureza desta prova: “Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o «mistério da iniquidade», sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do Anticristo, isto é, dum pseudo-messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado.”
Podemos, assim, reconhecer os principais elementos da prova final:
– ocorrerá uma perseguição: e a quem poderia ser, senão a quantos se mantiverem fieis à Igreja?;
– esta perseguição “porá a descoberto o «mistério da iniquidade»: sob a forma de uma impostura religiosa”;
– esta impostura religiosa – que enganará os crentes (e de que modo, senão emergindo mesmo do interior do Catolicismo?) – caracterizar-se-á por apresentar “aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade”;
– o modo pelo qual se realizará esta impostura será o de um “pseudo-messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado”.
Numa importante nota (nota 643), o Catecismo descreve especificamente um “falso misticismo” que é a “simulação da redenção dos humildes”. Esta questão dos humildes ou dos pobres aparece, pois, como uma ‘pedra de toque’ ou uma ‘pedra de tropeço’ e deve ser vista à luz meridional dos Evangelhos e não à luz de qualquer ideologia: – Judas, esse que O havia de trair, exclama, escandalizado por ver Maria a ungir os pés do Messias com um caro perfume: “Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros, e não se deu aos pobres?” E a surpreendente resposta de Jesus é esta: “Pobres sempre os tereis entre vós, mas a Mim nem sempre me tereis” (Jo, 12, 8). – Mas talvez ainda mais importante é a seguinte afirmação: “É mais fácil passar um camelo no buraco da agulha do que um rico entrar no reino de Deus” (Mt, 19, 24; Lc, 18, 25). Desta perspectiva, que é a de Deus (!), não está o pobre em vantagem em relação ao rico? Diz a erudita Irmã Jeanne d’Arc que “buraco da agulha” era o nome de uma rua de Jerusalém muito estreita e praticamente impossível de passar com o camelo carregado. Isto nos mostra que ao rico não é impossível entrar no reino de Deus, mas apenas que é mais difícil (sobretudo se quiser passar carregado com as suas riquezas). A nobreza da pobreza evangélica opõe-se ao modo meramente materialista e bélico das ideologias de qualquer tipo.
Abalo cósmico
E o abalo da fé, referido acima, parece ter como consequência um abalo cósmico. No § 677, diz-se ainda que o “triunfo de Deus sobre a revolta do mal tomará a forma de Juízo Final, após o último abalo cósmico.” Fixemos esta impressionante expressão e recordemos a seguinte visão da Irmã Lúcia (tal como narrada em Um Caminho sob o Olhar de Maria, p. 267):
Vista parcial do manuscrito da Ir. Lúcia publicado no livro “Um Caminho sob o Olhar de Maria: Biografia da Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado”, 2013
(Depois de dificultosamente escrever a terceira parte do segredo, anota): “E senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e N’Ele vi e ouvi, – A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, – Ela estremece, montanhas, cidades, vilas e aldeias com os seus moradores são sepultadas. – O mar, os rios e as nuvens, saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que se não pode contar, é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. – O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora!” (3-1-1944).
Impressionante descrição! Aquela “ponta da lança como chama que se desprende” e que “toca o eixo da terra”, fazendo-a estremecer, não será verdadeiramente aquele “abalo cósmico” a que se refere o próprio Catecismo? O abalo da fé, implícito na mensagem de Fátima, não será, como no Catecismo, a causa do abalo cósmico? E não diz a Irmã Lúcia, numa carta ao Cardeal Carlo Caffarra, que a coluna que sustenta a criação é a família e que, por isso, o último ataque de Satanás será sobre a família e a santidade do matrimónio? Se não devemos deixar-nos derrotar pelos eventos previstos, por muito difíceis que se nos afigurem os tempos, também não devemos deixar que as vagas das modas ideológicas deste mundo nos levem embalados e afastem da barca firme. Temos, de resto, a promessa da Virgem, ela mesma, em Fátima, e em palavras inequívocas: “por fim o meu Imaculado Coração triunfará”!
Nota da edição: o artigo acima faz parte da série “Fulgores de Fátima”, uma rubrica assinada pelo filósofo português Pedro Sinde no jornal Diário do Minho, a presente edição visa apenas a sua divulgação. As imagens foram adicionadas na presente edição, não fazem parte da publicação original.
Os bispos portugueses continuam a necessitar das orações de todos nós. Durante esta semana, se possível ainda hoje, devemos fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento para orar e confirmar, mais uma vez, o nosso total empenho na conservação do dogma da Fé em Portugal, o qual conduzirá o mundo ao triunfo do Imaculado Coração de Maria.
Durante esta semana, os bispos portugueses terão sido, muito provavelmente, submetidos a mais uma “suave apresentação de produtos” pastorais inovadores, durante as jornadas que decorreram em Fátima entre 19 a 21 de junho.
O tema das jornadas não podia estar mais na moda: ‘Formação da consciência e discernimento’, à luz das orientações do Papa para a família. E como toda a gente já sabe perfeitamente quais são as orientações do Papa para a família, é bastante provável que estas jornadas tenham sido orientadas no sentido da adaptação do clero português à aprovação “pastoral” do adultério e permissão de confissões e comunhões sacrílegas. As inovações radicais pretendidas para a Igreja Portuguesa já estão em vigor em vários países e dioceses do mundo inteiro, ainda que se encontrem em completa contradição com a doutrina da Igreja, conforme atestou o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
A popularidade da ideologia da “nova misericórdia” é uma forte ameaça à doutrina cristã sobre o matrimónio e da família, apresentando-se, para muitos, como uma alternativa inquestionável.
Apresentação do manual “Como aplicar Amoris Laetitia“ do cardeal Martínez Sistach, em Madrid, in13TV (canal da Conferência Episcopal Espanhola), 15/02/2017
Esperemos que os bispos portugueses continuem fiéis Jesus Cristo e não caiam na tentação de entrar no novo “spa” episcopal. Nossa Senhora os guarde.
Trata-se de uma revelação verdadeiramente explosiva para quem se interessa pelo fenómeno de Fátima e que tem sido curiosamente ignorada em Portugal.
Digitalização gentilmente cedida pela autora Cristina Siccardi, onde se refere, em 1655, descrevendo uma revelação de 1454, que a Virgem iria aparecer em Fátima, Portugal e venceria para sempre Satanás.
No dia 19 de Agosto de 1999, no arquivo do Mosteiro das Dominicanas de Alba são reencontrados alguns documentos do século XVII e que dizem respeito a… Fátima. Trata-se de um conjunto de documentos de diferentes proveniências em que vários testemunhos narram, por vias autónomas umas das outras e confirmando-se reciprocamente, a seguinte história:
no dia 16 de Outubro de 1454, no referido mosteiro de Alba, a Irmã Filipina de’Storgi, com fama de santidade, no leito de morte recebe a extrema-unção e a comunhão, entrando em êxtase. Durante o êxtase, a comunidade, reunida à sua volta, ouve, com espanto, a sua conversa com Nossa Senhora do Rosário, Santa Catarina de Siena, o Bem-aventurado Humberto, o Abade Guilherme de Sabóia e S. Domingos; neste colóquio são-lhe anunciados vários eventos, de uma forma muito precisa e que vieram a acontecer ao longo do tempo, tal como se nos explica no lúcido e corajoso livro de Cristina Siccardi (ver referência abaixo), estas profecias dizem respeito à família Saboia, cujo destino se cruza, em vários momentos fulcrais, com Portugal. A este assunto, tão interessante, esperamos dedicar um outro artigo.
Uma destas profecias, referida por Cristina Siccardi, prestigiada autora, menciona um certo “monstro” do oriente (que tem sido identificado, no contexto de Fátima, com o comunismo e os ‘erros da Rússia’ que se espalharam pelo mundo) que será a causa de tribulações para a humanidade, mas «que será vencido por Nossa Senhora do Rosário de Phatima» [sic!], em Portugal, «se todos os homens a invocarem com um espírito intenso de penitência» (manuscrito de 1640). Num outro manuscrito, de 1655, que resume o acontecimento de 1454, diz-se que «na Lusitânia, há uma igreja numa aldeia chamada Fatima […] e que uma estátua da Santíssima Virgem Maria preveniu sobre acontecimentos futuros extremamente graves pois Satanás fará uma guerra terrível mas perderá, porque a Santíssima Virgem Maria de Fatima, Mãe de Deus e do santíssimo rosário, ‘mais forte do que um exército formado para a batalha’ o vencerá para SEMPRE.» [ver a reprodução do manuscrito]. Esta referência à estátua leva-nos a duas sucintas considerações: uma das razões por que se realizam os Cinco Primeiros Sábados é desagravar o Coração Imaculado da Virgem por causa dos ataques às suas imagens sagradas; lembremo-nos ainda do significado mundial que teve e ainda tem a peregrinação da Virgem por todo o mundo. Este “para SEMPRE” deve-nos apontar ainda para a mensagem de Fátima, e a prometida vitória final do seu Imaculado Coração: “No final, o meu Imaculado Coração triunfará”; esta promessa incondicional conjugada com o sinal tremendo que foi o milagre do sol e este anúncio profético (à distância de 453 anos!), descoberto por Cristina Siccardi no mosteiro de Alba, aponta-nos com clareza para a ideia de que as aparições de Fátima se ligam directamente à luta apocalíptica entre a Virgem e o anjo caído que a odeia.
O que era Fátima no século XV? Sabemos que lá existia uma igreja com um convento, na zona da actual igreja paroquial; este conjunto terá sido edificado pelos monges de Alcobaça e com o apoio particular da rainha D. Mafalda, a mulher de D. Afonso Henriques. Sobre o significado desta rainha, teremos de deixar para outro artigo, dado o conjunto complexo (e maravilhoso) de relações que ligam profundamente Portugal e a casa de Sabóia. Esta igreja foi visitada no século XV por um familiar Saboia da primeira rainha de Portugal, ela mesma Saboia.
Cristina Siccardi, Fatima et la Passion de l’Église. Éditions Le Drapeau blanc, 2017.
[tradução de Fatima e la Passione della Chiesa. Milão: Sugarco, 2012]
Nota da edição: o artigo acima faz parte da série “Fulgores de Fátima”, uma rubrica assinada pelo filósofo português Pedro Sinde no jornal Diário do Minho, a presente edição visa apenas a sua divulgação.
Vi ainda que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus.
Fiquei espantado, ao ver tão grande prodígio. (Ap 17, 6)
O que é Amoris Laetitia?
Deixemo-nos de eufemismos, falácias ou outras falsidades intelectuais e falemos verdade, em nome de Deus.
Praticar Amoris Laetita,no sentido pretendido do conceito, significa obter/dar absolvição sacramental e receber/dar a Sagrada Comunhão apesar do adultério. É uma prática pastoral que, na sua essência, está em profunda contradição com a doutrina da Igreja Católica mas que o Papa Francisco tenta insistentemente impor, de forma incansável e obsessiva, desde o início do seu sinistro pontificado.
Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.» (Mc 10, 11-12)
Dois milénios depoisde Cristo,chega uma doutrina nova e antagónica, que propõe uma pastoral contrária ao ensinamento de Jesus e da sua Igreja – não é que não estivéssemos avisados (1Tm 6, 3-4). Está aí, foi formalmente aprovada pela Igreja Católica e já está a ser universalmente praticada a uma escala crescente e difícil de quantificar. Um enorme sacrilégio, alegadamente inspirado pelas “surpresas do Espírito Santo”, como se as Pessoas da Santíssima Trindade pudessem entrar em contradição… Que disparate tão grande, que blasfémia tamanha!
O adultério é um pecado extremamente grave que nos afasta da Graça de Deus, portanto qualquer caminho penitencial terá de orientar-se sempre no sentido da conversão do pecador. Só o profundo arrependimento, a contrição e o propósito de mudança de vida poderão reaproximar da Graça de Deus aqueles que caíram ou permanecem no grave pecado do adultério. Todavia, o Papa insiste que os sacerdotes devem conceder a absolvição aos adúlteros não arrependidos e oferecer-lhes a Sagrada Comunhão, ainda que estes continuem obstinados na sua condição de pecado. Que Papa é este? O que pretende ele oferecer a tantas almas em risco de perdição eterna?
Assim, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, examine-se cada um a si próprio e só então coma deste pão e beba deste vinho; pois aquele que come e bebe, sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação. Por isso, há entre vós muitos débeis e enfermos e muitos morrem. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados; mas, quando somos julgados pelo Senhor, Ele corrige-nos, para não sermos condenados com o mundo. (1Cor 11, 27-32)
A prática da Amoris Laetitia alastra-se de forma viral pelo mundo inteiro. Há cada vez mais dioceses e conferências episcopais que disponibilizam a nova misericórdia de Francisco a todos aqueles que recusam receber a misericórdia de Cristo. Isto é, em si, um ato de justiça divina de dimensão apocalítica. Até onde chegará este castigo? Até quando durará este flagelo? São necessárias muitas orações e penitência pelos pecadores que caíram nesta cilada de Satanás.
Quando rezardes o terço dizei depois de cada mistério: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.
(N.ª S.ª de Fátima aos pastorinhos em 1917)
Vivemos atualmente num tempo de profunda “desorientação diabólica”, um tempo em que, mais do que nunca, necessitamos de recorrer ao Imaculado Coração de Maria, o nosso “refúgio”, o caminho que nos “conduzirá até Deus” (nas palavras de Nossa Senhora de Fátima). Um tempo em que tantos dos pastores da nossa Igreja já não são capazes de desempenhar verdadeiramente as funções para as quais foram mandatados por Cristo. Um tempo de apostasia. Um tempo que, em termos escatológicos, faz parte dos últimos tempos.
Como é que nós rezamos hoje, se é que ainda rezamos? Pedimos ainda perdão pelos nossos pecados ou pedimos agora a Deus que aceite as nossas iniquidades? Que esperamos nós obter quando nos aproximamos do confessionário, o perdão dos nossos pecados ou a desvalorização da nossa culpa? Para que servem os nossos sacerdotes? Permita Deus que eles continuem a conduzir-nos pelaúnica “porta estreita” (Mt 7, 13), ainda que nós não o mereçamos.
De todas as portas que têm sido abertas, algumas propõem caminhos estranhamente fáceis e perigosos, avessos à vontade de Deus. Ainda assim, o cristão continua dono da sua liberdade, pois, apesar de tudo, ninguém lhe retirou ainda o direito de optar pela porta estreita, pelo caminho da cruz.
A prática da Amoris Laetitia, feita de acordo com a interpretação que o Papa Francisco deseja, representa a porta larga, a “entrada do sepulcro”, – recorrendo às palavras do ex-cardeal Bergoglio – mas, neste caso, do sepulcro eterno. Bergoglio é hoje Papa, supostamente a pedra que nos impede de cair no sepulcro eterno. Que Deus nos acuda!
Chegou a vez de Portugal?
Muitos fiéis portugueses continuam numa espécie de limbo, à espera das tais “portas” que autorizem a prática da Amoris Laetita também no nosso país. Faz lembrar os anos em que o aborto era ainda ilegal e mal visto em Portugal, quem o quisesse praticar teria de ser muito discreto ou então procurar uma alternativa para lá da fronteira. Hoje, infelizmente, o nosso país orgulha-se de possuir uma das políticas abortivas mais avançadas do mundo. Será que Portugal irá posicionar-se também na vanguarda desta loucura satânica de legitimar a conciliação entre o adultério e o “corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo”? Permitirá algum dia Nossa Senhora, rainha e padroeira do povo seu protegido, que a Igreja Portuguesa adote institucionalmente esta impostura sacrílega pseudo-misericordiosa?
O Semanário Ecclesia, propriedade da Conferencia Episcopal Portuguesa (CEP), na sua última edição, deu um enorme destaque editorial à controversa exortação apostólica do Papa Francisco, mostrando, em vários artigos, uma forte simpatia por esta nova pastoral obscena de simbiose entre o Santíssimo Sacramento e o adultério. Vejamos alguns excertos, por exemplo este (depois do minuto 18:00):
“A grande questão dos quatro cardeais que queriam que o Papa dissesse ‘sim’ ou ‘não’, mas isto não tem sim ou não, o princípio é exatamente não ficar num sim ou não, nos que podem ou não podem, os bons e os maus. Não, todos estão no caminho, nem sequer há bons, todos estamos no caminho.”
“A Comunhão tem muitos graus de pertença, de participação, mas a questão é também perceber que a Comunhão sacramental não é um bónus para os bons, é um remédio para os pecadores, um alimento para os pecadores.”
Pois sr. Pe. Magalhães, mas foi precisamente Cristo que nos exortou a dizer claramente “sim, sim” e “não, não”, advertindo que “tudo o que for além disto procede do espírito do mal” (Mt 5, 37). Aliás sr. Padre, essa advertência, no capítulo 5 do Evangelho segundo São Mateus, surge apenas cinco versículos depois do esclarecimento taxativo de Jesus Cristo acerca do problema – que afinal é bem antigo – “dos divorciados recasados” (Mt 5, 32). E já agora, sr. Padre, talvez seja melhor voltar ler a carta dos 4 cardeais, desta vez com mais atenção, porque, se não estamos em erro, em nenhum ponto se sugere que os fiéis sejam distinguidos entre “os bons e os maus”. Nessa carta, apenas se pede, em tom de humildade, uma simples clarificação para evitar as evidentes interpretações abusivas que se multiplicam por todo o lado e que estão em absoluta contradição com o infalível magistério da Igreja. Interpretações que, de forma não assumida, contestam, por exemplo,aquilo que São João Paulo II pregou há poucos anos em Portugal… Como esse ensinamento não foi revogado, então Nossa Senhora nos dê boa memória.
Nossa Senhora da Boa Memória – Sé de Braga
Sobre o facto de a “Comunhão Sacramental” ser “um alimento para os pecadores”, falta acrescentar uma pequena palavra à sua frase: “arrependidos”. Faz toda a diferença!
Outra citação interessante é esta:
Sem dúvida, assim o têm pensado Conferências Episcopais, grupos de Bispos e dioceses que têm refletido e aceite as suas propostas e diretrizes, convertendo-as em linhas renovadoras da Pastoral Familiar.
Também entre nós, um grupo de Bispos decidiu aprofundar os ensinamentos da Exortação e propor caminhos para a concretização das suas orientações. O grupo dos Bispos das dioceses do Centro do País que, desde há muitos anos, se reúne mensalmente, estudou este Documento. Perante as dificuldades atuais com as quais as Famílias se debatem, tem encontrado e proposto caminhos que, concretizados em cada uma das Igrejas Particulares vão, certamente, dar frutos.
Esta notícia não é bem uma novidade, pois não? A vontade dos bispos da Região Centro – que Deus tenha misericórdia para com eles – parece que já existia bem antes da conclusão do chamado Sínodo da Família. Deve ser portanto anterior à publicação da controversa exortação apostólica que, de forma perversa e subtil, tem minado as bases da doutrina cristã, no que diz respeito ao matrimónio e à família. A única novidade aqui é a rigidez da cabeça da serpente, que talvez não tenha sido ainda completamente esmagada pela Conferência Episcopal Portuguesa.
Depois vem a opinião do sr. Pe. Miguel Almeida, outro jesuíta:
Compete à Igreja acompanhar, discernir e integrar estas situações incompletas para que se caminhe para a completude.
Com o devido respeito sr. Padre, essa a filosofia contribui, acima de tudo, para a “completude” da ditadura relativista, atacando incisivamente o último reduto da razão humana que é a moral cristã e posicionando consequentemente a humanidade no caminho da “completude” do mistério da iniquidade, que “já está em ação” (2Ts 2, 7) há bastante tempo. Ao nível individual, a prática do sacrilégio proposto e incentivado pelo Papa Francisco conduz as almas à “completude” da perdição, que é a condenação eterna.
Outro excerto:
Reconhecemos que este caminho de conversão proposto pela Amoris Laetitia levará o seu tempo, pois estão causa pessoas com rotinas, hábitos, porventura desatualizadas e sobrecarregadas, mas importa não esquecer a linha de rumo da Exortação Apostólica, que passa, em primeiro lugar por uma nova leitura a fazer por muitos membros do clero, ocupados com tarefas secundárias relativamente à sua missão fundamental, delegando, de modo a libertarem tempo para acolher, perceber, integrar, fazer direção espiritual, preparar as homilias, colocar no centro o Senhor Ressuscitado, humanizar o serviço paroquial.
(Manuel Marques, Departamento Nacional da Pastoral Familiar, Página 46)
Observe-se como, de repente, a necessidade de “conversão” – e isto tem sido uma constante no pontificado de Francisco – deixou de ser um propósito para quem caiu em pecado, para se transformar num objetivo estratégico a atingir nos pastores da Igreja. Os pastores são quem terá agora de converter-se, mais precisamente à doutrina do Papa Francisco, para poderem aceitar misericordiosamente a permanência no pecado, ainda que este seja grave. O pecado que, também agora, deixou de ser considerado pecado para passar a ser apenas uma mera “situação irregular”, a qual acabará necessariamente por regularizar-se no final deste processo de “discernimento”, após a conversão dos pastores. Isto até daria para rir se não fosse tão trágico…
Não será isto uma inversão diabólica de toda a lógica da conversão? Não é isto algo profundamente iníquo e uma completa adulteração da essência do sacramento da reconciliação? De onde virá esta nova misericórdia, de Deus ou de Satanás?
Logo a seguir, no mesmo artigo da revista da Igreja Portuguesa, surge aquilo que parece ser alguns piedosos insultos, também eles característicos da nova pastoral, tais como: “pessoas (…) porventura desatualizadas” ou “membros do clero, ocupados com tarefas secundárias“… Mas a quem se referem eles afinal? Aos bispos e sacerdotes que ainda acreditam na Verdade Cristã a respeito do matrimónio e da família? Ao ainda vivo Santo Padre Bento XVI que nunca aceitou esta heresia? Ao Patriarca de Lisboa?
D. Manuel Clemente é um daqueles que, graças a Deus, tem repetidamente interpretado a exortação apostólica à luz do tradicional magistério da Igreja.
Se os piedosos insultos forem destinados também a ele, a situação torna-se paradoxal, uma vez que é ele quem preside à conferência dos bispos portugueses, a proprietária do semanário em análise…
Vejamos apenas mais uma citação, esta referente ao período Pós-Alegria do Amor:
Também neste tempo foi evidente uma forte reação de alguns setores da Igreja que têm invadido os meios de comunicação social e a Internet com acusações ao Papa, desmentindo qualquer novidade desta exortação apostólica relativamente à «Familiaris Consortio» de São João Paulo II, publicada em 1981.
Argumentam que este Papa não pode desmentir ou contradizer o ensinamento de São João Paulo II – de que só os divorciados recasados que vivam continência sexual podem receber o sacramento da Eucaristia – e questionam ou ignoram o percurso de discernimento sugerido pelo Papa, quando tal proposta resultou do relatório final do Sínodo Ordinário dos Bispos aprovado pelos padres sinodais por larga maioria em 24 de outubro de 2015, que nos seus pontos 84 a 86 o incentiva.
Esperemos que nos anos vindouros se avance mais nestes assuntos e que as conferências episcopais de mais países, inclusive a portuguesa, (até agora só da Argentina, Malta e Alemanha) publiquem orientações de como praticar a «Amoris Laetitia».
Como podemos reparar no excerto acima transcrito, umórgão de comunicação social sob a tutela da Igreja Portuguesa acabou de publicar um texto onde não só se admite que é possível “desmentir ou contradizer o ensinamento de São João Paulo II” sobre o matrimónio, como até se assume que isso já aconteceu graças à exortação apostólica de Francisco. Estas afirmações são muito graves, como é grave tudo aquilo que tem vindo a acontecer na Igreja desde 2013 para cá, mas os portugueses continuam a assobiar para o lado como se isto não lhes dissesse respeito. Quem irá defender a Fé herdada dos nossos egrégios avós?
Nossa Senhora de Fátima salvai-nos e salvai Portugal das funestas intenções deste Papa!
Partindo da ideia de um amigo, este blogue pede a todos os seus leitores, colaboradores e amigos, em Portugal, no Brasil e no mundo em geral para rezarem hoje o terço a Nossa Senhora do Rosário de Fátima com a intenção de que o dogma da fé sempre se conserve em Portugal.E se possível façamos uma visita ao Santíssimo Sacramento para oferecer essa intenção.
Sacrário da Sé do Porto
Mais cedo ou mais tarde, o Imaculado Coração de Maria acabará por triunfar. Se for mais cedo, melhor será para todos nós.
O Papa Francisco definiu o dia 22 de outubro como o dia de São João Paulo II.
João Paulo II foi um grande defensor da Verdade cristã sobre o matrimónio e a família, resistindo firmemente, no seu tempo (que é o nosso tempo), contra as tentativas mundanas de adulteração dessa mesma Verdade.
Altar de São João Paulo II – Igreja Matriz de Portimão (Igreja de Nª Sª da Conceição)
Em 1982, apenas um ano após o violento atentado sofrido em Roma e cerca de meio ano depois da publicação da exortação apostólicaFamiliaris Consortio – cuja doutrina é agora contrariada pela Amoris Laetitia -, o Santo Padre João Paulo II presidiu à “Santa Missa para as Famílias” precisamente no santuário Daquela cujo “Imaculado Coração” acabará por triunfar. Foi no dia 15 de Maio, no Santuário da Imaculada Conceição do Monte Sameiro, em Braga, perante muitos milhares de fiéis portugueses e também muitos espanhóis da Galiza.
Santuário de Nossa Senhora da Imaculada Conceição do Sameiro (Braga)
Vale a pena recordar agora algumas das recomendações de Sua Santidade João Paulo II, pois se as suas palavras eram verdadeiras 1982 também o são em 2016. Até serão mais úteis hoje, precisamente quando há tanta gente confusa e confundida.
Aquilo a que João Paulo II chamava “sinal de contradição”, referindo-se à missão da Igreja no mundo, representa exatamente o oposto da deriva da Igreja Católica por estes dias, nomeadamente nas questões do matrimónio e da família.
Homilia do Papa João Paulo II na Santa Missa para as Famílias no Santuário da Imaculada Conceição do Sameiro em 1982:
[…]
Que as famílias deste País se consolidem no amor e na unidade como imagem do amor de Cristo à sua Igreja (Cfr. Eph. 5, 25) e continuem assim a cumprir a missão que Deus lhes confiou: para isso rezamos nesta Eucaristia, persuadidos de que também o futuro de Portugal passa pela família (cf. João Paulo II, Familiaris Consortio, Concl.).
2. Na família reside e da família, mais do que de qualquer outra sociedade, instituição ou ambiente, depende o futuro do homem.
[…]
O matrimónio é o alicerce da família como a família é o vértice do matrimónio. É impossível separar um da outra. É preciso considerá-los juntos à luz do futuro do homem.
Esta é uma verdade evidente e, não obstante, é também uma verdade ameaçada.
[…]
6. Os bens divinos da Aliança e da Graça estão, desde o princípio, unidos à família. Por isso, também o matrimónio, em certo sentido, desde o princípio, é sacramento, como símbolo da futura encarnação do Verbo de Deus. Sacramento que Cristo confirmou e ao mesmo tempo renovou com a palavra do Evangelho e com o mistério da sua Redenção.
Pela virtude do Espírito Santo, o homem e a mulher estreitam entre si a Aliança Matrimonial, que, por instituição divina, “desde o princípio” é indissolúvel.
Radicada na complementaridade natural que existe entre o homem e a mulher, a indissolubilidade é sancionada pelo recíproco compromisso de doação pessoal e total, e é exigida pelo bem dos filhos. À luz da fé, manifesta-se a sua verdade última, que é a de ser proposta “como fruto, sinal e exigência do amor absolutamente fiel, que Deus Pai tem para com o homem, e que o Senhor Jesus vive para com a Igreja”. Com estas palavras expus o ensino tradicional da Igreja, na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio, 20”, a pedido dos Bispos de todas as partes do mundo, reunidos em Sínodo, em Roma, para estudar os problemas da família cristã no mundo de hoje.
Esta doutrina não se harmoniza, certamente, com a mentalidade de tantos contemporâneos nossos que julgam impossível um compromisso de fidelidade para a vida inteira. Os Padres do Sínodo, conscientes embora das actuais correntes ideológicas contrárias, declararam que é missão específica da Igreja “apregoar o alegre anúncio da irrevocabilidade daquele amor conjugal que tem em Jesus Cristo o fundamento e o vigor” (Familiaris Consortio, 20). E esclareceram que tal missão não se impõe somente à Hierarquia; também a vós, a cada um dos casais cristãos, chamados a ser no mundo um “sinal”, sempre renovado, “da fidelidade imutável com que Deus e Jesus Cristo amam a todos e cada um dos homens” (Ibid. 84).
7. Cada um dos homens: portando também aquele ou aquela que se encontra a braços com um casamento que fracassou. Deus não deixa de amar os que se separam, nem mesmo os que iniciaram uma nova união irregular. Ele continua a acompanhar tais pessoas com a imutável fidelidade do seu amor, chamando continuamente a atenção para a santidade da norma violada e, ao mesmo tempo, convidando a não abandonarem a esperança.
Reflectindo, de algum modo, o amor de Deus, também a Igreja não exclui da sua preocupação pastoral os cônjuges separados e novamente casados; pelo contrário, põe à sua disposição os meios de salvação. Embora mantendo a prática, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir tais pessoas à comunhão eucarística, dado que a sua condição de vida se opõe objectivamente ao que a Eucaristia significa e opera, a Igreja exorta-os a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o sacrifício da Missa, a perseverar na oração e nas obras de caridade, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência, a fim de implorarem dessa forma a graça de Deus e se disporem para a receber.
A Igreja tem consciência de ser no mundo, com este ensino, “sinal de contradição”. As palavras proféticas, que Simeão pronunciou sobre o Menino, aplicam-se a Cristo na sua vida, e também à Igreja na sua história. Muitas vezes Cristo, o seu Evangelho e a Igreja, tornam-se “sinal de contradição” perante aquilo que no homem não é “de Deus”, mas do mundo ou até do “príncipe das trevas”.
Mesmo chamando o mal pelo nome e opondo-se-lhe decididamente Cristo vem sempre ao encontro da fraqueza humana. Procura a ovelha tresmalhada. Cura as feridas das almas. Consola o homem com a sua cruz. No Evangelho não faz exigências a que o homem não possa satisfazer com a graça de Deus e com a própria vontade. Pelo contrário, as suas exigências têm como finalidade o bem do homem: a sua verdadeira dignidade.
[…]
Em continuidade com as normas reafirmadas no Concílio Vaticano II e na Encíclica “Humanae Vitae” e recolhendo o sentimento dos Padres do último Sínodo dos Bispos, recordei na recente Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, entre os direitos prioritários dos pais, o de terem os filhos que desejarem, recebendo ao mesmo tempo o necessário para criá-los e educá-los dignamente. Por isso, a Igreja condena como ofensa grave à dignidade humana e à justiça as manobras para cercear de maneira indiscriminada a liberdade dos cônjuges em relação à transmissão da vida e à educação dos filhos.
Senti-me no dever de denunciar também uma insidiosa “mentalidade contra a vida”, que se infiltra no pensamento actual.
Deus diz a cada homem: acolhe a vida concebida por obra tua! Di-lo pelos seus mandamentos e pela voz da Igreja; e di-lo directamente, pela voz da consciência humana. Voz potente que não se pode deixar de ouvir, não obstante outras a vozes” dissonantes, não obstante o que se fizer para a abafar.
O carácter ao mesmo tempo corporal e espiritual da união conjugal, sempre iluminada pelo amor pessoal, há-de levar a respeitar a sexualidade, a sua dimensão plenamente humana, e a nunca “usá-la” como um “objecto”, a fim de não dissolver a unidade pessoal da alma e do corpo, ferindo a a própria criação de Deus, na relação mais íntima entre natureza e pessoa” (Familiaris Consortio, 32)
A responsabilidade na geração da vida humana – da vida que deve nascer numa família – é grande diante de Deus!
Quando os preceitos previstos em duas diferentes exortações papais cronologicamente tão próximas se contradizem de forma tão incisiva, não podem ser ambos verdadeiros. Cada um que escolha de acordo com a doutrina (ou a pastoral) que lhe inspire mais confiança!
Havia tanta pressa para canonizar João Paulo II, para colocá-lo nos altares, mas depois ignora-se e contraria-se aquilo que o santo ensinou ainda há tão pouco tempo… Que diria São João Paulo II desta nova “misericórdia”?
Notícia de capa do Semanário Sol de 31 de julho de 2015
Relativamente a Portugal, apesar de não ter sido uma questão fácil, o problema estava resolvido já no ano passado. O Cardeal Patriarca de Lisboa levou ao Sínodo da Família a posição da Igreja Portuguesa favorável à defesa do tradicional conceito de matrimónio cristão e da necessidade de proteção à família. Esperemos que a cúria romana não reacenda o incêndio.
O jornal refere que os representantes da Igreja portuguesa estavam divididos, o que de resto não surpreende quando nem mesmo Roma tem mostrado muita certeza. Uma grande parte dos bispos, maioritariamente da Região Centro, liderados curiosamente pelo bispo de Leiria-Fátima, pretendiam introduzir as heréticas inovações kasperianas na pastoral familiar. Um solução inviável pois, com muitos teólogos têm explicado, a pastoral da Igreja não pode ser contrária à sua doutrina, mas antes o reflexo da mesma.
Na hora de decidir qual o parecer que a Igreja portuguesa ia enviar para o Vaticano sobre este assunto, o bispo António Marto apresentou um documento que subscrevia a polémica visão do cardeal Walter Kasper sobre o acesso dos divorciados recasados à comunhão. Segundo esta proposta, os recasados poderiam voltar a comungar na missa após um percurso penitencial. Haveria uma análise caso a caso e uma decisão final que caberia ao bispo da diocese.
O bispo de Leiria-Fátima, que é também o vice-presidente da CEP,apresentou esta proposta detalhadamente, recebendo olhares de entusiasmo de uns e sinais de reprovação de outros. “Demorámos muito tempo com este assunto. Havia muitos a abanar a cabeça”, contou ao SOL um dos bispos presentes na reunião.
[…]
Para o cardeal [Patriarca, D. Manuel Clemente], e ao contrário do colega de Leiria-Fátima, não deve alterar-se a doutrina católica, que defende queo casamento é indissolúvel e que os divorciados que voltam a casar vivem uma situação de adultério, estando por isso impedidos de comungar a hóstia na missa. Manuel Clemente defendeu então um caminho alternativo: o da simplificação dos processos de nulidade do matrimónio. Um procedimento que já está previsto na Igreja e consiste na avaliação das condições em que foi realizado o casamento. Se ele for considerado inválido, os casais ficam livres para uma segunda união, podendo nesse caso comungar.
Felizmente, a Verdade acabaria por prevalecer naquela reunião da Conferência Episcopal do verão passado. O Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, esteve à altura do cargo que desempenha, defendendo a santidade e a indissolubilidade do Matrimónio.
Recorte da versão impressa do jornal Sol de 31 de julho de 2015 (D. Manuel Clemente na foto)
Quando saiu, no ano passado, esta notícia trouxe à memória de muita gente aquela meia frase enigmática que já fez correr muita tinta e não deixa que o Segredo de Fátima seja definitivamente enterrado, como muitos desejam.
Meia frase adicionada pela Ir. Lúcia, na sua 4ª Memória, de 1941, à já então conhecida mensagem de Fátima (início do 3º Segredo)
“O confronto final entre Deus e Satanás será sobre a família e a vida.”
“Não tenha medo, acrescentava, porque quem trabalha pela santidade do casamento e da família será sempre combatido e odiado de todas as formas, porque este é o ponto decisivo.”
“Advertia-se também, falando com João Paulo II, que este era o ponto central, porque se tocava a coluna que sustenta a Criação, a verdade sobre a relação entre o homem e a mulher, e entre as gerações. Quando se toca a coluna central, todo o edifício cai, e é isso que estamos a ver agora, neste momento, e já sabemos.”
Fazendo um triangulação destes três dados, nomeadamente, a recente posição do clero português, a meia frase enigmática de Fátima e a carta do Cardeal Caffarra, podemos deduzir parte do que poderá estar encerrado dentro do famoso “etc”. Mas há-de haver, com certeza, muito mais. Esperemos que o Santo Padre se tenha deixado também inspirar por estes três detalhes antes de redigir a importante exortação apostólica.
A ideia de que o Segredo de Fátima foi completamente revelado pelo Vaticano no ano 2000 já não convence, neste momento, muita gente, por várias razões.
Primeiro, porque o Segredo revelado não tinha nada de excecional para não poder ser publicado antes.
Depois, porque as referências anteriormente conhecidas ao conteúdo do referido texto, por parte daqueles que tinham tido acesso ao documento (Papas incluídos), não se confirmaram no Segredo publicado (excetuando algum eventual sentido simbólico da visão descrita, difícil de interpretar).
Finalmente, porque existem detalhes técnicos e factuais que fazem transparecer uma ideia de “gato escondido com o rabo de fora”.
Uma investigação atenta sobre esses detalhes, confrontada com algumas das informações anteriormente reveladas sobre o Segredo, bem como com factos documentados, pode suscitar mais dúvidas ou então aumentar certezas. Nesta linha de pensamento e seguindo metodologia mais própria da investigação forense, o Dr. John Salza acabou por concluir – à semelhança de outros investigadores – que existem dois documentos separados que fazem parte daquilo que é normalmente referido como o 3º Segredo de Fátima.
John Salza é um advogado norte-americano, Católico, estudioso do fenómeno de Fátima, e autor de vários livros versados sobre questões relacionadas com o Catolicismo. Encontra-se também ligado ao Fatima Center, apostolado dedicado à mensagem de Fátima, fundado pelo Pe. Nicholas Gruner.
Na Conferência da Paz, que teve lugar em Washington em 2015, Salza apresentou os resultados da sua investigação, devidamente documentados, de onde se podem destacar as seguintes conclusões:
Existem dois documentos diferentes referentes ao 3º Segredo de Fátima, um com a descrição da visão do Segredo, publicado no ano 2000, e outro que deverá ser uma carta com a transcrição das palavras ditas por Nossa Senhora para explicar a conhecida visão.
As palavras de Nossa Senhora foram escritas numa carta dirigida ao Bispo de Leiria, dando continuação ao “Em Portugal será conservado o dogma da Fé etc.”. O Segredo publicado no ano 2000 é uma texto descritivo, apontado numa folha de caderno não dirigida especificamente a alguém, não é uma carta.
É, desde há muito tempo, do conhecimento público que o Segredo ocupa uma página de 20 a 25 linhas, no entanto, o Segredo publicado tem 62 linhas.
A carta foi escrita a 9 de janeiro de 1944, ou imediatamente antes, enquanto a descrição do Segredo data de 3 de janeiro de 1944.
Ambos documentos foram colocados em envelopes separados e selados.
Ambos envelopes tinham indicações expressas de Nossa Senhora para serem abertos em 1960.
Um dos envelopes foi enviado para Roma a 16 de abril de 1957 e o outro foi a 4 de abril do mesmo ano.
Ambos documentos foram lidos em momentos diferentes, quando acedidos por vários Papas.
Um dos envelopes foi guardado nos Apartamentos Papais e o outro foi guardado no Arquivo Secreto do Santo Ofício.
O conteúdo da carta com as palavras de Nossa Senhora deve ser avassalador, revelando provavelmente castigos espirituais e materiais sobre a Igreja Católica e a humanidade em geral.
Estas conclusões vão ao encontro das últimas revelações sobre o Segredo de Fátima que surgiram com a publicação da obra biográfica “Um caminho sob o olhar de Maria”, da autoria das Irmãs Carmelitas de Coimbra, em 2013. Parece que no momento em que Lúcia, por obediência, escreveu o 3º Segredo de Fátima, não redigiu a respetiva interpretação, ou não o terá feito no mesmo documento. Mais, essa interpretação, de uma forma ou de outra, foi-lhe dada a conhecer, não podia ser subjetiva.
Não temas, quis Deus provar a tua obediência, Fé e humildade, está em paz e escreve o que te mandam, não porém o que te é dado entender do seu significado. (Carmelo de Coimbra, 2013)
Os resultados da investigação apresentada batem também certo com outra revelação, esta ainda mais evidente, [que resultou de um descuido?] do Cardeal Tarcisio Bertone, quando em 2010, apareceu num programa da televisão para falar do Segredo de Fátima. Este proeminente cardeal, entre outras funções, já foi Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, Secretário de Estado do Vaticano e Camerlengo. O seu nome está incontornavelmente ligado a toda a controvérsia existente em torno do Segredo de Fátima, uma vez que os seus depoimentos, altamente contestados, são tidos como oficiais.
No popular programa “Porta a Porta”, da RaiUno, Bertone mostrou dois envelopes lacados, aparentemente idênticos, onde se podia ler, em português e na conhecida caligrafia da Irmã Lúcia, o seguinte:
Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960, por Sua Ex.cia Rev. ma o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa ou por Sua Ex.cia Rev. ma o Senhor Bispo de Leiria.
Mas por que razão havia necessidade de dois envelopes lacados, um dentro do outro, para enviar um único documento?
Envelope 1
Envelope 2 (quase igual ao anterior)
Depois de tudo, será que o 3º Segredo publicado pelo Vaticano é verosímil? Claro que sim, no entanto, a interpretação que o Vaticano lhe atribuiu é que parece ser mais a de um profecia pretendida do que de uma profecia cumprida. Se quisermos ser muito precisos na abordagem, verificamos que a meia frase truncada com as palavras de Nossa Senhora – “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc.” – foi de facto adicionada à segunda parte do segredo. Neste sentido, não é necessário mentir, se calhar o que falta mesmo publicar, nem é o 3º Segredo de Fátima, mas antes o resto do 2º, dependendo da perspetiva de quem trata do assunto.
De qualquer modo, à medida que o tempo passa, as pessoas começam a perceber onde é que o dogma da Fé se perde fora de Portugal, e de que maneira… Possivelmente, a coisa ainda poderá piorar muito mais. Depois disso, daquele segredo, só faltará mesmo conhecer o remédio de Deus para toda esta calamidade, o qual tem ser muito duro, com certeza, mas nunca falha.