Rússia e a Ameaça de Aniquilação Nuclear

Por Eric Bermingham

Ameaças Sinistras

Durante a “Operação Militar Especial” em curso na Ucrânia, as autoridades russas fizeram algumas ameaças sinistras sobre o uso de armas nucleares. Oficiais dos países da NATO também mencionaram o uso de armas nucleares, relativamente ao conflito. Logo após a invasão da Ucrânia. em fevereiro deste ano, Vladimir Putin colocou as forças nucleares russas em estado de alerta máximo. [1] Em várias ocasiões, ele sinalizou a sua disposição de usar “todos os meios disponíveis” para proteger a Rússia.

Putin diz que não está a fazer bluff. Em 2018, referindo-se teoricamente sobre um eventual ataque nuclear à Rússia e à respetiva resposta, referiu: “Seríamos vítimas de uma agressão e chegaríamos ao Céu como mártires, enquanto eles morreriam e nem teriam tempo de se arrepender”. [2] No entanto, Putin afirmou recentemente que um primeiro ataque poderia ser ordenado se a integridade territorial da Rússia fosse ameaçada. O território da Rússia, aos olhos de Putin, foi agora expandido para incluir as regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia. [3]

Em teoria, se as forças da Ucrânia, apoiadas pela NATO, tentarem retomar esses territórios e a Rússia determinar que sua integridade está ameaçada, poderão ser usadas armas nucleares. Os Estados Unidos alertaram para as “consequências catastróficas” do uso de armas nucleares contra a Ucrânia. [4] Parece que o mundo está a ser preparado para o que alguns chamam uma troca nuclear de “pequena escala”. Qualquer uso de armas nucleares seria devastador, pelo menos a nível local, e a possibilidade de escalada faz com que o seu uso pareça irresponsável, para não dizermos repreensível.

[Nota: A imagem acima é uma explosão nuclear com uma aparente imagem de crucificação.]

Um primeiro ataque nuclear?

Existe até a ameaça de uma troca nuclear em larga escala, se as coisas piorarem ligeiramente. A Rússia tem, aparentemente, um sistema operacional conhecido como “Mão Morta” ou “Perímetro”, que foi projetado para lançar automaticamente um segundo ataque se um primeiro ataque for detetado. [5] Várias condições teriam de ser cumpridas, como a ativação do sistema, a interrupção das comunicações com o comando militar (como pode acontecer com um “ataque de decapitação” que derrube a liderança do país) e a deteção de uma explosão nuclear em território russo. O lançamento do míssil de comando, que daria o sinal para lançar todos os mísseis nucleares restantes, precisaria, supostamente, de ser acionado por um humano. Um “inverno nuclear” pode ser o resultado. Só podemos esperar e rezar para que isso não aconteça!

A Rússia mostrou alguma vontade de negociar o fim da situação na Ucrânia, mas a sabotagem dos oleodutos Nord Stream e da ponte russa para a Crimeia praticamente eliminaram essa possibilidade. Tentativas anteriores de negociação parecem ter sido prejudicadas por oficiais da NATO. Além disso, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, disse que recusa negociar com Putin, ao que a Rússia respondeu dizendo que pode esperar para negociar com o próximo presidente da Ucrânia. [6]

Nossa Senhora alertou em Fátima que “várias nações serão aniquiladas” se a Rússia não se converter a tempo. Embora tenha havido algum tipo de consagração em 25 de março de 2022, a sua eficácia é discutível. [7] Desde então, a situação na Ucrânia tornou-se rapidamente mais ameaçadora e as condições económicas no mundo deterioraram-se vertiginosamente. Esta não parece ter sido a consagração que procurávamos. Seria prudente cumprir exatamente os pedidos de Nossa Senhora para evitar a aniquilação nuclear.

Revelações Privadas

Existem várias profecias sobre forças militares varrendo do Oriente para o Ocidente, especialmente as da Beata Elena Aiello (1895-1961). [8]  Esta freira foi uma fundadora, estigmatizada e mística. [9] Ela chegou a enviar uma carta a Mussolini, em 1940, alertando-o para manter a Itália fora da Segunda Guerra Mundial. Uma profecia dada em 1959 dizia o seguinte: “A Rússia marchará sobre todas as nações da Europa, particularmente a Itália, e levantará a sua bandeira sobre a cúpula de São Pedro. A Itália será severamente provada por uma grande revolução e Roma será purificada através do sangue pelos seus muitos pecados, especialmente os de impureza! O rebanho está prestes a dispersar-se e o Papa terá de sofrer muito”. [10] Uma profecia dada em 22 de agosto de 1960 é semelhante: “Outra guerra terrível virá do Oriente para o Ocidente. A Rússia, com seus exércitos secretos, lutará contra a América, invadirá a Europa”.

A recente eleição na Itália, que deu maioria ao partido Irmãos de Itália, pode prenunciar o início de uma revolução. Existem outras profecias de uma revolução semelhante na França. Felizmente, essas profecias não parecem indicar uma guerra nuclear em grande escala, que efetivamente acabaria com a civilização, pelo menos no Hemisfério Norte. Infelizmente, incluem a ameaça de uma guerra terrível e a previsão de um flagelo global, que é conhecido, na profecia, como os Três Dias de Escuridão. A Beata Elena descreve as coisas deste modo:

(Dada na Sexta-feira Santa, 1950) “’Veja como a Rússia vai arder!’ Diante dos meus olhos estendia-se um imenso campo coberto de chamas e fumo, no qual as almas estavam submersas como num mar de fogo. E todo esse fogo não é aquele que cairá das mãos dos homens, mas será lançado diretamente dos anjos”. [Isso não nos lembra a visão do Terceiro Segredo de Fátima revelado em junho de 2000?]

(Dada na Sexta-feira Santa de 1954) “Clame até que os sacerdotes de Deus ouçam aminha voz, para avisar os homens que o tempo está próximo, e se os homens não retornarem a Deus, com orações e penitências, o mundo será destruído numa nova e mais terrível guerra. Armas mais mortíferas destruirão povos e nações! Os ditadores da Terra, espécimes infernais, demolirão as igrejas e profanarão a Sagrada Eucaristia e destruirão as coisas mais queridas. Nessa guerra ímpia, muito será destruído do que foi construído pelas mãos do homem.”

“Nuvens com relâmpagos de fogo no céu e uma tempestade de fogo cairão sobre o mundo. Este terrível flagelo, nunca antes visto na história da humanidade, durará setenta horas [cerca de três dias]. Os ímpios serão esmagados e exterminados. Muitos se perderão porque permanecerão na obstinação do pecado. Então será visto o poder da Luz sobre o poder das trevas”.

(Dada na Sexta-feira Santa de 1955) “Se os homens não corrigirem os seus caminhos, um terrível flagelo de fogo descerá do céu sobre todas as nações do mundo e os homens serão punidos de acordo com as dívidas contraídas com a Justiça Divina. Haverá momentos assustadores para todos porque o Céu se unirá à Terra e todas as pessoas ímpias serão destruídas, algumas nações serão purificadas, enquanto outras desaparecerão completamente”.

(Dada na Festa da Imaculada Conceição, 1956) “Os tempos são difíceis. O mundo inteiro está em tumulto, porque ficou pior do que na época do dilúvio! [Mensagem que foi repetida em Akita, Japão, em 1973.] Tudo está pendente, como um fio; quando este fio se romper, a justiça de Deus cairá como um raio e completará o seu terrível curso de purificação”.

Embora possa ocorrer uma chamada guerra nuclear ‘limitada’, com a destruição de várias nações, uma guerra nuclear global parece improvável. No entanto, mesmo uma troca nuclear limitada pode desencadear um colapso económico global e o Great Reset [Grande Reinicialização], que é promovido pelo elitista Fórum Económico Mundial. Isso inauguraria um governo mundial com um sistema global de dinheiro eletrónico, acoplado a uma pontuação de crédito social como a que eles têm agora na China comunista. Uma força de “manutenção da paz” das Nações Unidas sufocaria qualquer dissidência e todos teriam de juntar-se à religião da “fraternidade universal do homem” atualmente promovida pelo Vaticano. Tudo isso é um cenário direto do Apocalipse de São João.

Algumas boas notícias

Há, no entanto, algumas boas notícias misturadas com todas as ruins. O Triunfo do Imaculado Coração de Maria foi prometido. Sabemos que vai acontecer. A Beata Elena também recebeu uma oração de Nossa Senhora para ser dita durante estes tempos:

(Dada na Sexta-feira Santa de 1955) “Os sacerdotes devem unir-se por meio de orações e penitências. Eles devem apressar-se a espalhar a devoção aos Dois Corações. A hora do Meu triunfo está próxima. A vitória realizar-se-á pelo amor e misericórdia do Coração do Meu Filho e do Meu Imaculado Coração, a Medianeira entre os homens e Deus. Aceitando este convite e unindo as suas lágrimas às do Meu Doloroso Coração, os sacerdotes e os religiosos obterão grandes graças para a salvação dos pobres pecadores”.

A oração do “Refúgio Materno” (dada por Nossa Senhora para ser dita com os braços cruzados – ou talvez com os braços estendidos em forma de cruz): “Rainha do universo, Medianeira dos homens para Deus, refúgio de todas as nossas esperanças, misericórdia de nós”.

Cabe-nos a nós manter as orações, penitências, reparações e rosários, juntamente com a devoção mensal dos Primeiros Sábados, a fim de apressar o Triunfo do Imaculado Coração.

Notas finais:

[1] https://apnews.com/article/russia-ukraine-kyiv-business-europe-moscow-2e4e1cf784f22b6afbe5a2f936725550

[2] https://abcnews.go.com/International/wireStory/cornered-war-putin-makes-nuclear-threat-90289332

[3] https://www.washingtonpost.com/world/2022/09/29/kremlin-says-putin-will-sign-treaties-annex-ukrainian-territory/

[4] https://www.reuters.com/world/europe/us-warns-putin-catastrophic-consequences-if-nuclear-weapons-used-ukraine-2022-09-25/

[5] https://www.military.com/history/russias-dead-hand-soviet-built-nuclear-doomsday-device.html

[6] https://www.voanews.com/a/russian-lawmakers-approve-illegal-annexation-of-ukrainian-regions/6774920.html

[7] Nota do Editor: O autor do artigo considera a “eficácia discutível” e esta “não parece” ser a consagração da Rússia que Nossa Senhora pediu. O The Fatima Center sustenta que a proposição “A Rússia ainda não foi consagrada como Nossa Senhora pediu em Fátima” é moralmente certa e que está claro que a cerimónia de Francisco em 25 de março de 2022 NÃO foi a Consagração solicitada por Nossa Senhora.

[8] https://www.mysticsofthechurch.com/2011/09/blessed-elena-aiello-mystic-stigmatic.html

[9] A Beata Elena Aiello foi uma religiosa italiana e fundadora das Irmãs Mínimas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo (1928). Doenças graves impediram-na de entrar na vida religiosa, mas foi milagrosamente curada pela intercessão de Santa Rita. A partir de 1923, ela começou a experimentar os estigmas todas as Sextas-feiras Santa. Nosso Senhor e Nossa Senhora apareceram-lhe, ela sofreu muito e morreu pouco antes do início do Concílio Vaticano II. Pio XII conheceu-a e aprovou a sua ordem em 1949. Foi beatificada em 14 de setembro de 2011.

[10] https://www.gloria.tv/post/EcnMd7Yvv9Hk1xCUT1S1coiDF

Fonte: fatima.org em 15 de outubro de 2022 (tradução nossa).

George Weigel (!) denuncia o vandalismo romano

paglia

Por Christopher A. Ferrara

Na noite em que o Cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa, eu encontrava-me com o Pe. Gruner a gravar um programa de televisão num estúdio da periferia de Roma, durante o qual não tinha mais do que elogios para oferecer ao novo Pontífice. Tão pouco que eu sabia. Nesse momento, eu não podia prever que este pontificado iria revelar-se muito pior do que esta terrível previsão antecipada, publicada no próprio dia da eleição de Bergoglio.

Tão mau é o atual pontificado que, por comparação, até faz o pontificado de João Paulo II, marcado pela novidade, parecer firmemente tradicional. De facto, o legado de João Paulo II de um corpo sólido (por mais prolixo que possa ser) de teologia moral está sendo agora sistematicamente desmembrado pelos colaboradores do atual Papa ou, mais propriamente, pelos seus capangas.

Se a palavra capangas parece muito forte, consideremos esta reportagem do LifeSiteNews, que descreve como precisamente o biógrafo de João Paulo II, George Weigel – que não é um tradicionalista – denunciou a “violência e força bruta” com que o grão-chanceler do Instituto João Paulo II para o Matrimónio e Família, o Arcebispo D. Vincenzo Paglia, escolhido a dedo por Francisco, está a destruir o Instituto.

O LifeSiteNews baseia-se num “duro artigo” que Weigel escreveu para o The Catholic World Report no qual denuncia como o “grosseiro vandalismo intelectual” com que Paglia “perentória e sistematicamente despe [o Instituto] da sua principal faculdade” ao mesmo tempo que “os seus principais cursos de teologia moral fundamental foram encerrados”.

Pior ainda, “os académicos conhecidos por se oporem aos ensinamentos da Humanae Vitae sobre os meios legítimos de regulação da fertilidade e aos ensinamentos da Veritatis Splendor a respeito dos atos intrinsecamente maus estão a ser nomeados para ensinar no reconfigurado Instituto…”.

A avaliação de Weigel relativamente aos resultados até agora obtidos é clara : “Dezasseis séculos depois do primeiro saque vândalo de Roma, eles estão de volta, mas desta vez o cabecilha dos vândalos usa um barrete de arcebispo”.

E quem é afinal o Arcebispo Vincenzo Paglia? Como observa Weigel, ele não apresenta “qualificações evidentes” para o cargo. De facto, a sua única reivindicação de fama – ou melhor, infâmia – é que ele “encomendou um fresco homoerótico para a abside da catedral de Terni-Narni-Amelia”, no qual ele próprio aparece retratado seminu. Tal como acontece com os outros capangas que Francisco elevou ao poder para realizar os seus desejos, Paglia – afirma Weigel – “está a agir precisamente como aqueles que manipularam os Sínodos de 2014, 2015 e 2018, ou seja, outra cabala de clérigos ambiciosos (e, francamente, pouco brilhantes) que viram os seus argumentos sucessivamente derrotados e depois tentaram compensar com brutalidade e ameaças”.

Nunca se esperaria que um “normalista” como Weigel emitisse uma avaliação de Roma como sede de corrupção diabólica, mas aqui está: “Assim é a atmosfera romana neste momento: sulfurosa, febril e extremamente sórdido, com mais do que um sopro de pânico. Não é assim que se comportam as pessoas que acreditam estar firmemente no comando e que provavelmente continuarão”. Por outras palavras, o atual pontificado está a ser administrado por bandidos eclesiásticos que acreditam que somente a força bruta pode manter o seu domínio do poder. Portanto: capangas, de facto.

Ainda sim, como observa esperançosamente Weigel: “como João Paulo II sabia, a verdade vencerá sempre, por mais tempo que demore, porque o erro não tem vida e é estupidificante”. É precisamente assim. Entretanto, porém, como o Pe. Gruner nunca deixou de avisar os fiéis, o bem de inúmeras almas está a ser ameaçado pelos “lobos vorazes” de que o próprio Nosso Senhor nos avisou, esses “falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes” (Mateus 7, 15).

Nestas circunstâncias verdadeiramente sem paralelo na história da Igreja, humanamente falando, a verdade não prevalecerá pelos seus próprios méritos (essa é a assunção ingénua da modernidade denunciada como loucura pelos grandes Papas pré-conciliares). Pelo contrário, o triunfo da verdade numa Igreja em crise exigirá a mais extraordinária ajuda do alto, em que o Senhor da História, agindo por intercessão de Sua Mãe Santíssima, porá um fim a esta loucura. Na Igreja, como no mundo, o triunfo da verdade envolverá o Triunfo do Coração Imaculado de Maria.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 1 de agosto de 2019. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. A presente edição destina-se exclusivamente à sua divulgação. Sempre que possível, o texto deve ser lido na sua edição original.

Basto 08/2019

Anatomia de um “schmoozer”

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Por Christopher A. Ferrara

Um dos meus coloquialismos favoritos é o schmoozer [1], derivado do termo ídiche shmuesn, que significa “conversar casualmente, especificamente para obter uma vantagem ou fazer uma conexão social”. O schmoozer diz o que tem a dizer para obter a vantagem que procura. O que ele realmente acredita é uma outra questão.

E assim acontece com o atual ocupante da Cadeira de Pedro. Recordemos o rescaldo da Declaração Conjunta com o “Grão Imame de Al-Azhar”, Ahmed Al-Tayeb, na qual encontramos a seguinte heresia objetiva: “O pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus criou os seres humanos. Esta sabedoria divina é a origem donde deriva o direito à liberdade de credo e à liberdade de ser diferente.”

Perante o escândalo mundial que a afirmação desta heresia provocou, Francisco – como conto aqui – disse em privado a D. Athanasius Schneider que poderia dizer “que a diversidade de religiões é a vontade permissiva de Deus”, porém Francisco não faria o mínimo esforço para corrigir publicamente a sua própria afirmação contrária à Fé. A vontade “permissiva” de Deus é uma mera tolerância do mal. Ninguém diria, portanto, que Deus “quer” assassínios em massa ou os pecados de todos os homens. Do mesmo modo, Deus não quer, de forma alguma, a existência de falsas religiões, como afirma a Declaração Conjunta.

O bom bispo foi sujeito à ação de um schmoozer consumado, que lhe disse o que ele queria ouvir, mas apenas quando o bispo o encostou à parede. Eu suspeito, no entanto, que o Bispo Schneider sabia muito bem que aquilo não passava da uma ação de schmoozer mas, ainda assim, explorou a capacidade deste Papa de a produzir para, desse modo, obter algum tipo de correção, pelo menos oralmente.

Aquilo foi todavia uma atitude de schmoozer. É evidente que Francisco não acreditou numa única palavra do que disse ao Bispo Schneider. Pois, como informa o LifeSiteNews, apenas alguns dias depois do encontro de D. Athanasius Schneider com o Papa a 1 de março (em ou por volta de 18 de março), “o gabinete do Vaticano para a promoção do diálogo inter-religioso pediu aos professores universitários católicos que fizessem a «mais ampla disseminação possível»” da Declaração Conjunta, sem a correção da sua afirmação flagrantemente herética de que Deus quer a diversidade de religiões que contradizem a Sua revelação e até mesmo os preceitos mais básicos da lei natural.

Pior ainda, a carta do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso foi enviada aos professores universitários católicos em Roma com a dita Declaração Conjunta em anexo. O bispo D. Miguel Ayuso Guixot, secretário do Pontifício Conselho, pediu especificamente “aos professores, sacerdotes e irmãs das universidades que «facilitem a distribuição, o estudo e o acolhimento» do documento, acrescentando que o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso «agradece desde já qualquer possível iniciativa, no âmbito desta instituição, que vise a difusão deste Documento»”.

Isto é, o Papa Francisco não só reforçou a sua declaração herética como também ordenou que ela se tornasse parte de um verdadeiro programa educativo que incorpore a ideia de que Deus quer a – isto é, não permite apenas o mal da – existência de inúmeras religiões falsas.

A propósito, a mentira de que Deus quer a diversidade de religiões não é a única heresia objetiva da Declaração Conjunta. Um teólogo dominicano, escrevendo sob anonimato por medo de represálias, chamou a atenção para esta afirmação do documento: “Da fé em Deus […] o crente é chamado a expressar esta fraternidade humana, salvaguardando a criação e todo o universo e apoiando todas as pessoas, especialmente as mais necessitadas e pobres.” Como observa o teólogo:

“É contrária ao modo de falar da Igreja usar a frase «fé em Deus» para significar «afirmar que Deus existe», ou «acreditar em qualquer tipo de alegada revelação, mesmo não cristã»… A fé é a virtude (sobrenatural) através da qual Deus nos leva a concordar com o que Ele revelou através dos profetas do Antigo Testamento e dos apóstolos do Novo Testamento, e principalmente através de Seu Filho.”

“Deste modo, as pessoas que creem em religiões não-cristãs, não o fazem pela fé, como afirma a declaração Dominus Iesus 7, mas por algum tipo de opinião humana.”

Opinião humana é precisamente aquilo que Francisco expressou na Declaração Conjunta. Uma opinião à qual, obviamente, continua a agarrar-se, apesar da sua atitude de schmoozer para com o Bispo Schneider.

O bispo não merece nada mais do que elogios pelo seu esforço em obter, junto do autor, uma correção da heresia de Francisco, mas seria demais esperar que Francisco se agarrasse ao que disse em privado e muito mais que o declarasse em público. O schmoozer serve para “obter uma vantagem” e não para afirmar a verdade. Com a vantagem obtida, Francisco rapidamente passou a promover o que realmente pensa e o que realmente quer que todos acreditem.

Entretanto, como o LifeSiteNews reporta no artigo acima referido, o  professor de filosofia austríaco Joseph Seifert protesta com razão ao afirmar que a declaração, que Francisco não só se recusa a corrigir como agora promove agressivamente, é uma “heresia de todas as heresias sem precedentes…”. E depois esta declaração explosiva:

“Pois, como poderia Deus querer contradições com as mais importantes verdades reveladas que são simultaneamente também queridas por Ele? Esta suposição faria de Deus ou um lunático que viola o fundamento de toda a razão – o princípio da não-contradição – e que é um relativista monumental, ou um Deus confuso que é indiferente à questão de saber se as pessoas testemunham a verdade ou não. O Professor Seifert disse que os Católicos têm o dever de defender a verdade católica. De acordo com a lei natural, todos os sacerdotes, cardeais, bispos e leigos têm o dever de pedir ao Papa que rejeite esta frase (sobre a diversidade de religiões querida por Deus) ou que se demita do cargo de Papa.”

Nos últimos cinquenta anos, a Igreja tem sido afligida por uma série de decisões papais que tentam improvidentemente implementar um imaginário conciliar de “abertura ao mundo”. O resultado tem sido um histórico desastre eclesial que já ultrapassa, na sua amplitude, até a crise ariana. Mas nunca se viu nada parecido com o Papa Francisco. Perguntamo-nos se há alguém no Vaticano, mesmo no círculo próximo de Francisco, que ainda não reconheça, ainda que apenas interiormente, que “a atual liderança do Papa se tornou um perigo para a fé…”.

[1] A palavra “schmoozer”, na língua inglesa, é normalmente utilizada para caracterizar uma pessoa ou atitude bajuladora.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 28 de março de 2019. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. A presente edição destina-se exclusivamente à sua divulgação. Sempre que possível, o texto deve ser lido na sua edição original. A imagem apresentada não faz parte da edição original.

Basto 04/2019

Heresia pública, não-correção privada

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Por Christopher A. Ferrara

Na sua Declaração Conjunta com o “Grão Imame de Al-Azhar”, Ahmed Al-Tayeb, no passado mês, em Abu Dhabi, o Papa Francisco e o “Grão Imame” declararam juntos: “O pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus criou os seres humanos. Esta Sabedoria divina é a origem donde deriva o direito à liberdade de credo e à liberdade de ser diferente.”

O significado ultrapassa qualquer discussão: a diversidade de religiões, que Deus não quer, mas apenas tolera como um mal, é colocada em paridade com as diferenças de raça, sexo e linguagem, que Deus realmente quer. A existência de religiões repletas de erros condenáveis contra a revelação divina é deste modo apresentada, sem a mínima ambiguidade, como um bem positivo – ou seja, “a liberdade de ser diferente”. Seria improvável que Al-Tayeb concordasse com uma afirmação que pudesse, de algum modo, ser lida com querendo dizer que a sua religião islâmica, criada pelo homem, é simplesmente um mal tolerado.

Como reporta o LifeSiteNews, “os bispos do Cazaquistão e Ásia Central, durante uma visita ad limina a Roma, levantaram uma série de preocupações, amplamente partilhadas pela Igreja nos últimos anos, relativamente às ambiguidades percebidas no magistério do Papa Francisco”.

D. Athanasius Schneider, em particular, Bispo Auxiliar de Astana, pressionou delicadamente Francisco em relação à sua afirmação descaradamente herética de que Deus quer a diversidade de religiões da mesma forma quer a diversidade de raças. Entrevistado pelo LifeSiteNews, o Bispo Schneider contou que Francisco “disse-nos: podem também dizer isso, que a diversidade de religiões é a vontade permissiva de Deus”.

Então Francisco diz agora em privado que outras pessoas podem dizer que ele quis apenas dizer que a diversidade de religiões é meramente tolerada por Deus. Mas quanto a ele, a sua declaração pública, assinada, manifestando o contrário, permanecerá sem qualquer correção pública.

Compreensivelmente insatisfeito, o Bispo Schneider diz o seguinte:

Tentei aprofundar a questão, pelo menos citando a frase que se lê no documento. A frase diz que tal como Deus quer a diversidade de sexos, cor, raça e língua, Deus também quer a diversidade de religiões. Há uma comparação evidente entre a diversidade de religiões e a diversidade de sexos.

Mencionei este ponto ao Santo Padre e ele reconheceu que, com esta comparação direta, a frase pode ser entendida erroneamente. Na minha resposta, sublinhei perante ele que a diversidade de sexos não é a vontade permissiva de Deus, mas é querida positivamente por Deus. E o Santo Padre reconheceu isso e concordou comigo em que a diversidade de sexos não é uma questão da vontade permissiva de Deus.

Porém, quando referimos ambas as proposições na mesma frase, então a diversidade de religiões é interpretada como positivamente querida por Deus, como a diversidade de sexos.

A frase, portanto, conduz a dúvidas e a interpretações erróneas e daí o meu desejo e o meu pedido para que o Santo Padre retificasse isso. Mas ele disse, a nós bispos: podem dizer que a frase em questão sobre a diversidade das religiões significa a vontade permissiva de Deus.

Em suma, Francisco emitiu uma declaração pública expressando uma heresia flagrante. Confrontado com o seu erro e com o escândalo que causou, e mesmo admitindo o seu erro, informa o Bispo Schneider que o bispo pode retificá-lo se quiser, ao mesmo tempo que não dirá nada em público para corrigir a sua própria heresia promulgada publicamente.

Por outras palavras, Francisco disse a Al-Tayeb o que aquele queria ouvir e depois disse ao Bispo Schneider o que este queria ouvir. Deu assim espaço para a negação plausível a ambas as partes. Este é um comportamento próprio de um político, não do Vigário de Cristo, encarregado de confirmar os seus irmãos na Fé. Mas depois de seis anos neste tipo de coisas podemos esperar outra coisa?

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 8 de março de 2019. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. A presente edição destina-se exclusivamente à sua divulgação. Sempre que possível, o texto deve ser lido na sua edição original.

Basto 03/2019

Ícone de um desastroso pontificado

logo.pope.moroccoPor Christopher A. Ferrara

Eis o logótipo da próxima viagem inútil do Papa a Marrocos: a lua crescente, simbolizando a religião inventada por Maomé, envolve quase por completo uma cruz distorcida. Como este Papa promove obsessivamente a migração em massa de homens muçulmanos para as capitais da Europa Ocidental, incluindo até mesmo Roma, a imagem sugere que o corpo de fiéis cristãos, supostamente representados pela Cruz, não tem agora quase nenhuma possibilidade de escapar àquilo que o Papa Pio XI, numa época mais sã, chamou “a escuridão do Islão”, numa oração que os Católicos Romanos tradicionais ainda hoje recitam na tradicional Festa de Cristo Rei. Como essa oração do Ato de Consagração da Raça Humana ao Sagrado Coração de Jesus declara: “Sede o Rei de todos os que ainda estão envolvidos pela escuridão da idolatria ou do Islamismo e não deixeis de os atrair a todos para a Luz e Reino de Deus.”

Este logótipo absurdo e ofensivo tem camadas mais profundas de significado maligno. Como explica o Zenit, um obediente órgão de comunicação da linha partidária do Vaticano, a “cruz e um crescente […] representam o diálogo inter-religioso entre cristãos e muçulmanos”. Porém, o que é retratado não é um dia-logo, do grego dialogesthai, que significa uma conversa entre duas ou mais partes, mas sim dia – “através de” ou “entre” – uma distância que as separa, uma distância que nenhum diálogo entre a religião fundada por Deus e outra fundada por Maomé jamais eliminará. O que vemos então é uma das partes do “diálogo”, o Islão, cercando visualmente a outra: ou seja, o catolicismo, representado por uma cruz distorcida que, por sua vez, representa uma Igreja distorcida no meio da pior crise da sua história.

Mas há mais. Citando novamente o Zenit, o logótipo ostenta “as cores dos dois países: verde e vermelho de Marrocos, amarelo e branco (o fundo) do Vaticano”. Note-se que o verde de Marrocos é representado no traço horizontal da Cruz, enquanto que o vermelho de Marrocos é visto na lua crescente que a circunda quase por completo, formando um cerco em torno da Cruz.

No total, 99% dos marroquinos são muçulmanos, enquanto os poucos cristãos existentes naquele país são quase todos estrangeiros. Além disso, em Marrocos “é um crime possuir uma Bíblia cristã escrita em língua árabe, parte de uma lei mais ampla que proíbe proselitismo de muçulmanos para qualquer outra crença”, enquanto a Constituição Marroquina estabelece que o Islão é a única religião do Estado de Marrocos. Não há “diálogo” entre Cristianismo e Islão em Marrocos, apenas um monólogo que favorece o Islão com a força da lei. Se a colocação das cores no logótipo significa alguma coisa, então só pode ser o cerco do Cristianismo pelo Islão, até ao ponto de se tornar um elemento de uma cruz distorcida que representa a sujeição de Cristo a Maomé.

Finalmente, citando novamente o Zenit, o logótipo declara que o Papa Francisco é o “Servo da Esperança” – mais um contributo para a nuvem de slogans vazios que têm assolado a Igreja desde o Concílio Vaticano II, e tão significativo como “Servo do Otimismo” ou “Servo da Alegria”. Qual é exatamente a “esperança” que Francisco serve? Não fazemos a menor ideia. Sabemos bem, no entanto, qual é a esperança que Francisco não serve. A esperança expressa pela Mãe de Deus em Fátima: “Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo um tempo de paz.”

E por paz, Nossa Senhora queria dizer a coisa mais distante do programa que Francisco segue nesta fase final da crise pós-conciliar da Igreja. Citando Pio XI numa monumental encíclica que acabou enterrada e esquecida sob uma montanha tóxica de ruinosas novidades pós-conciliares: “Os homens devem procurar a paz de Cristo no Reino de Cristo”, cujo império “se estende não só sobre os povos católicos e sobre aqueles que, tendo recebido o batismo, pertencem por direito à Igreja, ainda que o erro os tenha extraviado ou o cisma os separe da caridade, mas também compreende a todos quantos não participam da fé cristã, de sorte que sob a potestade de Jesus se encontra todo o género humano”.

Só quando essa verdade da revelação tiver sido redescoberta e novamente proclamada pelo elemento humano desobediente da Igreja, sobretudo o homem que detém o cargo de Romano Pontífice, é que esta crise acabará finalmente.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 10 de janeiro de 2019. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. A presente edição destina-se exclusivamente à sua divulgação, sempre que possível deve ser lido na sua edição original.

Basto 01/2019

Francisco no Natal: A salvação vem através do amor e do respeito pela humanidade?

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Por Christopher A. Ferrara

Na sua Mensagem de Natal “Urbi et Orbi”, o Papa Francisco propõe uma concepção da Encarnação que reduz Cristo a um mero facilitador passivo de uma fraternidade humanista entre homens de qualquer crença ou persuasão, incluindo aqueles que rejeitam o Seu Evangelho e a Sua Igreja. As palavras proferidas por Francisco não deixam dúvidas a este respeito:

E que nos diz aquele Menino, nascido, para nós, da Virgem Maria? Qual é a mensagem universal do Natal? Diz-nos que Deus é um Pai bom, e nós somos todos irmãos.

Esta verdade está na base da visão cristã da humanidade. Sem a fraternidade que Jesus Cristo nos concedeu, os nossos esforços por um mundo mais justo ficam sem fôlego, e mesmo os melhores projetos correm o risco de se tornar estruturas sem alma.

Por isso, as minhas boas-festas natalícias são votos de fraternidade.

Fraternidade entre pessoas de todas as nações e culturas.

Fraternidade entre pessoas de ideias diferentes, mas capazes de se respeitar e ouvir umas às outras.

Fraternidade entre pessoas de distintas religiões. Jesus veio revelar o rosto de Deus a todos aqueles que o procuram.

E o rosto de Deus manifestou-se num rosto humano concreto. Apareceu, não sob a forma dum anjo, mas dum homem, nascido num tempo e lugar concretos. E assim, com a sua encarnação, o Filho de Deus indica-nos que a salvação passa através do amor, da hospitalidade, do respeito por esta nossa pobre humanidade que todos compartilhamos numa grande variedade de etnias, línguas, culturas… mas todos irmãos em humanidade!

Então, as nossas diferenças não constituem um dano nem um perigo; são uma riqueza. Como no caso dum artista que queira fazer um mosaico: é melhor ter à sua disposição ladrilhos de muitas cores, que de poucas.

Resumindo esta espantosa mensagem: de acordo com Francisco, Cristo “concedeu” a fraternidade a todos os homens indiferentemente, sem ter em conta as suas “ideias diferentes” e “distintas religiões”, e a salvação vem, não da conversão a Ele, da aceitação da verdade do Seu Evangelho e da autoridade da Igreja que Ele fundou como Arca da Salvação, mas sim “através do amor, da hospitalidade, do respeito por esta nossa pobre humanidade que todos compartilhamos”.

Note-se bem: a salvação, segundo Francisco, vem através do amor, da hospitalidade, do respeito pela humanidade, e não por amor, aceitação e respeito a Cristo e obediência à Lei de seu Evangelho.

Pior ainda, de acordo com Francisco, as diferenças entre os homens – ou seja, as suas diferenças em relação à verdade revelada pelo Verbo Encarnado – “não constituem um dano nem um perigo; são uma riqueza”, são parte de um maravilhoso “mosaico” feito de “ladrilhos de muitas cores…” Isto não é mais do que uma ressonância do mantra liberal que diz que “a diversidade é a nossa força”. Mas não há força numa “diversidade” de ideias relativamente ao que é certo e errado, ou no que concerne aos deveres para com Deus. Pelo contrário, apenas há conflito e caos, assim como risco de perdição de almas.

Como diz a Bíblia num versículo que o Pe. Gruner citava frequentemente a propósito da crise civilizacional e eclesiástica mencionada por Nossa Senhora de Fátima: “O meu povo perde-se por falta de conhecimento; porque rejeitaste a instrução, excluir-te-ei do meu sacerdócio. Já que esqueceste a Lei do teu Deus, também Eu me esquecerei dos teus filhos.” (Os 4:6)

Em nenhuma parte da mensagem de Francisco à Igreja e ao mundo pelo Natal existe qualquer referência, ainda que disfarçada, às palavras do próprio Cristo à Igreja que Ele fundou: “«Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado.” (Mc 16:15-16) O mandato divino desapareceu sem deixar rasto e o que temos agora é precisamente a falsificação humanista da fraternidade dos homens promovida pelo movimento francês Sillon, outrora condenado pelo Papa São Pio X como falsa fraternidade “que não será nem católica, nem protestante, nem judia”. Será uma religião… mais universal do que a Igreja Católica, que une todos os homens para se tornarem finalmente irmãos e camaradas no «Reino de Deus»”.

Os organizadores do movimento Sillon vangloriavam-se deste modo: “Nós não trabalhamos para a Igreja, nós trabalhamos para a humanidade” – como se trabalhar para a humanidade não exigisse precisamente trabalhar para a Igreja como meio para o florescimento humano neste mundo e para a salvação eterna no próximo. Tal pensamento, advertiu São Pio X, é apenas “um miserável afluente do grande movimento de apostasia que está a ser organizado em todos os países com vista ao estabelecimento de uma Igreja Mundial Única que não terá dogmas, nem hierarquia, nem disciplina para a mente, nem restrição para as paixões…”. Uma “igreja” na qual as diferenças entre os homens, significando diferenças entre verdade e erro, são celebradas como “uma riqueza”, em vez de motivo de lamento, como um mal a ser vencido pela graça de Deus e pela unidade de um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo para a remissão dos pecados. E um evangelho que, para citar Pio X, não apresenta o Cristo Rei, mas “um Cristo diminuído e distorcido”, que apenas preside a uma fraternidade panreligiosa na qual a verdade já não importa para a salvação.

Esta é, certamente, a situação que a Mãe de Deus antevia quando apareceu aos três pastorinhos em Fátima.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 26 de dezembro de 2018. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. A presente edição destina-se exclusivamente à sua divulgação, sempre que possível deve ser lido na sua edição original. As citações do documento papal em análise neste artigo estão aqui apresentadas na versão oficial em português publicada pelo Vaticano.

Basto 12/2018

A “proibição de viajar” do Papa Francisco – Dica: Não se aplica a muçulmanos

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Por Christopher A. Ferrara

Marco Tosatti narra a notícia perturbadora, mas não surpreendente, de que tanto o cardeal D. Raymond Burke como o bispo D. Athanasius Schneider foram submetidos pelo Vaticano a proibições que limitam a sua capacidade de atender e fortalecer os fiéis, no meio daquilo a que um destes – nomeadamente o Dr. Douglas Farrow, tema do meu último artigo – apelida de “o problemático pontificado de Bergoglio”.

Como observa Tosatti, o Vaticano obrigou o Bispo Schneider a “reduzir a frequência das suas viagens ao exterior”. Não obstante, não existe uma ordem escrita ou qualquer outra diretriz escrita “com base na qual o bispo poderia tomar alguma iniciativa legal junto da Congregação para os Bispos ou do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica…” Em vez disso, Schneider recebeu apenas uma espécie de ordem sotto voce, desprovida de qualquer papel embaraçoso que pudesse servir de prova documental daquilo que é obviamente um plano para silenciar um dos principais motivos de aborrecimento para “O Papa Ditador”.

Ninguém me livrará desse bispo inconveniente?

Quanto ao Cardeal Burke, cuja liberdade de movimento não pode ser legitimamente restringida sem nenhum motivo definido para a punição, a ação do Vaticano é ainda mais perniciosa. Tosatti refere-se ao “conselho dado aos bispos americanos – sempre por via oral e através de um núncio – de não convidar para as suas dioceses pessoas como o Cardeal Burke e, se não for possível evitar a sua presença, não ir ao evento…”

Por outras palavras, o Vaticano “sugere”, num sussurro de bastidores, que a Igreja da América evite um Príncipe da Igreja que não cometeu qualquer ofensa a não ser incomodar o atual ocupante da Cadeira de Pedro ao observar verdades tão inconvenientes como esta: “O poder [do Papa] está a serviço da doutrina da fé. E portanto o Papa não tem o poder de mudar os ensinamentos, a doutrina”.

Ninguém me livrará desse cardeal inconveniente?

No entanto, como observa Tosatti, o ex-cardeal D. Theodore McCarrick, cuja inteira carreira eclesiástica foi marcada pela devassidão homossexual e pela predação de jovens em série, não só foi aliviado das restrições de viagem impostas sobre este criminoso durante o reinado de Bento XVI, como, ainda por cima, foi “enviado pelo Pontífice [Francisco] às Filipinas, à Arménia e atuou como elo de ligação a Cuba para preparar a visita do Papa”. Isso sem mencionar várias missões a Pequim, durante as quais, evidentemente, McCarrick ajudou na negociação da traição total de Francisco à Igreja Clandestina, que, como o Cardeal Zen adverte agora – uma advertência que Francisco naturalmente ignorará -, está em vias de extinção sob uma perseguição final. Uma perseguição na qual o próprio Francisco, efetivamente, emitiu o mandato quando reconheceu oficialmente a legitimidade da pseudoigreja do governo comunista chinês, a Associação Católica Patriótica.

Não admira que um clérigo tão importante como Mons. Nicola Bux, ex-consultor da Congregação para a Doutrina da Fé sob o Papa Bento XVI, tenha sido levado a declarar, durante uma entrevista, o seguinte: “Mais útil que uma correção fraternal [a Francisco] seria examinar a ‘validade jurídica’ da renúncia do Papa Bento XVI e ‘se é total ou parcial'”. Esta notícia aparece no blogue de Edward Pentin – curiosamente, sinalizado como “perigoso” e bloqueado pelo Google Chrome com uma banda vermelha de alerta. A reportagem de Pentin inclui a visão de Bux de que “esse estudo ‘aprofundado’ da renúncia […] poderia ajudar a ‘superar problemas que hoje parecem para nós insuperáveis’”. Querendo dizer, problemas decorrentes de um pontificado cujo programa parece ser, quase literalmente, atacar a Igreja.

Não faço comentários sobre a surpreendente sugestão de Bux exceto para notar que somente num pontificado como este – algo que a Igreja jamais conhecera – poderia um clérigo desta importância sentir-se compelido a publicar tais opiniões.

Só Deus sabe como a agudização da atual crise da Igreja representada pelo “problemático pontificado de Bergoglio” será resolvida. Uma coisa, contudo, podemos saber já com certeza: o que este Papa forjou em prejuízo da Igreja não prevalecerá. Será desfeito juntamente com todos os outros catastróficos afastamentos da Tradição a que o Cardeal D. Mario Luigi Ciappi referiu, à luz do Terceiro Segredo de Fátima, como uma apostasia que “parte do topo”.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 15 de novembro de 2018. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. A presente edição destina-se exclusivamente à sua divulgação, sempre que possível deve ser lido na sua edição original.

Basto 11/2018

O negócio secreto torna-se evidente

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Por Christopher A. Ferrara

Sandro Magister fez uma análise devastadora dos sinais emergentes da profundidade da traição da Igreja Subterrânea na China no mês seguinte ao acordo secreto entre o Vaticano e os ditadores comunistas de Pequim.

Os pontos principais são estes:

  • Pequim enviou dois bispos da “Igreja oficial” da China ao Sínodo dos Jovens e do Blá, Blá, Blá, que todos sabem não passar de uma elaborada farsa que disfarça uma intenção preconcebida de injetar na Igreja a noção venenosa de que existe uma tal coisa chamada “católico LGBT”, que subverteria todo o ensinamento da Igreja sobre o mal da depravação sexual.
  • Se os dois bispos foram escolhidos por Pequim, isso significa que Roma dobra-se agora perante os senhores comunistas, mas se foi Francisco quem os escolheu, isso significa, ainda pior, que ele deliberadamente validou a falsa Igreja criada por Pequim na Associação Católica Patriótica (ACP).
  • O primeiro bispo fantoche de Pequim enviado ao Sínodo, João Batista Yang Xiaoting, o chamado “bispo de Yan’an-Yulin”, é membro da Assembleia Popular da província de Shanxi, um braço do Partido Comunista Chinês.
  • O segundo, José Guo Jincai, o chamado “bispo de Chengde”, é membro da Assembleia Nacional do Povo, que é o órgão parlamentar central do partido.
  • Ambos os ditos bispos são também oficiais do falso Conselho Episcopal criado por Pequim, o “Conselho dos Bispos Chineses”, do qual Yang Xiaoting é vice-presidente e Guo Jincai vice-presidente e secretário-geral.
  • Pior ainda, Francisco levantou a excomunhão de Guo Jincai por ter sido consagrado sem um mandato papal, um dos sete bispos fantoches chineses tão favorecidos. Como “bispo de Chengde”, ele agora administra uma “diocese” que Pequim criou por decreto mas que Francisco agora, evidentemente, reconhece como legítima.
  • Pequim nomeou ainda como “bispo de Lanzhou” o ex-bispo “subterrâneo” José Han Zhihai, que, tendo cedido à pressão do governo, é agora um funcionário local da ACP.
  • Enquanto isso, o ex-bispo “subterrâneo” Thaddeus Ma Daqin, que revogou a sua participação na ACP apenas para anular a sua revogação e voltar para o “rebanho” da ACP, continua preso por “apostatar” de uma pseudo-igreja comunista.
  • O padre missionário francês e especialista em assuntos da China Jean Charbonnier admite que sob o acordo secreto cujos contornos agora vêm à luz, “o Papa Francisco aceitou o processo ‘democrático’ que os chineses já implementaram repetidamente” sob o qual a ACP designa quem será o próximo bispo, enquanto Francisco nada poderá fazer mais do que vetar a sua escolha. Mas “no dia em que o acordo foi assinado, o Papa não exerceu esse direito de veto de modo algum, pelo contrário, ele praticamente o rejeitou. Porque ele disse ‘sim’ a sete bispos que haviam sido anteriormente impostos pelo regime sem o consentimento do Papa e até mesmo, no caso de alguns, apesar da sua rejeição explícita por parte de Roma.”
  • O que agora está à vista é a morte iminente da verdadeira Igreja Católica na China, cujos verdadeiros bispos não são membros da ACP ou do Conselho dos Bispos Chineses, “aquela falsa conferência episcopal que até recentemente não tinha sido reconhecida por Roma, mas que agora recebeu legitimação, visto que o Papa terá que levar em consideração os candidatos ao episcopado que ela lhe apresentará”.
  • Por incrível que pareça, como observa Charbonnier, isso significa que os bispos “clandestinos” tornaram-se “duplamente clandestinos, em relação a [ambos] ao Estado e à Igreja”. E dado que 7 dos 17 restantes bispos verdadeiros têm mais de 75 anos de idade, é apenas uma questão de tempo até que os únicos restantes “bispos” na China sejam os da ACP.
  • Enquanto isso, para completar o desastre, enquanto o anuário papal mostra 144 dioceses católicas na China, Pequim decretou, por meio da ACP, que haverá apenas 96 sob um plano de reorganização, incluindo a recém-inventada “diocese de Chengde”, e “Papa Francisco parece ter dado sinal verde para a operação.

Resumindo, Francisco autorizou secretamente uma sentença de morte para a Igreja Católica na China. Como afirma o Cardeal Burke, o que Francisco fez é “absolutamente inconcebível” e “uma traição a tantos confessores e mártires que sofreram durante anos e anos e foram condenados à morte”. É também mais um sinal de uma situação quase apocalíptica na Igreja cuja resolução terá de envolver a intervenção direta e mais dramática do Céu – uma em que Nossa Senhora de Fátima irá desempenhar o papel principal, como o Terceiro Segredo sem dúvida anuncia.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 23 de outubro de 2018. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. A presente edição destina-se exclusivamente à sua divulgação, sempre que possível deve ser lido na sua edição original.

Basto 10/2018

Magistério reversível não é magistério

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Por Christopher A. Ferrara

O Papa Francisco evidentemente decidiu que pode “reverter” o ensinamento constante da Igreja a respeito da admissibilidade da pena capital, um ensinamento enraizado nas palavras do próprio Cristo a Pilatos, no ensinamento de São Paulo e nos pronunciamentos dos Papas e concílios em toda a história da Igreja, conforme eu discuti num artigo que escrevi para a revista Crisis.

Hoje, dia 2 de agosto, o Vaticano anunciou que “O Sumo Pontífice Francisco” (observe-se como o humilde “Bispo de Roma” se torna no “Sumo Pontífice” sempre que há necessidade) aprovou “a seguinte nova redação do n. 2267 do Catecismo da Igreja Católica, ordenando a sua tradução nas várias línguas e inserção em todas as edições do referido Catecismo.”

Pena de morte

2267. Durante muito tempo, considerou-se o recurso à pena de morte por parte da autoridade legítima, depois de um processo regular, como uma resposta adequada à gravidade de alguns delitos e um meio aceitável, ainda que extremo, para a tutela do bem comum.

Hoje vai-se tornando cada vez mais viva a consciência de que a dignidade da pessoa não se perde, mesmo depois de ter cometido crimes gravíssimos. Além disso, difundiu-se uma nova compreensão do sentido das sanções penais por parte do Estado. Por fim, foram desenvolvidos sistemas de detenção mais eficazes, que garantem a indispensável defesa dos cidadãos sem, ao mesmo tempo, tirar definitivamente ao réu a possibilidade de se redimir.

Por isso a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que «a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa»[1], e empenha-se com determinação a favor da sua abolição em todo o mundo.

[in Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, 02/08/2018]

Esta pretensa “reversão” de todos os ensinamentos anteriores da Igreja é obviamente absurda.

Em primeiro lugar, reduz o ensinamento constante do Magistério de que a pena de morte é admissível para as ofensas mais graves, sobretudo o assassinato, à expressão “durante muito tempo, considerou-se […] como uma resposta adequada à gravidade de alguns delitos”.

Durante muito tempo considerou-se? Quem considerou, mais precisamente? O homem da rua? A Enciclopédia Britânica? Os resultados de um estudo de opinião da [empresa de sondagens] Gallup? Não há referência alguma ao ensino bimilenar da Igreja, que é tratado como se nunca tivesse existido. Existe apenas uma única nota de rodapé que remete para uma comunicação isolada de Francisco no “Discurso aos participantes no encontro promovido pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização”…

Em segundo lugar, o texto não oferece nenhuma fundamentação para a “reversão” além de meras afirmações de factos circunstanciais em oposição a princípios morais universais:

  • “vai-se tornando cada vez mais viva a consciência de que a dignidade da pessoa não se perde…”
  • “uma nova compreensão do sentido das sanções penais por parte do Estado…”
  • “sistemas de detenção mais eficazes, que garantem a indispensável defesa dos cidadãos…”

É suposto acreditarmos que o Magistério não tinha plena consciência da dignidade humana dos criminosos antes da chegada de Jorge Bergoglio de Buenos Aires?

E desde quando a dignidade humana é incompatível com uma punição condigna (adequada) por um crime como o assassinato? Pelo contrário, uma defesa da dignidade humana pode exigir a pena de morte. Como o Catecismo do Concílio de Trento ensina, aludindo à verdade revelada no ensinamento de São Paulo: “O uso da espada civil, quando empunhada pela mão da justiça, longe de envolver crime de assassinato, é um ato de obediência primordial a este mandamento que proíbe o assassinato”.

Quatro séculos depois, o venerável Papa Pio XII repetiu esse ensinamento constante: “Mesmo quando se coloca a questão da condenação de alguém à morte, o Estado não descarta o direito de um individuo à vida. É então tarefa da autoridade pública privar o condenado do bem da vida, em expiação da sua culpa, depois de este já se ter privado do direito à vida pelo seu crime.” (AAS, 1952, p. 779 e p. seq).

Que entende Francisco por “uma nova compreensão do sentido das sanções penais por parte do Estado”? Absolutamente nada. Isto é palavreado vazio a camuflar a sua opinião pessoal.

Quanto à alegação de “sistemas de detenção mais eficazes”, que tem isso a ver com a legitimidade moral da pena capital para crimes capitais, que envolve apenas retribuição e expiação da culpa, não um mero confinamento por segurança pública? Além disso, muitas nações têm “sistemas de detenção” completamente inadequados, de modo que o pretexto não se enquadra.

E quanto aos prisioneiros que matam companheiros de prisão ou guardas prisionais, mesmo nos mais modernos “sistemas de detenção”? Essa lacuna, num raciocínio já frágil, nem sequer é abordada.

Baseando-se literalmente em nada além do que Francisco pensa, conclui o novo texto: “Por isso a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que «a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa»[1], e empenha-se com determinação a favor da sua abolição em todo o mundo.”

Não, “a Igreja” não pode de repente ensinar o oposto do que sempre ensinou a respeito da pena capital. Francisco, e somente Francisco, o faz.

Aqui vemos mais uma vez a sabedoria da observação do Padre Gruner, baseada na razão e no senso comum, de que o Magistério não pode contradizer-se e que qualquer contradição efetiva do que o Magistério ensina não pode, por isso mesmo, pertencer ao Magistério.

Se assim não fosse não haveria Magistério mas somente um Oráculo de Roma que anunciaria periodicamente “novos ensinamentos que contradizem completamente os ensinamentos que o Magistério ensinou desde os tempos apostólicos”…

E a propósito, quando anunciará Francisco a absoluta inadmissibilidade do aborto – uma pena de morte em massa para os inocentes – de acordo com o infalível ensinamento moral da Igreja, declarando assim no Catecismo que a Igreja “empenha-se com determinação a favor da sua abolição em todo o mundo”?

Conhecemos a resposta a essa pergunta. O mesmo Papa que pede a abolição mundial da pena capital para os culpados nunca exigiu a abolição mundial do assassinato de inocentes no útero, nem mesmo quando está este prestes a ser legalizado na Irlanda outrora católica.

Francisco ultrapassou claramente a sua autoridade de um modo que a Igreja nunca viu antes e fê-lo durante a pior corrupção moral que a hierarquia católica alguma vez mostrou.

Tal é a crise, cada vez pior, da fé e da disciplina que agora parece que só o Céu poderá resolver com a mais dramática das intervenções.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 2 de agosto de 2018. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original.

Basto 8/2018

Gaudete et Exsultate: Mesmo o que esperávamos

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Por Christopher A. Ferrara

A esta altura do pontificado do homem da Argentina, não é mesmo necessário ler a Gaudete et Exsultate para se saber o que contém: uma mistura de elementos de devoção, ataques a católicos ortodoxos e as novidades que este Papa tem avançado implacavelmente desde o momento da sua eleição. Isto é o que já vimos com a Evangelii Gaudium, com a Laudato si’ e, claro, com a desastrosa Amoris Laetitia que, inacreditavelmente, pretende abolir na prática o caráter sem exceções dos preceitos negativos da lei divina e natural, começando pelo Sexto Mandamento.

Ainda assim, só para ter a certeza, vi o documento. Relativamente curto, com um total de 20.000 palavras, corresponde precisamente ao que era expectável: algumas afirmações piedosas amarradas a apelos às mudanças radicais que Francisco exige em contradição com o ensinamento de todos os seus predecessores, juntamente com as denúncias do costume, apontadas ao clero e aos leigos ortodoxos que ousam opor-se às suas novidades.

Aqui está uma passagem chave que capta a essência daquilo a que Antonio Socci chamou, de forma tão apropriada, Bergoglianismo:

“A habituação seduz-nos e diz-nos que não tem sentido procurar mudar as coisas, que nada podemos fazer perante tal situação, que sempre foi assim e todavia sobrevivemos. Pela habituação, já não enfrentamos o mal e permitimos que as coisas «continuem como estão» ou como alguns decidiram que estejam. Deixemos então que o Senhor venha despertar-nos, dar-nos um abanão na nossa sonolência, libertar-nos da inércia. Desafiemos a habituação, abramos bem os olhos, os ouvidos e sobretudo o coração, para nos deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva e eficaz do Ressuscitado.”

Repare-se na confusão enganosa entre o concordar com o mal, que envolve pecado, e o não “mudar as coisas” ou aceitar “o sempre foi assim” ou “como alguns decidiram que estejam”, e a confusão igualmente enganosa entre fazer o bem e “desafi[ar] a habituação […] para nos deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva e eficaz do Ressuscitado.

Gaudete et Exsultate é, assim, uma tentativa velada de impor o enfraquecimento do Sexto Mandamento, inerente à Amoris Laetitia, sobre a Igreja, sob o disfarce de “discernimento” do que o Espírito Santo supostamente nos pede: a novidade. E sem deixar dúvidas sobre a sua intenção, o Papa Francisco deixa depois claro que exige adesão às suas novidades como sendo a voz de Deus através de si:

“Como é possível saber se algo vem do Espírito Santo ou se deriva do espírito do mundo e do espírito maligno? A única forma é o discernimento. Este não requer apenas uma boa capacidade de raciocinar e sentido comum, é também um dom que é preciso pedir. Se o pedirmos com confiança ao Espírito Santo e, ao mesmo tempo, nos esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão, a leitura e o bom conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade espiritual […].”

Até aqui, tudo bem. Mas a cápsula de veneno é administrada de imediato:

“Isto revela-se particularmente importante, quando aparece uma novidade na própria vida, sendo necessário então discernir se é o vinho novo que vem de Deus ou uma novidade enganadora do espírito do mundo ou do espírito maligno. Noutras ocasiões, sucede o contrário, porque as forças do mal induzem-nos a não mudar, a deixar as coisas como estão, a optar pelo imobilismo e a rigidez e, assim, impedimos que atue o sopro do Espírito Santo […].”

Não há outra palavra para este texto par além de desonesto: o mal manifesta-se pelo “imobilismo e a rigidez” perante o “mudar”, “mudar” no sentido que Francisco – sozinho entre todos os Papas até Pedro – exige em consonância com os “sinais dos tempos”.

Em sítio nenhum do grande Depósito da Fé encontramos qualquer ensinamento sobre o mal imaginário da imobilismo e a rigidez” perante o “mudar”. Muito pelo contrário, a resistência à mudança é precisamente o que é exigido por uma defesa do ensino imutável do Evangelho, que é o Palavra Eterna:

«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu. (Mt 5, 17-19)

Dando cumprimento à Lei de Deus, Nosso Senhor declarou que quem se divorcia e finge “casar-se de novo” comete adultério. Recorde-se a Sua repreensão aos fariseus, que recorreram a Moisés para defenderem a aprovação do divórcio: “Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas, ao princípio, não foi assim.” (Mt 19, 8)

No entanto, a Igreja é agora atormentada por um pontificado cujo tema é a tolerância do divórcio e do “recasamento” na Igreja e a admissão de adúlteros públicos à Sagrada Comunhão, ainda que mantenham as suas relações adúlteras, o que reverteria 2 000 anos de ensinamento da Igreja, arrastando-a toda de volta ao tempo de Moisés.

Com incomparável audácia, Francisco cita o Oitavo Mandamento quando invoca o inferno (cuja existência ele nega em conversas com Scalfari, de quem não nega os seus relatos) para demonizar os católicos que defendem os “outros mandamentos” – ou seja, o Sexto Mandamento que ele tem tentado subverter na prática ao longo dos últimos cinco anos:

“Mesmo nos meios de comunicação social católicos, os limites podem ser ultrapassados, a difamação e a calúnia podem tornar-se comuns e todos os padrões éticos e o respeito pelo bom nome dos outros podem ser abandonados… É surpreendente que, às vezes, ao afirmar defender os outros mandamentos, ignoram completamente o oitavo, que proíbe dar falso testemunho ou mentir, e vilificar implacavelmente os outros. Aqui vemos como a língua desprotegida, incendiada pelo inferno, incendeia todas as coisas (cf. Tg 3, 6)”.

Aparentemente, o Papa Francisco não vê “falso testemunho ou mentir” no seu discurso mais ou menos constante contra os católicos ortodoxos, nem percebe que “vilific[a] implacavelmente os outros” quando os denuncia, quase diariamente, como hipócritas rígidos. Como aconteceu com a flagrante adulteração feita pelo Vaticano da, agora infame, carta falsamente apresentada como o apoio de Bento XVI à “teologia do Papa Francisco”, Francisco evidentemente não se apercebe da trave à frente do seu próprio olho.

Podemos, no entanto, encontrar esperança no facto de que esta dura polémica papal não está a enganar ninguém que não queira ser enganado e que o número de fiéis que estão a despertar relativamente ao engano aumenta de dia para dia.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 11 de abril de 2018. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original. A imagem acima foi adicionada na presente edição, não faz parte da publicação original.

Basto 4/2018

Estado de Emergência: Terá o Papa negado (outra vez) a existência do Inferno?

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Inferno das Galinhas; in Fr. Z’s blog, 29/03/2018 (adaptado)

 

Por Christopher A. Ferrara

Em mais uma entrevista (a quinta) ao La Repubblica, com o amigo papal Eugenio Scalfari, fundador daquele jornal e um notório propagador ateísta da extrema esquerda em Itália, as seguintes palavras são atribuídas a Francisco:

[Scalfari:] Sua Santidade, no nosso encontro anterior, disse-me que a nossa espécie irá desaparecer num determinado momento e que Deus, sempre com a sua força criativa, irá criar novas espécies. Nunca me falou sobre as almas que morreram em pecado e irão para o Inferno sofrer por toda a eternidade. Falou-me, no entanto, das almas boas, admitidas na contemplação de Deus. Mas e as almas más? Onde são punidas?

[Francisco:] “Não são punidas, aquelas que se arrependem obtêm o perdão de Deus e entram no grupo das almas que o contemplam, mas aquelas que não se arrependem e não podem, portanto, ser perdoadas, desaparecem. Não há Inferno, há o desaparecimento das almas pecadoras.”

[Santità, nel nostro precedente incontro lei mi disse che la nostra specie ad un certo punto scomparirà e Dio sempre dal suo seme creativo creerà altre specie. Lei non mi ha mai parlato di anime che sono morte nel peccato e vanno all’inferno per scontarlo in eterno. Lei mi ha parlato invece di anime buone e ammesse alla contemplazione di Dio. Ma le anime cattive? Dove vengono punite?

“Non vengono punite, quelle che si pentono ottengono il perdono di Dio e vanno tra le fila delle anime che lo contemplano, ma quelle che non si pentono e non possono quindi essere perdonate scompaiono. Non esiste un inferno, esiste la scomparsa delle anime peccatrici”.]

(tradução livre a partir da versão em inglês publicada no Rorate Caeli)

Esta é a segunda vez que o Papa Francisco, segundo Scalfari, professa a heresia “aniquilacionista”, a primeira tinha sido na entrevista de 2015. Mesmo considerando a tendência de Scalfari, admitida pelo próprio, de publicar entrevistas com o Papa que são reconstruções e não transcrições ipsis verbis das suas palavras, a questão permanece: Será isto, em substância, o que o Papa disse?

A esta altura, apenas um tipo de negação será suficiente: uma afirmação inequívoca de que Francisco deseja que se saiba que as palavras que lhe foram atribuídas pelo seu amigo são uma completa invenção e que, de modo algum, Francisco professou que não existe Inferno e que as almas dos condenados são meramente aniquiladas depois da morte.

Mas essa é exatamente a negação que não recebemos. O porta-voz do Vaticano para a comunicação social, Greg Burke, em vez disso, ofereceu esta escorregadia ambiguidade (tradução nossa):

“O Santo Padre recebeu recentemente o fundador do jornal La Repubblica numa reunião privada por ocasião da Páscoa, sem, contudo, lhe conceder uma entrevista. O que é referido pelo autor do artigo de hoje é o fruto da sua reconstrução em que as palavras exatas proferidas pelo Papa não são citadas. Nenhuma citação no artigo mencionado deve, portanto, ser considerada como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre.”

Esta “negação” é essencialmente uma confirmação de que o Papa terá dito algo do género – a segunda vez que o fez – mesmo que a citação não seja exatamente textual. Não há uma negação cabal de que o Papa acredita no aniquilacionismo. Quanto à alegação de que Francisco não concedera uma entrevista a um jornalista que estava a fazer uma série de perguntas pela quinta vez, o que é pouco credível, isso é, no mínimo, uma admissão implícita de que Francisco terá dito algo em privado que não desejava que se tornasse público.

Do próprio Francisco, nem uma palavra de contradição em relação ao seu amigo Scalfari. Regressaremos a esta revelação impressionante depois do Tríduo Pascal. Nessa altura, teremos já visto se o Papa Francisco nega realmente a opinião herética que lhe fora atribuída.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 29 de março de 2018. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original. A imagem acima foi adicionada na presente edição, não faz parte da publicação original.

Basto 3/2018