Bento XVI: os recasados estão no coração da Igreja

Recuperemos aqui este belo momento de Bento XVI, em Milão (Itália), durante o VII Encontro Mundial das Famílias, em 2012:

Será que esta doutrina bimilenar passou de moda? Mas desde quando é que a Verdade de Cristo se submete ao espírito da época?

Realçamos:

Considero grande tarefa duma paróquia, duma comunidade católica, fazer todo o possível para que elas sintam que são amadas, acolhidas, que não estão «fora», apesar de não poderem receber a absolvição nem a Comunhão: devem ver que mesmo assim vivem plenamente na Igreja. Mesmo se não é possível a absolvição na Confissão, não deixa talvez de ser muito importante um contacto permanente com um sacerdote, com um director espiritual, para que possam ver que são acompanhadas, guiadas. Além disso, é muito importante também que sintam que a Eucaristia é verdadeira e participam nela se realmente entram em comunhão com o Corpo de Cristo. Mesmo sem a recepção «corporal» do Sacramento, podemos estar, espiritualmente, unidos a Cristo no seu Corpo. É importante fazer compreender isto.

(Bento XVI, 22/06/2012, in Vatican.va)

Apenas alguns meses depois:

Isto foi apenas o prelúdio. O resto da história já todos conhecemos porque estamos a vivê-la em tempo real. Uma história verdadeiramente inacreditável, principalmente pelo cenário de silêncio cúmplice em que tem vindo a desenrolar-se.

Basto 10/2017

O resultado do ecumenismo: apostasia

serviço dde homenagem a lutero
Bispos e bispas no serviço religioso luterano-católico de homenagem ao herege excomungado Martinho Lutero, em Lund (Suécia) a 31 de outubro de 2016, in ELCA, 31/10/2016

 

Por Christopher A. Ferrara

Como foi noticiado pela Gloria TV (citando a orf.at), o arquimodernista cardeal Walter Kasper, cuja falsa noção de “misericórdia” animou todo o projeto da Sagrada Comunhão para adúlteros públicos, acaba de declarar que “hoje em dia não há mais diferenças significativas entre cristãos protestantes e católicos…”

Compreensivelmente, essa observação provocou indignação entre os católicos ortodoxos, porém, após uma reflexão, reconhecer-se-á que é meramente uma afirmação do óbvio. Ou seja, hoje em dia, como mostram consistentemente os estudos de opinião, a generalidade dos católicos são efetivamente protestantes em termos de adesão ao ensino da Igreja sobre fé e moral, particularmente em questões relativas à moral sexual, incluindo a aceitação do aborto em “alguns casos“. Pior ainda, no que diz respeito ao casamento e à homossexualidade, hoje, o católico comum é ainda mais liberal do que os protestantes evangélicos mais conservadores, cuja Declaração de Nashville, que discuti no meu último artigo, certamente não receberia aprovação da maioria dos católicos. Por exemplo, como o Life Site News informa, “dois em cada três católicos – uns extraordinários 67% – responderam à Pew Poll Surveyors que agora apoiam o “casamento gay”.

Essa “conversão” de católicos, na prática, ao protestantismo liberal era eminentemente previsível. Foi, de facto, predita pelo Papa Pio XI na sua condenação ao “movimento ecuménico” de origem protestante na década de 1920. Ao proibir qualquer participação católica nesse movimento subversivo, Pio XI lançou este aviso na sua histórica encíclica Mortalium animos (1928):

Esta iniciativa é promovida de modo tão ativo que, de muitos modos, consegue para si a adesão dos cidadão e arrebata e alicia os espíritos, mesmo de muitos católicos, pela esperança de realizar uma união que parecia de acordo com os desejos da Santa Mãe, a Igreja, para Quem, realmente, nada é tão antigo quanto o reconvocar e o reconduzir os filhos desviados para o seu grémio.

Na verdade, sob os atrativos e os afagos destas palavras oculta-se um gravíssimo erro pelo qual são totalmente destruídos os fundamentos da fé.

O erro em questão é o de reduzir as diferenças entre católicos e protestantes a questões meramente discutíveis, que são postas de lado em favor do “diálogo ecuménico” baseado em verdades supostamente mais fundamentais. Como Pio XI explicou:

Assim, dizem, é necessários colocar de lado e afastar as controvérsias e as antiquíssimas variedade de sentenças que até hoje impedem a unidade do nome cristão e, quanto às outras doutrinas, elaborar e propor uma certa lei comum de crer, em cuja profissão de fé todos se conheçam e se sintam como irmãos, pois, se as múltiplas igrejas e comunidades forem unidas por um certo pacto, existiria já a condição para que os progressos da impiedade fossem futuramente impedidos de modo sólido e frutuoso.

Por outras palavras, o “movimento ecuménico” levaria inexoravelmente à aceitação católica de uma forma de cristianismo de menor denominador comum, sendo o denominador determinado pelo implacável declínio moral e espiritual das seitas protestantes cujos adeptos não estão minimamente interessados em submeter-se à autoridade do Papa e do Magistério.

No entanto, ignorando o alerta previdente de Pio XI, as forças progressistas no Concílio Vaticano II conseguiram obter o aval do Concílio precisamente em relação ao “movimento ecuménico” por meio do documento conciliar Unitatis redintegratio, que aprova abruptamente a participação católica no próprio movimento que Pio XI tinha condenado apenas 25 anos antes. O que se seguiu foi a pletora de encontros “ecuménicos”, liturgias e outros gestos que colocaram a Igreja Católica em pé de igualdade com as seitas protestantes que surgiram para negar não só verdades reveladas mas até mesmo os preceitos da lei natural a respeito do casamento, da procriação e da santidade da vida humana em todas as suas fases.

E agora vemos o resultado final desse desastroso erro de julgamento prudencial, tal como foi previsto por Pio XI:

Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembleias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo.

Ironia das ironias, hoje, os protestantes mais conservadores (como os do Sínodo Luterano do Missouri) não querem nada com a busca louca do “ecumenismo católico” do Vaticano com denominações protestantes de orientações completamente degeneradas, incluindo os apatetados anglicanos, precisamente porque esses protestantes mais conservadores rejeitam o indiferentismo religioso que o “ecumenismo” implica.

O resultado final do “ecumenismo” – e de facto toda a “abertura ao mundo” que se seguiu ao Vaticano II – foi descrita por João Paulo II na sua exortação apostólica sobre o estado da Fé na Europa, ainda ele nunca tenha admitido a culpa da própria liderança da Igreja na ruinosa adoção daquilo que Pio XI havia condenado. Citando João Paulo II: “A cultura europeia dá a impressão de uma «apostasia silenciosa» por parte do homem saciado, que vive como se Deus não existisse.” Mas poderia João Paulo II não ter conseguido reparar no papel dos próprios líderes da Igreja na renúncia programática à função divinamente designada da Igreja como única arca da salvação, encorajando os membros do seu próprio bando a abandonar o navio?

Quando é que os líderes da Igreja irão admitir que o último meio século de experimentação na novidade tem sido um desastre total, produzindo a pior crise na história da Igreja? Apenas quando o Imaculado Coração de Maria triunfar depois da Consagração da Rússia em obediência à ordem divina.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center a 15 de setembro de 2017. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original. As citações incluídas neste artigo estão apresentadas na tradução oficial do Vaticano. A imagem foi adicionada na presente edição, não fazendo parte da publicação original.

Basto 9/2017