Leonardo Boff, o ex-sacerdote brasileiro, ativista de Esquerda e ideólogo da chamada “teologia da libertação”, anteriormente condenado pela Congregação para a Doutrina da Fé por causa das suas posições heréticas e reacionárias, escreveu ao Santo Padre para lhe manifestar o seu apoio contra os “membros conservadores do governo Trump, articulados com grupos conservadores e até reacionários da Igreja Católica estadounidense, liderados pelo Card. Viganó”. Em resposta, o Santo Padre enviou-lhe também uma carta, agradecendo-lhe pessoalmente esse apoio.
Dr. Leonardo Boff
Querido hermano,
Gracias por tu carta enviada tràmite el P. Fabiàn. Me alegrò recibirla y te agradezco la generosidad de tus comentarios.
Recuerdo nuestro primer encuentro, en San Miguel, en una reuniòn de la CLAR, allà por los anios 72-75. Y luego te seguì leyendo algunas de tus obras.
Por estos dìas estaràs cumpliendo 80 años. Te hago llegar mis mejores augurios.
Y, por favor, no te olvides de rezar por mì. Lo hago por vos y tu Senora [1]. Que Jesùs te bendiga y la Virgen Santa te cuide.
Fraternalmente.
Francisco
(Carta do Papa Francisco a Leonardo Boff; in leonardoBOFF.com, 17/12/2018)
[1] Referência à “teóloga” e ativista de Esquerda Márcia Monteiro da Silva Miranda.
Márcia Miranda e Leonardo Boff junto da ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff.
A “sua senhora”, de acordo com a Folha de São Paulo, é uma mulher casada e mãe de seis filhos com quem Boff, quando era ainda frade franciscano, manteve uma secreta relação amorosa ao longo de 12 anos. Após a dispensa dos votos e o abandono do convento, o ex-sacerdote assumiu publicamente a sua ligação amorosa com Márcia Miranda, definindo-a como “uma relação pós-moderna”, em que a senhora visita o seu apartamento “pelo menos duas noites por semana […] e alguns fins-de-semana”, nos restantes dias, Boff “vive como num mosteiro”.
Genézio Darci Boff (mais conhecido como Leonardo Boff) in Religión Digital, 17/03/2013.
Leonardo Boff, um dos maiores representantes da teologia da libertação, após décadas de censura durante os pontificados de João Paulo II e Bento XVI, sente-se agora reabilitado pelo Papa Francisco, a quem considera “um dos nossos”.
Em mais uma homilia na capela da Casa de Santa Marta, o Papa Francisco voltou a insultar os católicos que questionam o seu novo ensinamento sobre o casamento e o divórcio, apelidando-os de “hipócritas” ao serviço do diabo.
Na homilia de 24 de fevereiro, na Casa de Santa Marta, o Papa Francisco exortou os fiéis evitarem a lógica de casuística no juízo moral. Focando-se no tema do divórcio, tratado no evangelho do dia (Mc 10, 1-12), o Santo Padre condenou a hipocrisia dos fariseus que abordaram Jesus através de uma “lógica casuística” que é “um engano”.
A abordagem casuística é um raciocínio moral feito caso a caso, que se baseia nas particularidades de casos concretos para justificar a licitude de algo moralmente ilícito.
O “caminho de Jesus”, de acordo com o Santo Padre, não é o “da casuística” mas sim o “da Verdade”, o “da misericórdia”. O caminho da misericórdia verdadeira, do arrependimento – acrescentamos nós…
A palavra de Deus é taxativa no que diz respeito ao Matrimónio, conforme atesta o texto do evangelho sobre o qual o Papa pronunciou a homilia aqui referida.
Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.» (Mc 10, 11-12)
O eufemismo “situação irregular”, utilizado frequentemente pela nova pastoral católica menos comprometida, equivale semanticamente ao termo “adultério” utilizado por Jesus Cristo no evangelho. Um pecado considerado grave, aliás mortal.
A Igreja deve ter todos os cuidados pastorais para com aqueles que mais necessitam, mas não pode, em caso algum, através da Sagrada Comunhão, oferecer a condenação eterna a quem não se encontra em condições de comungar (1Cor 11, 29).
Ao pretender-se atribuir legitimidade a uma relação adúltera, seguindo uma análise caso a caso, centrada na consciência individual e em outras particularidades, é entrar numa lógica de casuística, que dá aparência de verdadeiro juízo moral mas não passa de um sofisma, uma falsidade.
Agora só falta entender o que é o tal “discernimento”…
Como Portugal se localiza no Hemisfério Norte, o Equinócio da Primavera registou-se ainda há menos de três semanas, no entanto, o clero português já começou a colher os primeiros frutos das reformas introduzidas pelo Papa Francisco.
Os tribunais eclesiásticos portugueses estão a registar«uma maior afluência de pedidos» de nulidade matrimonial, depois das alterações processuais introduzidas pelo Papa Francisco, em vigor desde 8 de dezembro do ano passado, de acordo com a informação do cardeal-patriarca de Lisboa. Esta grande “reforma” foi introduzida precisamente no dia da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria – o que, em si, já é um facto curioso – e está produzir um efeito amargo que é o do aumento dos pedidos de nulidade do casamento.
Convém relembrar que um casamento católico não é passível de ser anulado, apesar de toda a propaganda que tem sido feita à volta deste conceito e que cria falsas expectativas nos esposos que vivem crises matrimoniais. A anulação ou “divórcio católico” não existe. O que existe, é a verificação de uma eventual nulidade do casamento, ou seja, comprovar que determinado casamento não aconteceu de facto porque não foram cumpridos um conjunto de critérios básicos para validar aquele sacramento. Estamos a falar de casos tão invulgares e, de certo modo, complexos, que devem ser mantidos no âmbito da excepcionalidade e avaliados muito cuidadosamente pelas autoridades da Igreja.
A simplificação destes processos, por si só, associada ao mediatismo promovido em torno desta iniciativa, conduz obviamente ao aumento da procura desta solução por muitas pessoas que vivem crises matrimoniais. Mas do que é que se estava à espera?
Como na esmagadora maioria dos casos – esperemos que assim seja – os processos são indeferidos, eles podem, em si, constituir novas feridas matrimoniais que terão de ser carregadas pelos esposos ao longo da vida.
Uma falsa nulidade matrimonial é bem pior do que um divórcio, independentemente desta ser validada ou não pelas autoridades eclesiásticas. As habilidades processuais, se existirem, podem enganar toda gente menos uma pessoa, Aquela perante a qual teremos um dia de responder.
Que bom que seria se o Santo Padre fosse assim tão pragmático a apresentar soluções simples e claras, por exemplo, para as pessoas que vivem em adultério ou relações homossexuais. Isso é que seria bom para “proteger a família”.
Notícia de capa do Semanário Sol de 31 de julho de 2015
Relativamente a Portugal, apesar de não ter sido uma questão fácil, o problema estava resolvido já no ano passado. O Cardeal Patriarca de Lisboa levou ao Sínodo da Família a posição da Igreja Portuguesa favorável à defesa do tradicional conceito de matrimónio cristão e da necessidade de proteção à família. Esperemos que a cúria romana não reacenda o incêndio.
O jornal refere que os representantes da Igreja portuguesa estavam divididos, o que de resto não surpreende quando nem mesmo Roma tem mostrado muita certeza. Uma grande parte dos bispos, maioritariamente da Região Centro, liderados curiosamente pelo bispo de Leiria-Fátima, pretendiam introduzir as heréticas inovações kasperianas na pastoral familiar. Um solução inviável pois, com muitos teólogos têm explicado, a pastoral da Igreja não pode ser contrária à sua doutrina, mas antes o reflexo da mesma.
Na hora de decidir qual o parecer que a Igreja portuguesa ia enviar para o Vaticano sobre este assunto, o bispo António Marto apresentou um documento que subscrevia a polémica visão do cardeal Walter Kasper sobre o acesso dos divorciados recasados à comunhão. Segundo esta proposta, os recasados poderiam voltar a comungar na missa após um percurso penitencial. Haveria uma análise caso a caso e uma decisão final que caberia ao bispo da diocese.
O bispo de Leiria-Fátima, que é também o vice-presidente da CEP,apresentou esta proposta detalhadamente, recebendo olhares de entusiasmo de uns e sinais de reprovação de outros. “Demorámos muito tempo com este assunto. Havia muitos a abanar a cabeça”, contou ao SOL um dos bispos presentes na reunião.
[…]
Para o cardeal [Patriarca, D. Manuel Clemente], e ao contrário do colega de Leiria-Fátima, não deve alterar-se a doutrina católica, que defende queo casamento é indissolúvel e que os divorciados que voltam a casar vivem uma situação de adultério, estando por isso impedidos de comungar a hóstia na missa. Manuel Clemente defendeu então um caminho alternativo: o da simplificação dos processos de nulidade do matrimónio. Um procedimento que já está previsto na Igreja e consiste na avaliação das condições em que foi realizado o casamento. Se ele for considerado inválido, os casais ficam livres para uma segunda união, podendo nesse caso comungar.
Felizmente, a Verdade acabaria por prevalecer naquela reunião da Conferência Episcopal do verão passado. O Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, esteve à altura do cargo que desempenha, defendendo a santidade e a indissolubilidade do Matrimónio.
Recorte da versão impressa do jornal Sol de 31 de julho de 2015 (D. Manuel Clemente na foto)
Quando saiu, no ano passado, esta notícia trouxe à memória de muita gente aquela meia frase enigmática que já fez correr muita tinta e não deixa que o Segredo de Fátima seja definitivamente enterrado, como muitos desejam.
Meia frase adicionada pela Ir. Lúcia, na sua 4ª Memória, de 1941, à já então conhecida mensagem de Fátima (início do 3º Segredo)
“O confronto final entre Deus e Satanás será sobre a família e a vida.”
“Não tenha medo, acrescentava, porque quem trabalha pela santidade do casamento e da família será sempre combatido e odiado de todas as formas, porque este é o ponto decisivo.”
“Advertia-se também, falando com João Paulo II, que este era o ponto central, porque se tocava a coluna que sustenta a Criação, a verdade sobre a relação entre o homem e a mulher, e entre as gerações. Quando se toca a coluna central, todo o edifício cai, e é isso que estamos a ver agora, neste momento, e já sabemos.”
Fazendo um triangulação destes três dados, nomeadamente, a recente posição do clero português, a meia frase enigmática de Fátima e a carta do Cardeal Caffarra, podemos deduzir parte do que poderá estar encerrado dentro do famoso “etc”. Mas há-de haver, com certeza, muito mais. Esperemos que o Santo Padre se tenha deixado também inspirar por estes três detalhes antes de redigir a importante exortação apostólica.