Poderá alguém neste mundo possuir absurdamente capacidade para atestar o óbito institucional de um Papa? Esse atributo corresponderia a uma função extremamente invulgar, talvez ainda mais rara do que a de “Papa Emérito”.
Na crónica que assina regularmente no jornal Público, Frei Bento Domingues decidiu recentemente declarar Bento XVI institucionalmente morto, ao que acrescentou ainda o desrespeitoso sarcasmo “mas julga que não”.

Como o seu “manifesto”, desta vez, não era sobre a “indústria da conserva dogmática“, não vamos aqui falar de lata, mas convenhamos que a sua atitude implica uma grande dose de voluntarismo… Como é que um frade dominicano deste periférico Portugal se propõe a ensinar o primeiro Papa Emérito da história da humanidade sobre como deve comportar-se? Para além de voluntarismo, esta atitude revela uma ousadia extraordinária, tendo em conta que foi o próprio Bento XVI quem inventou o estatuto de “Papa Emérito” na Igreja Católica e, portanto, talvez conheça os seus atributos melhor do que a maioria das pessoas…
Não temos dois Papas, como a ignorância e obscuros interesses procuram fazer crer. Sob o ponto de vista institucional, o Papa Bento XVI morreu. Acabou.
(Frei Bento Domingues OP, in Público, 28/05/2017)
Mas a verdade é que temos mesmo dois Papas vivos, ambos em Roma, e o mais insólito desta situação é que os ensinamentos de um estão claramente em contradição com os do outro, apesar de todos os esforços para se provar o contrário. Aliás, a preocupação de Frei Bento Domingues em declarar o óbito institucional de um deles acaba por comprovar isso mesmo. É dessa contradição que resulta o incómodo que conduz a atitudes tão radicais como aquela que assumiu publicamente o conhecido frade português.
Outro aspeto que também merece aqui destaque é o facto de Bento Domingues, assumido “fã do Papa Francisco“, acabar por desautorizá-lo quando envereda por este tipo de “rigorismos” e “legalismos” canónicos que o Papa reinante tanto condena. Já para não falar da gravidade do “pecado” que seria “descartar” Bento XVI que, apesar da idade avançada e da fragilidade física, continua com uma grande lucidez intelectual e, acima de tudo, espiritual.
O Papado foi instituído pelo próprio Cristo, o nosso Deus, portanto é uma instituição divina, não se rege por critérios mundanos.
Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. (Mt 16, 18)
Um Papa estará institucionalmente morto apenas quando deixar de ser a pedra que impede os poderes do Abismo de atentarem contra a Igreja de Cristo. E a verdade é que Bento XVI, mesmo em silêncio, continua a ser o grande obstáculo…
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Basto 6/2017