Negócio da China

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Bandeira da República Popular da China

O jornal South China Morning Post, de Hong Kong, noticiou esta semana que Pequim e a Santa Sé terão chegado a um acordo inicial sobre a questão da ordenação de bispos. O jornal cita o Cardeal John Tong Hon, bispo de Hong Kong, para explicar em que consiste esse acordo.

A Sé Apostólica tem o direito de escolher, a partir da lista recomendada, os candidatos que considera como mais adequados e o direito de rejeitar os candidatos recomendados por uma conferência de bispos da China e pelos bispos das províncias sob a sua administração.


(in SCMP, 05/08/2016)

Isto não dá para entender ainda muito bem o que se passa, mas parece um verdadeiro negócio da China. Se não estivermos enganados na nossa interpretação – mas oxalá que sim – o Vaticano está disposto a aceitar escolher os bispos a partir de um catálogo de candidatos propostos ou aprovados pela ditadura marxista chinesa? Esta questão da ordenação dos bispos foi sempre um dos principais pontos de desentendimento entre a República Popular da China e a Santa Sé.

A República Popular da China é um dos países onde a Igreja Católica é mais perseguida em todo o mundo. Exceptuam-se desta provação apenas as regiões administrativas de Macau e Hong-Kong, antigas colónias portuguesa e britânica respetivamente, cuja atual autonomia foi negociada antes da devolução da sua soberania à China. No restante território chinês, a Igreja Católica Romana vive na clandestinidade, os seus crentes são fortemente perseguidos pelo regime tirano comunista.

Para além da verdadeira Igreja, a clandestina, a existe também a igreja católica oficial. Esta encontra-se sob o controlo governamental da Associação Patriótica Católica Chinesa. Esta associação é um organismo do regime não reconhecido pela Santa Sé, pelo menos até agora.

O alerta face à notícia em epígrafe foi levantado pelo Cardeal Joseph Zen Ze-kiu, bispo emérito de Hong Kong.

Permitir oficialmente [o governo chinês] gerir a igreja? Isso significaria rendição.

A relação fica estabelecida, e depois? Quando o Papa visitar a China e o governo selecionar apenas as pessoas obedientes para se encontrarem com Papa, o que será daqueles que pertencem às igrejas clandestinas?

(in HKFP, 09/08/2016)

Este cardeal teme, já há algum tempo, um desfecho semelhante a este da atual diplomacia do Vaticano, receando agora que a Igreja Católica da China possa morrer às mãos do Santo Padre, depois de ter resistido tantos anos aos seus inimigos.

Que a Nossa Senhora Imperatriz da China proteja o seu povo.

 

Basto 8/2016