A ideia de que o Segredo de Fátima foi completamente revelado pelo Vaticano no ano 2000 já não convence, neste momento, muita gente, por várias razões.
Primeiro, porque o Segredo revelado não tinha nada de excecional para não poder ser publicado antes.
Depois, porque as referências anteriormente conhecidas ao conteúdo do referido texto, por parte daqueles que tinham tido acesso ao documento (Papas incluídos), não se confirmaram no Segredo publicado (excetuando algum eventual sentido simbólico da visão descrita, difícil de interpretar).
Finalmente, porque existem detalhes técnicos e factuais que fazem transparecer uma ideia de “gato escondido com o rabo de fora”.
Uma investigação atenta sobre esses detalhes, confrontada com algumas das informações anteriormente reveladas sobre o Segredo, bem como com factos documentados, pode suscitar mais dúvidas ou então aumentar certezas. Nesta linha de pensamento e seguindo metodologia mais própria da investigação forense, o Dr. John Salza acabou por concluir – à semelhança de outros investigadores – que existem dois documentos separados que fazem parte daquilo que é normalmente referido como o 3º Segredo de Fátima.
John Salza é um advogado norte-americano, Católico, estudioso do fenómeno de Fátima, e autor de vários livros versados sobre questões relacionadas com o Catolicismo. Encontra-se também ligado ao Fatima Center, apostolado dedicado à mensagem de Fátima, fundado pelo Pe. Nicholas Gruner.
Na Conferência da Paz, que teve lugar em Washington em 2015, Salza apresentou os resultados da sua investigação, devidamente documentados, de onde se podem destacar as seguintes conclusões:
- Existem dois documentos diferentes referentes ao 3º Segredo de Fátima, um com a descrição da visão do Segredo, publicado no ano 2000, e outro que deverá ser uma carta com a transcrição das palavras ditas por Nossa Senhora para explicar a conhecida visão.
- As palavras de Nossa Senhora foram escritas numa carta dirigida ao Bispo de Leiria, dando continuação ao “Em Portugal será conservado o dogma da Fé etc.”. O Segredo publicado no ano 2000 é uma texto descritivo, apontado numa folha de caderno não dirigida especificamente a alguém, não é uma carta.
- É, desde há muito tempo, do conhecimento público que o Segredo ocupa uma página de 20 a 25 linhas, no entanto, o Segredo publicado tem 62 linhas.
- A carta foi escrita a 9 de janeiro de 1944, ou imediatamente antes, enquanto a descrição do Segredo data de 3 de janeiro de 1944.
- Ambos documentos foram colocados em envelopes separados e selados.
- Ambos envelopes tinham indicações expressas de Nossa Senhora para serem abertos em 1960.
- Um dos envelopes foi enviado para Roma a 16 de abril de 1957 e o outro foi a 4 de abril do mesmo ano.
- Ambos documentos foram lidos em momentos diferentes, quando acedidos por vários Papas.
- Um dos envelopes foi guardado nos Apartamentos Papais e o outro foi guardado no Arquivo Secreto do Santo Ofício.
- O conteúdo da carta com as palavras de Nossa Senhora deve ser avassalador, revelando provavelmente castigos espirituais e materiais sobre a Igreja Católica e a humanidade em geral.
Estas conclusões vão ao encontro das últimas revelações sobre o Segredo de Fátima que surgiram com a publicação da obra biográfica “Um caminho sob o olhar de Maria”, da autoria das Irmãs Carmelitas de Coimbra, em 2013. Parece que no momento em que Lúcia, por obediência, escreveu o 3º Segredo de Fátima, não redigiu a respetiva interpretação, ou não o terá feito no mesmo documento. Mais, essa interpretação, de uma forma ou de outra, foi-lhe dada a conhecer, não podia ser subjetiva.
Não temas, quis Deus provar a tua obediência, Fé e humildade, está em paz e escreve o que te mandam, não porém o que te é dado entender do seu significado. (Carmelo de Coimbra, 2013)
Os resultados da investigação apresentada batem também certo com outra revelação, esta ainda mais evidente, [que resultou de um descuido?] do Cardeal Tarcisio Bertone, quando em 2010, apareceu num programa da televisão para falar do Segredo de Fátima. Este proeminente cardeal, entre outras funções, já foi Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, Secretário de Estado do Vaticano e Camerlengo. O seu nome está incontornavelmente ligado a toda a controvérsia existente em torno do Segredo de Fátima, uma vez que os seus depoimentos, altamente contestados, são tidos como oficiais.
No popular programa “Porta a Porta”, da RaiUno, Bertone mostrou dois envelopes lacados, aparentemente idênticos, onde se podia ler, em português e na conhecida caligrafia da Irmã Lúcia, o seguinte:
Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960, por Sua Ex.cia Rev. ma o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa ou por Sua Ex.cia Rev. ma o Senhor Bispo de Leiria.
Mas por que razão havia necessidade de dois envelopes lacados, um dentro do outro, para enviar um único documento?


Depois de tudo, será que o 3º Segredo publicado pelo Vaticano é verosímil? Claro que sim, no entanto, a interpretação que o Vaticano lhe atribuiu é que parece ser mais a de um profecia pretendida do que de uma profecia cumprida. Se quisermos ser muito precisos na abordagem, verificamos que a meia frase truncada com as palavras de Nossa Senhora – “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc.” – foi de facto adicionada à segunda parte do segredo. Neste sentido, não é necessário mentir, se calhar o que falta mesmo publicar, nem é o 3º Segredo de Fátima, mas antes o resto do 2º, dependendo da perspetiva de quem trata do assunto.
De qualquer modo, à medida que o tempo passa, as pessoas começam a perceber onde é que o dogma da Fé se perde fora de Portugal, e de que maneira… Possivelmente, a coisa ainda poderá piorar muito mais. Depois disso, daquele segredo, só faltará mesmo conhecer o remédio de Deus para toda esta calamidade, o qual tem ser muito duro, com certeza, mas nunca falha.
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Basto 3/2016