Vaticano: católicos reconhecem agora Martinho Lutero como uma “testemunha do evangelho”

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Papa Francisco junto a uma estátua de Marinho Lutero – LifeSiteNews

Por John-Henry Westen

ROMA, 5 de janeiro, 2017 (LifeSiteNews) – Um documento recentemente publicado da coautoria do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos promove a próxima Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, de 18 a 25 de janeiro, sob o tema “Reconciliação: é o amor de Cristo que nos compele”. Incentivando as comemorações em todas as dioceses do mundo, o Pontifício Conselho observa que o tema tem origem no 500º aniversário da Reforma Protestante. Em 2017, diz: “os cristãos luteranos e católicos, pela primeira vez, vão comemorar juntos o início da Reforma”. O texto afirma ainda que “os católicos são agora capazes de ouvir o desafio de Lutero para a Igreja de hoje, reconhecendo-o como uma testemunha do evangelho“.

O anúncio segue-se à controversa viagem do Papa Francisco a Lund, na Suécia, onde se associou ao lançamento do 500º aniversário da mais devastadora separação de toda a história do cristianismo. A Igreja Luterana da Suécia, à qual o Papa Francisco se juntou para essa celebração, aceita a contraceção, o aborto, a homossexualidade e o clero feminino, os quais são estrita e imutavelmente proibidos na Igreja Católica.

Ainda assim, o Vaticano incentiva a celebração conjunta da Reforma, focando-se no elemento comum de “Jesus Cristo e na sua obra de reconciliação como o centro da fé cristã”.

O tema da semana da unidade dos cristãos leva observadores do Vaticano a questionar se o Papa poderá anunciar que, em certos casos limitados, a intercomunhão para os protestantes venha a ser possível. O Papa já sugeriu isso anteriormente, em conversa informal, numa paróquia luterana em Roma, em novembro de 2015, onde uma mulher luterana lhe perguntou se poderia receber a comunhão juntamente com o seu marido católico e ele lhe disse para “seguir em frente” guiada pela consciência individual.

Essa suspeita ganhou força no mês passado, quando o cardeal Walter Kasper, um dos assessores mais próximos do Papa, disse esperar que a “próxima declaração papal abra o caminho para a comunhão eucarística compartilhada em casos especiais”.

A intercomunhão eucarística é o principal desejo dos líderes luteranos e católicos ligados à participação papal na comemoração luterana. O professor sueco Clemens Cavallin, num ensaio sobre “a Suécia e o legado de 500 anos de reforma“, observa que, a respeito da visita papal, a página da internet da Igreja Sueca declara explicitamente: “O que mais desejamos é que a celebração comum da Eucaristia seja oficialmente possível. Isto é especialmente importante para as famílias onde os membros pertencem a denominações diferentes.”

A gravidade dessa mudança, caso seja implementada, foi explicada pelo Mons. Nicola Bux, antigo consultor do Vaticano na Congregação para a Doutrina da Fé. Se a Igreja mudasse as suas regras a respeito da comunhão eucarística compartilhada, “iria contra a Revelação e o Magistério”, levando os cristãos a “cometerem blasfémias e sacrilégios”, disse Bux a Edward Pentin, do National Catholic Register.

No que diz respeito à Eucaristia, os luteranos têm uma fé fundamentalmente diferente dos católicos, que acreditam que, durante a consagração na missa, o pão torna-se no corpo e no sangue de Jesus Cristo, ainda que mantenha aspeto de pão. Os luteranos acreditam numa presença efémera – em que Cristo está presente no pão durante o serviço religioso e, fora deste, volta a ser apenas pão normal.

Na opinião do ex-sacerdote anglicano, agora católico, Pe. Dwight Longenecker, a abordagem do Papa Francisco à uma comemoração conjunta da Reforma é parcialmente baseada numa compreensão “ingénua” do diálogo teológico entre luteranos e católicos. O Pe. Longenecker considera esta declaração do Papa Francisco sobre Martinho Lutero problemática: “Hoje, luteranos e católicos, protestantes e todos, estamos de acordo sobre a doutrina da justificação. Sobre este ponto tão importante ele não errou.”

O Papa Francisco obtém o seu entusiasmo para este acordo numa Declaração Conjunta entre Católicos e Luteranos sobre a Doutrina da Justificação. No entanto, o Pe. Longenecker relembra que o Vaticano emitiu um detalhado documento de esclarecimento oficial em que o Papa Bento XVI (quando era ainda o Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé) mostrou que não havia um consenso entre católicos e luteranos acerca do entendimento da doutrina sobre a justificação. “O nível de concordância é alto, mas ainda não nos permite afirmar que todas as diferenças que separam os católicos e os luteranos na doutrina sobre a justificação são simplesmente uma questão de ênfase ou linguagem”, estabelece o documento. “Algumas dessas diferenças dizem respeito a aspetos de substância e, portanto, não são mutuamente compatíveis”.

A edição original deste texto foi publicada pelo LifeSiteNews a 5 de janeiro de 2017. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do artigo acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original.

Basto 1/2017