Carta do Sínodo ao Povo de Deus (1) – Hermenêutica da teologia da libertação já condenada pela Igreja

O Papa Francisco cita-se a si próprio…

Fonte: youtube.com/@padrejosejacintodefarias, em 29/10/2023.

‘Laudate Deum’ e o eclipse da Igreja

Por DC Rosary Rally

O que fazer com a última exortação apostólica do Papa Francisco, Laudate Deum? Tal como outras encíclicas de Francisco, é dificilmente reconhecível como um documento católico. A parte central da carta aborda os “progressos e fracassos” de várias “conferências sobre o clima” realizadas nas últimas décadas. Dedica uma secção inteira a um vago prognóstico sobre uma próxima conferência no Dubai.

Como esta descrição sugere, Laudate Deum é obstinadamente materialista e carece de qualquer foco sobrenatural. Os seus argumentos políticos são ingénuos, abstratos e contraditórios. Apoia uma coligação global de “ativistas” que exercerão “pressão” sobre os governos nacionais ao serviço de um governo mundial único. Esse governo mundial secular terá “autoridade real” para punir aqueles que o desafiam. No espírito de “hagan lio”Laudate Deum parece então defender o ativismo climático espalhafatoso do tipo que bloqueia estradas públicas e desfigura obras de arte. Em última análise, as suas recomendações políticas serão ignoradas, porque não são úteis ou esclarecedoras.  

Sem o mínimo de ironia, Francisco dá força à indecente frase satírica do político americano Rahm Emanuel: “Nunca deixes que uma crise seja desperdiçada”. Diz Francisco: “É lamentável que as crises globais sejam desperdiçadas, quando poderiam ser ocasião para introduzir mudanças salutares. Assim sucedeu na crise financeira de 2007-2008 e voltou a acontecer na crise da pandemia Covid-19.” Seria grosseiro para um político falar deste modo, quanto mais um Papa. E a implicação destas palavras é ainda mais sinistra: que as tácticas autoritárias que surgiram face a ambas as crises pudessem utilmente ser prolongadas para o futuro e não apenas desta vez ao serviço dos objetivos climáticos globais. 

Da mesma forma, a Laudate Deum rejeita os “esforços de adaptação” e as “novas intervenções técnicas” para mitigar as questões climáticas como formas de “pragmatismo homicida”, uma expressão exagerada, infeliz e inútil ao serviço de um pessimismo irrealista e não científico.

Laudate Deum tem um tom decididamente populista e antiamericano. Elogia os pobres e o Terceiro Mundo e denuncia “o modelo ocidental”. Na verdade, na sua pressa em condenar os americanos, contém um erro matemático embaraçoso. Afirma que “as emissões por indivíduo nos Estados Unidos são cerca de duas vezes maiores do que as dos indivíduos que vivem na China”. Mas o documento que cita mostra que as emissões per capita dos americanos são apenas 43% superiores às dos chineses.

Grandiosamente, a carta é dirigida a “todas as pessoas de boa vontade”. Na parte que fala de “motivações espirituais” para o ativismo político que ele deseja que as pessoas empreendam, Francisco tem o cuidado de se dirigir não apenas aos “fiéis católicos”, mas também aos “meus irmãos e irmãs de outras religiões”. A encíclica não cita nenhum papa anterior, a não ser um discurso de Paulo VI em 1970, no entanto, as poucas pessoas que leem a Laudate Deum serão provavelmente católicas. Reconhecendo isto, Francisco ainda teve tempo para atacar os seus colegas católicos, condenando “certas opiniões desdenhosas e pouco razoáveis ​​que encontro, mesmo dentro da Igreja Católica”. (O comentador da Internet Tony Annett especula que se trata de um golpe contra o falecido Cardeal D. George Pell, que Annett afirma “ter sido um dos principais negacionistas das alterações climáticas”.)

Isso conduz-nos a um ponto final. Alguns condenaram a Laudate Deum por reposicionar a Igreja como uma ONG. Mas a verdade é bem pior que isso. Um papa anterior, sinceramente animado pelas questões climáticas, teria identificado uma base de preocupação distintamente católica. Teria então mobilizado as próprias instituições da Igreja, bispos, padres e leigos para enfrentar as alterações climáticas. Mas a Laudate Deum é tão obstinadamente secular, populista e globalista que nem sequer consegue imaginar a Igreja a fazer a diferença. Sabemos que Cristo criou a sua Igreja para salvar almas. Mas Francisco vê as agências da ONU, as conferências climáticas e os ativistas seculares como os agentes que irão “evitar um aumento de uma décima de grau na temperatura global” – e não a Igreja. Pessoas individuais “de fé” podem ter “motivações espirituais” para participar neste movimento climático multicultural e multinacional, mas à própria Igreja não é atribuído nenhum papel diferenciado na redução das emissões globais. Em vez disso, a mudança virá “de decisões políticas importantes a nível nacional e internacional” e será imposta por um governo mundial com autoridade coerciva.

Em última análise, Laudate Deum sublinha o estado diminuído da Igreja e do papado sob Francisco – reduzido a observar, prognosticar e criticar, em vez de abençoar, curar ou salvar.

Fonte: rorate-caeli.blogspot.com, 9 de outubro de 2023 (tradução nossa).