Mons. Georg Gänswein: carta apostólica de Francisco partiu o coração de Bento XVI

Numa entrevista recente, conduzida por Guido Horst para o semanário católico alemão Die Tagespost, o arcebispo D. Georg Gänswein, secretário pessoal do Papa Bento XVI, afirma que a publicação do motu proprio “Traditionis custodes” pelo Papa Francisco deve ter partido o coração a Bento XVI.

Um dos grandes legados de Bento XVI foi ter harmonizado institucionalmente as duas formas do Rito Romano, com o seu motu proprio “Summorum Pontificum”, em 2007, através do qual restabeleceu o Usus Antiquior de celebração da Santa Missa, sem anular o Novus Ordo, generalizado na Igreja Católica Latina depois do Concílio Vaticano II. Dessa forma sábia e inspirada por Deus, o Santo Padre Bento XVI conseguiu reunir as ovelhas que, de uma forma ou de outra, se dispersaram após a introdução das alterações litúrgicas pós-conciliares.

O Papa Francisco, conhecido por participar em diversões e aberrações litúrgicas antes de chegar a Roma, resolveu destruir a harmonia estabelecida por Bento XVI, abolindo praticamente o Usus Antiquior de celebração da Santa Missa, através da publicação do seu motu proprio “Traditionis custodes”, em 2021.

Não terá sido isso um dos “tiros e setas” da visão do Terceiro Segredo de Fátima?

O “Papa Emérito” sobre a Amoris Laetitia: um devastador “sem comentários”

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Por Christopher A. Ferrara

Desde a misteriosa abdicação de Bento XVI do trono papal – para a qual os fiéis receberam explicações momentâneas e insatisfatórias – ouvimos, por diversas vezes, do secretário pessoal de Bento XVI, D. Georg Gänswein, o quão “sereno” e “em paz” Bento XVI se mostra em relação à sua inédita decisão. Tão sereno e em paz, de acordo com Gänswein, que nem poderia preocupar-se menos com o tumulto bergogliano que dividiu a Igreja como nunca anteriormente – em relação a uma questão da lei moral tão básica como o Sexto Mandamento.

Como relata o impressionante Edward Pentin, em entrevista ao La Repubblica – a enésima tentativa de assegurar-nos de que não havia nada de errado com a abdicação de Bento XVI – Gänswein revela que Bento “recebeu pessoalmente de Francisco uma cópia da Amoris Laetitia [AL], branca e autografada” e que “Ele leu-a cuidadosamente, mas não comentou de forma alguma o conteúdo”.

Sem comentários? Essa resposta não poderia ser mais reveladora. Se o único Papa Emérito da história da Igreja – uma novidade que o próprio Bento inventou – não vai defender a ortodoxia da AL, a sua falta de vontade para o fazer não pode ser vista como outra coisa senão como um reconhecimento implícito de que o seu conteúdo, em particular o Capítulo 8, é indefensável. Caso contrário, porque não declararia simplesmente, o “Papa Emérito”, que o ensinamento do seu próprio sucessor é doutrinariamente correto? Resposta: ele não o declarará porque sabe que isso não seria honesto.

Em vez disso, como Bento XVI se retirou da cadeira de Pedro, retirou-se também do caos que se seguiu à sua abdicação. Como refere Pentin, Gänswein “disse que o ex-Papa está bem ciente dos contrastes [!] gerados entre ele e o Papa Francisco, mas não se deixa provocar por eles” e “não tem intenção de entrar em controvérsias que se sentem longe dele”.

Longe dele? Mas Bento XVI vive no que ele mesmo chamou o “recinto de São Pedro”, na sua última Audiência Geral, a 27 de fevereiro de 2013, dia anterior à sua renúncia ao “ministério de Bispo de Roma”. Assim, pelo menos de acordo com Gänswein, Bento não só renunciou ao papado, mas também renunciou a qualquer preocupação sobre o estado da Igreja dirigida por Francisco! Em vez disso, Gänswein tem o prazer de reportar (como Pentin sumarizou) que “o Papa Emérito continua a ver os noticiários televisivos às 20h, recebe o L’Osservatore Romano e o Avvenire, jornal dos bispos italianos, assim como os comunicados do Vaticano”.

Então, se acreditarmos em Gänswein, Bento XVI está mais interessado nos noticiários da noite do que no caos eclesial que o Papa Bergoglio provocou, que está “muito longe” dele, ainda que ele viva no Vaticano como vizinho de Bergoglio, que o usa para exibição pública em determinadas ocasiões.

Quanto a esse caos, Gänswein dirá apenas que “Certamente ele [Bento XVI] está atento à discussão e às diferentes formas em que tem sido implementada.” Diferentes formas? Temos agora uma situação em que o acesso à Sagrada Comunhão por pessoas envolvidas em relações sexuais adúlteras a que eles chamam “segundos casamentos” ainda é considerado um pecado mortal em algumas dioceses, no entanto é agora caracterizado como “misericórdia” em outras, inteiramente graças à AL . Mas como Gänswein diria, este desastre está “muito longe” do Papa Emérito, que no entanto permanece atento aos “noticiários noturnos às 20 horas”.

Eu não compro isso. Há algo muito suspeito nestas repetidas declarações sobre o que Bento XVI pensa e sente, enquanto o próprio Bento nunca fala diretamente ao público. Sinto o mesmo cheiro a esturro que envolve todo o evento da abdicação de Bento XVI. Ou melhor, cheira a enxofre.

Creio que não nos foi contada metade da história sobre o porquê de termos um Papa Emérito que abruptamente abandonou o seu gabinete apenas para ser sucedido por um Papa para quem o termo “Vigário de Cristo” parece – sejamos honestos – espetacularmente inadequado. Suspeito que a história completa seja encontrada na explicação da Virgem sobre a visão apocalíptica do “Bispo vestido de Branco”, uma explicação que existe de certeza e foi suprimida pelos mesmos cuja conduta o Terceiro Segredo provavelmente acusa.

A edição original deste texto foi publicada pelo Fatima Center no dia 13 de abril de 2017. Tradução: odogmadafe.wordpress.com

Nota da edição: o conteúdo do texto acima é da inteira responsabilidade do seu autor, salvo algum eventual erro de tradução. Sempre que possível, deve ser lido na sua edição original.

Basto 4/2017